Druk – Mais uma Rodada, é um filme dinamarquês do ano de 2020 que vai concorrer ao Oscar na categoria de Melhor Filme Estrangeiro.

Por se tratar de um filme nórdico, o espectador vai assistir o longa com uma grande esperança de que o clichê seja deixado de lado e seja retratado situações inusitadas. Tanto na Noruega quanto nos outros países da região, existe uma cultura por trás do consumo de bebidas alcoólicas; esta cultura está totalmente vinculada aos Vikings, um povo que habitava a Escandinávia em um período que abrange os anos de 793 d.C. a 1066 d.C.

Os Vikings são conhecidos por terem organizado várias expedições marítimas por todo mundo, pela sua religião politeísta, por suas árduas batalhas e ainda por beberem hidromel. Assim, é visto que a apreciação por bebidas alcoólicas nos países escandinavos é muito antiga.

Quando o projeto de Druk foi anunciado, era esperado que esta cultura fosse retratada mais arduamente, e não caísse na moralidade hollywoodiana, que infelizmente é o que ocorre na obra.

O filme retrata a vida de quatro amigos professores que dão aulas em uma escola em comum: Martin (Mads Mikkelsen) dá aula de história e é o protagonista do longa, Tommy (Thomas Bo Larsen) é professor de educação física, Nikolaj (Magnus Millang) é professor da matéria de psicologia e Peter (Lars Ranthe) é professor de música.

Certo dia, os quatro professores já frustrados com seus desempenhos em sala de aula e o desinteresse de seus alunos por suas matérias, saem para comemorar o aniversário de Nikolaj em um restaurante. Certo momento da noite, eles começam a refletir sobre as mudanças da vida, como suas respectivas lembranças de quando eram jovens, e relacionam até o momento de começarem a dar aulas. Percebem então, o quão entediados e desinteressantes se transformaram, tanto em quesitos profissionais quanto pessoais.

Em certo momento do jantar, é introduzido uma teoria de um filósofo norueguês que tem uma tese que o ser humano nasce com 0,50% a menos de álcool no sangue. Graças a isso, é gerado uma menor eficácia em vários aspectos, como a desenvoltura pessoal.

Então como já esperado, o protagonista decide testar essa tese e comunica seus colegas. Começando a beber no trabalho, Martin espera atingir a taxa desejável em seu sangue. O primeiro efeito visível depois de beber vodca e aproximar-se do nível esperado, é uma fala enrolada e uma pequena confusão com as palavras.

Mesmo parecendo arriscado e antiético, o estudo começa a dar frutos, tanto na vida pessoal quanto na profissional. Seus relacionamentos melhoram e suas aulas ficam mais dinâmicas.

É nesse exato momento que o espectador fica animado e pensa: – “Beleza, agora as coisas vão começar a ficar mais interessantes”. Porém, o filme esfria novamente e não existe um aprofundamento nos ganhos por trás do estudo.

Mesmo com uma baixa exploração do potencial da mensagem do filme, que é como as bebidas alcoólicas podem ser uma ferramenta para quebrar o gelo em algumas situações e até mesmo uma forma de se tornar mais comunicativo e expressivo, é gerado uma reflexão não especificamente nos personagens, mas também nos espectadores.

Isto ocorre, por que, na sociedade em geral, existe a presença fortificada de certos tabus sociais, que tem o potencial de nos ajudar em diversos aspectos. As bebidas alcoólicas, por exemplo, podem colaborar para ficarmos extrovertidos e deixarmos a vergonha de lado. Porém, não são feitos estudos sobre seus ganhos sociais e acaba-se pensando que esta ferramenta nada convencional, serve apenas para momentos de celebração e lazer.

Voltando para o desenrolar do filme, os quatro professores percebem o quão melhores estão em diversos aspectos, e assim decidem ir além. Começam a beber mais, para atingir mais de 1% de álcool desejado no sangue. Quanto mais bebem mais ganhos surgem.

Como já é convencional dos roteiros, depois de uma maré tranquila, vêm uma tempestade, e tragédias começam a acontecer.

Mais uma vez o filme perde uma grande oportunidade, de aprofundar em tabus, como o luto e a luta para largar vícios. Neste momento, poderia ter sido vinculada a cultura do país de origem com tais temas, trazendo uma verdadeira salada cultural. Mas isto não é feito, e é realizada uma retratação medíocre, que se perde no moralismo, e mostra que mesmo tragédias possuem um final feliz. Algo que é apenas um flerte da ficção, e não ocorre na vida real.

Para finalizar este texto, que aborda um grande tabu social presente na vida de todas as pessoas de forma positiva ou negativa, é imprescindível entender que a sociedade impõe pressões na vida de diversas pessoas, sendo que geralmente são nestes momentos que os medos vêm a tona. Assim, é sempre viável buscar novas formas de desconstrução, porém é essencial dizer que as bebidas alcóolicas possuem diversos ganhos positivos, mas também grandes perigos, como apontados no próprio filme.

Utilizo das palavras, para retratar meus sentimentos e gostos mais profundos.