A busca de Miles Elliot pela felicidade e pela satisfação por estar vivo não é diferente da minha ou da sua; assim como as dificuldades pela posse de sentido na vida e completitude. Miles é tão eu e você, quando rola o maior fator indignação para a falta de repercussão da série Cara x Cara, principalmente se levarmos em conta o contexto da pandemia do Covid-19.
O sentimento de Miles Elliot está no meio de nós: basta um momento de silêncio por dentro e escutamos o grande vazio ser escavado por dentro, como uma cova. Alguns, vão cobrir suas covas mudas com camadas de fé, de caráter. Camadas de sentido, tapando a angústia rasa, de um estado comum entre nós; o estado de busca.
Mais verdadeiramente, uma busca estática, por uma felicidade fluída, filmada e colorida enquanto se nos deparamos com selfs de da realidade calada, a qual também não fazemos nada para move-la.
Miles faz a vida parecer um problema sem sentido na sua própria existência, por quando questiona toda a frustração causada em sua esposa e no casal, na tentativa de engravidar; será mesmo correto colocar mais uma pessoa nessa existência desprezível?
Está muito na moda colocar a culpa na realidade externa, essa tendência vem do crescimento cada vez mais exponencial de uma comodidade com soluções rápidas e dopamina barata, por isso as pessoas se conformam com a tristeza e reclamam dela como se fossem vítimas sem nenhum poder em suas mãos. É questionável o quanto as pessoas realmente acreditam que a responsabilidade está mesmo no externo, ao meu ver esse pensamento vem de um acordo mútuo que elimina a culpa individual de cada um, entretanto a maioria sabe que cada um tem até certo ponto o poder de construir sua própria realidade.
É trágico ver a crença de que o futuro está imprescindivelmente fora de suas mãos; apesar de certa forma realmente não termos um controle sobre o mundo, temos sim controle sobre como reagimos a ele e isso já é suficiente para uma realização maior e muitas pessoas andam perdendo a chance de ser feliz por se confirmarem com a idéia mais confortável.
Miles Elliot é a perfeita representação do ser humano atual, viciado em soluções imediatas e dopamina fácil, ele opta por comprar a felicidade e um “SPA”.
Seu investimento é um grande fracasso e acaba trazendo mais um Miles Elliot para a Terra, o que é extremamente irônico visto que tudo começou com um um desespero e desejo de sumir. Apesar de o experimento não dar certo, o clone de Miles acaba por fim trazendo sim a grande solução para sua insatisfação, ao longo da série ele tem uma longa experiência de aprendizado sobre a vida.
Ao longo dos 8 episódios, a série retrata a jornada de Miles sobre o que realmente precisa ser feito para conseguir realização no dia a dia; agir com intenção para com nossas prioridades pessoais e lutar contra o egoísmo que todos temos.
Caso não seja já explícito para o espectador que Miles precisa fazer algo para conseguir a realização pessoal, a série não deixa o fator passar despercebido e deixa explicitamente representado por uma fala da irmã do protagonista que diz a ele que ele não mereceu a felicidade.
Miles percebe que precisa investir em seu casamento, ser um marido atencioso e realmente tentar cultivar o relacionamento, é necessário dar para receber e por isso Elliot promete à esposa que será a partir de então um esposo menos egoísta e mais carinhoso.
A vida é um grande investimento que infelizmente não é financeiro, e é preciso entregar nossa atenção e intenção pura para conquistarmos satisfação e realização pessoal.
A infelicidade de Miles com sua carreira, seu casamento, e com sua existência foram rapidamente solucionadas após ele ter o insight de que não gostaria que ninguém tomasse posse da vida que ele vivia, mesmo sendo a mesma que ele tanto despreza. Assim que Miles vê o clone conseguindo ser um melhor marido para sua esposa, um melhor empresário para sua empresa e um melhor ser humano para sua experiência na terra, Miles percebe que quer sim viver aquela vida; mas para fazer isso precisava agir de uma nova forma.
. Quando Miles percebe que não quer perder a sua vida para o clone, ele começa a valorizar ela e enxergar todas as coisas que podem ser trazidas de alegria e realização.
A série ensina como precisamos tirar o foco de nós mesmos e enxergar o mundo de forma mais coletiva, buscando nos conectar com quem está à nossa volta e dessa forma
trazer significado para a vida dos outros, oque consequentemente traz realização em nossa própria vida.
Trazendo à tona também o fator da gratidão que é imprescindível para qualquer tipo de paz interior, quando caímos no grande labirinto produzido pela sociedade e de sempre almejar o que não temos, acabamos sendo miseráveis e por isso precisamos enxergar o que já é belo em nossa realidade e assim cultivar o que já termos para poder também semear mais conquistas.
Não adianta reclamar sobre nossos problemas e não fazer nada para solucioná-los, por isso precisamos buscar por ajuda psicológica, psiquiátrica, de grupos de apoio e outros meios de apoio; mesmo ao procurar por essas ferramentas, o que realmente traz soluções sustentáveis é o investimento pessoal de cada um em melhorar, é preciso de muita garra e força para melhorar e apesar de difícil, é possível. Cada um enfrenta diferentes jornadas, algumas têm dificuldades como a de Miles, outras já batalham com questões médicas como a depressão, ansiedade, distúrbios e etc. Para isso existem fontes de apoio para auxílio, mas o que faz com que estas situações se tornem tão delicadas é o fator de responsabilidade que cada um tem, não importa o quanto de sertralina, fluoxetina, clonazepam, se o indivíduo não se comprometer com melhorar, é impossível uma solução. Precisamos lutar pois a vida é nossa e cada um merece amá-la.
Venho à finalizar o texto reconhecendo todas as pessoas que estejam enfrentando seus desafios e mesmo com tantas recaídas, acreditem no processo.
[16:38, 28/04/2023] ka: tem uma contextualização da série tb
[16:38, 28/04/2023] ka: Miles vai até o SPA e gasta toda sua poupança e de sua esposa no procedimento, tudo para no final haverem complicações.
O spa clona os clientes e cria um clone ideal, que sabe lidar com a vida da melhor forma possível e consegue sucesso em diversas áreas, enquanto isso a versão original do cliente é morta e enterrada na floresta. Mas para o azar ou sorte de Miles ele não morre e acaba se
desenterrando a floresta desesperada.
A série já começa com essa cena o que não poderia ser mais confuso e hilário ao mesmo tempo, e então toda a situação é contextualizada.
Os 8 episódios mostram o ódio do Miles verdadeiro por seu clone, mas também a indignação do homem de ver a imensa vontade do clone de viver a vida que Miles considerava tão ruim.
Além de ser engraçada a série tem momentos bonitos e reflexivos e mostra que a vida é uma caminhada e não um ponto de chegada.
Vou parar de filosofar aqui, mas é que realmente é muito foda ver como todo esse experimento, apesar de ter sido um puta gasto financeiro e uma série de problemas, trouxe no final oque Miles pecisava para ser feliz, a gratidão.