Resenha de Felipe RAG

A ex-banda indie Arctic Monkeys lançou seu novo álbum, “The Car”, no mesmo dia em que outros artistas fizeram o mesmo. Se o “Midnight”, de Taylor Swift, e “A Paranormal Evening With The Moonflower Society”, de Avantasia, jogam na zona segura já conhecida pelos públicos da cantora e do grupo de metal, respectivamente, a banda inglesa inovou, fugindo da base e apostando em uma pegada mais melancólica.

Mas isso aqui não é, como você pensou, uma análise propriamente dita do álbum em si, até porque o redator ainda está na quarta música do álbum – de apenas 10. Se fosse para categorizar, diria que se trata mais de um apanhado de reflexões acontecendo dentro da cabeça do redator em tempo real do que de uma análise do lançamento; afinal, você provavelmente não pegou a segunda referência mencionada no parágrafo anterior, já que foi um lançamento que, em questões numéricas, não pode ser comparado no ocidente com Taylor Swift ou Arctic Monkeys.

Enfim. Enquanto a quinta música toca, mantenho a reflexão de serem “apenas” dez músicas. Diferente do que a banda apresentava no começo de sua carreira, a pegada mais melódica e até melancólica passeia por diferentes sentimentos, mas, ainda assim, é um álbum de dez músicas de tempo curto-médio, possuindo faixas entre 2:47 até 4:50. Com base no chutômetro, diria que a média fica em torno de 3:20 por música.

Como você talvez não conheça Avantasia, citada anteriormente, vou te contar um dos diferenciais do grupo em cima dos outros grupos de metal: além de ser um supergrupo, ou seja, ser composto por alguns vocalistas (apesar de ter um homem como linha de frente) e vários instrumentistas, Avantasia também possui músicas consideradas bem longas pela crítica. Seus álbuns, geralmente, começam com músicas de 10 a 13 minutos, possuindo uma média de 5 minutos por música ao longo de metade do álbum, intercalando com outras que flertam com os 10 minutos (margem de erro de 2 para mais e 2 para menos, segundo o instituto de pesquisa da minha cabeça).

Quando uma gravadora pediu um single do penúltimo álbum do supergrupo para ser liberado nas rádios, eles receberam “The Raven Child”: uma música de 13 minutos. O dono da gravadora, incrédulo, pediu uma música melhor, sendo então confrontado por Tobias Sammet, vocalista e líder do projeto: “Por que você quer uma menor?”. O diálogo que se sucedeu foi mais ou menos assim:

Gravadora: “Quero uma música menor para poder mandar para as rádios.”

Tobias Sammet: “Mas por que você não manda essa para as rádios?”

G: “Porque está grande demais.”

TS: “Mas não está boa?”

G: “Está.”

TS: “Então mande para as rádios.”

G: “Ok, realmente está muito boa, mas poderia ter 3 minutos.”

TS: “Sabe o que é melhor do que uma música boa de 3 minutos?”

G: “O que?”

TS: “Uma boa de 13.”

E a melhor parte é que esse diálogo realmente aconteceu e a birra de Tobias foi vitoriosa. “The Raven Child” foi para as rádios da Alemanha, Suécia e demais outros países onde o power metal faz sucesso e obteve, lá, bons números para o estilo musical. E a melhor parte é que essa receita de quanto maior, melhor (desde que a qualidade seja preservada) não é de hoje. Pink Floyd, que dispensa apresentações, tem um nível técnico indubitável e uma profunda penetração nas diversas camadas da sociedade. Como defender a gravadora, no caso de Tobias Sammet, se imaginarmos alguma gravadora do século passado virando para o Roger Waters e falando “então, seu Rogério, “Shine On You Crazy Diamond” não será aprovada porque possui 24 minutos. Apesar dos solos de sax, bateria, baixo, guitarra, teclado e todos os instrumentos, resultando numa inovação incrível e numa gama de sentimentos inenarrável, não poderá passar, pois a rádio Kiss FM não quer passar música acima de 4 minutos”.

Mantendo Pink Floyd na conversa, acabou agora a oitava música de “The Car”, do Arctic Monkeys, e, diferente do que você pensa, Pink Floyd não foi trazido para o texto para criticar o álbum recém lançado ou sua banda. “The Car” foi, até o momento atual (meio da nona música), um álbum que inovou ao ponto de trazer, em alguns instantes, a sensação de estarmos ouvindo Pink Floyd. Não sob a ótica majestosa da música da banda, mas em alguns momentos “There’d Better Be A Mirrorball” parece, por que não, a música “Pig”, tendo outros momentos que Arctic Monkeys se distancia de bandas como, por exemplo, Arctic Monkeys.

O que é bom, porque, convenhamos, as pessoas crescem e os estilos musicais também. A não ser que você pense sobre a música emo, porque nada mais gratificante de ouvir do que aquele bom e velho Fresno dos anos 2000, chorando ao ouvir “Cada poço dessa rua tem uma lágrima minha” ou “My tears don’t fall, they crash around me” do Bullet For My Valentine.

De resto, como foi prometido, isso não é uma análise sobre o álbum e sim reflexões soltas e perdidas dentro da cabeça do redator. Ouçam “The Car”, acabou a última música e preciso voltar ao trabalho.