O livro “Em outra vida, talvez?” da perfeita Taylor Jenkins Reid, autora de “Os Sete Maridos de Evelyn Hugo”, conta a história de Hannah, uma jovem que está um pouco perdida na vida e acaba voltando para sua cidade natal para se redescobrir. Em sua primeira noite lá, ela sai com sua melhor amiga e acaba encontrando seu ex, um grande amor de ensino médio. Nesse bar, ela se vê tendo que tomar uma decisão.

A história se desenvolve com duas vidas possíveis para a protagonista, dependendo de sua escolha no bar. Uma de suas vidas ocorre se ela escolher ficar no bar com seu ex e se aproximar mais dele, e a outra, se ela escolher sair do bar com sua melhor amiga, para ir mais devagar nessa possível relação com ele. Os capítulos da história intercalam essas duas vidas, mostrando como essa simples escolha afeta tanto sua própria vida, como a vida de todos ao seu redor.

Isso remete a muitas reflexões sobre a Teoria do Caos, uma teoria física e matemática que consiste na ideia de que pequenas mudanças, pequenos feitos, têm um impacto enorme e imprevisível em certos eventos. A partir dos estudos dessa teoria, foi criado o conceito de Efeito Borboleta, que diz que um bater de asas de uma borboleta no Brasil poderia causar um tornado nos Estados Unidos. Cada decisão que tomamos, cada sim, cada não, cada rua que escolhemos atravessar, tem um impacto tanto na nossa vida, como na de outras pessoas. Quem nunca pensou, “nossa se eu não tivesse naquele lugar, naquele momento, eu nunca teria conhecido certa pessoa, ou nunca teria vivido tudo isso”?

Diferente da ideia de que tudo que fazemos já está escrito e decidido, a Teoria do Caos nos traz desespero. Se cada decisão que tomamos tem um impacto tão grande em tudo, até aquilo que julgamos insignificante acaba sendo de extrema importância. Tanto a Teoria do Caos quanto o desespero que ela traz são abordados na série norte americana Community, uma série genial, que merece um texto inteiro só para ela inclusive. O quarto episódio da terceira temporada da série, que se chama “Remedial Chaos Theory”, mostra o dia em que os personagens se reúnem na casa de Troy e Abed para comer pizza e um dos personagens decide jogar um dado para decidir quem irá descer para buscar o delivery. 

Nesse momento, sete linhas do tempo diferentes são criadas, uma para cada resultado do dado, e a sétima linha do tempo, em que Abed pega o dado antes de cair, e explica como é perigoso jogar o dado para algo assim, e conta sobre a Teoria do Caos. Em cada uma dessas realidades mostradas no episódio, coisas absurdas acontecem como resultado de certa pessoa ter saído do apartamento, desde um novo romance na série, até “The Darkest Timeline”, em que um dos personagens leva um tiro e o apartamento pega fogo. Esse episódio é considerado um dos melhores da série e ganhou diversos prêmios por sua genialidade. Entretanto, acredito que o mais importante é entender a falta de controle que temos sobre a situação. Quem montou a linha do tempo foi o dado e o impacto que cada personagem tem no resto do grupo, então apesar de sentirmos medo e pressão pela importância de cada decisão, também devemos entender que caos e felicidade aconteceram independentemente do que escolhemos. Que culpa temos se, ao decidir atravessar a rua a cinco metros antes do que normalmente atravessamos, uma nova guerra se inicie no país vizinho?

Assim, entendemos que, seja a decisão passar ou não a noite com o seu ex (embora a resposta para isso deva quase sempre ser não), ou descer para buscar a pizza, tudo que decidimos tem consequências. É necessário pensarmos antes de agir, mas pensar em tudo, sempre, sem parar, pode enlouquecer qualquer um, então só jogue o dado e receba o caos.