Após um hiato de 4 anos, Arctic Monkeys lançaram seu novo álbum. Muitos fãs nem sabem sobre seu último álbum, “Tranquility Base Hotel & Casino”, de 2018, guardando vívido em sua memória os AM de “AM” (2013), seu álbum de maior sucesso, vigoroso e pulsante. Pois bem, os AM envelheceram.

E isso é ruim?

Há 9 anos, “AM” trazia o vigor e o frio na barriga de uma noite de aventura, o sentimento daquele momento em que você não se lembra do início da noite e muito menos imagina seu final. Exciting. AM tanto representou uma década como até ficou datado.

Eu jurava que haviam parado.

Eis que voltam. Lentos, melancólicos, com menos guitarras e com apoio de orquestra. Isso resume tudo.

Sempre gostei de Jethro Tull. Banda de rock progressivo, porém com mais guitarra que teclado. YES, seu vocal agudo e teclado, nunca fizeram minha cabeça, mas Jethro era jovem e vigoroso como suas guitarras. Vi ótimos shows ao vivo, com Ian Anderson saltando no palco tocando flauta, endiabrado como um fauno, criatura mitológica dionisíaca, guiada pelo prazer e pela paixão.

Um dia, tempo passou e fui ver a banda. Ian estava mais velho, tocando arqueado e acompanhado por uma orquestra. Ao invés de pulos, apenas dobrava sua perna. O fauno havia envelhecido e estava menos lascivo. Metallica e Sepultura também têm tocado acompanhados por orquestra. Encaremos: envelheceram.

Essa digressão tem apenas como objetivo resumir que o formato acústico e, mais ainda, a presença de orquestra, apenas sinalizam para o amadurecimento (envelhecimento?) de um artista/banda.

The Car é ruim? Não. É ótimo!

Perfeito para o Eric de 40.

“There´d be better be a Mirrorball”, que abre o álbum, é o Black Star dos AM. Melancólica, lenta, a típica música pós intervalo de um show (ou pior: de encerramento melancólico) é tão bonita quanto diferente dos baderneiros Monkeys de AM.

“I Ain´t Quite Where I Think I Am” também flerta com Bowie. Não o Bowie festivo dos 70/80. O maduro. Mais animada, mas não te convida a dançar ou a se aproximar de um potencial crush.

“Sculptures of Anything Goes” começa com graves. “Do You wannna know?”. Parece mas não é. Parece existir para dar uma degustação de um AM conhecido para seu público cativo.

“Jet Skis on The Moat” e “Body Paint” parecem música de clube. Despretensiosas, resumem muito o mood da banda, de um encontro com poucos e bons amigos. Teclado, violino.

“The Cars”, “Big Ideas”, meio Tom Waits (!?). Os hot guys de vinte anos atrás se casaram e estão tranquilões.

Tem mais 3 músicas. Todas no mesmo tom.

O álbum está bonito e maduro. Guitarras deram lugar ao teclado. Nada apropriado para shows em grandes estádios, mas todos sabemos (ao menos os mais velhos) que os melhores shows acontecem nos menores palcos.

Afinal, amadurecer é tocar para plateias menores. E saborear.