Hannah Montana, Feiticeiros de Waverly Place e iCarly são apenas alguns dos shows que marcaram a minha, e, muito provavelmente, a sua infância. Quando pensamos sobre as mídias que consumimos desde criança, podemos ver que a grande maioria é produzida e gravada internacionalmente, o que não percebiamos na época por motivos óbvios de dublagem e até mesmo pela nossa mínima noção geográfica. Porém, acredito que não percebemos o quanto uma série baseada em culturas de outros países afeta a percepcao sobre nossa própria.
Uma das primeiras memórias que consigo relacionar a esse tema é quando assistia a um show chamado “Charlie e Lola”, um desenho para crianças que passava no Discovery Kids, e tinha uma espécie de leite rosa que a personagem principal amava, e óbvio, que uma pequena Isabela também queria provar. Resultado: fiz minha mãe e minha vó irem de mercado em mercado para procurar o bendito Nesquick para me fazer o leite rosa, que acabou estragando porque eu não tomava.
Já um pouco mais velha, minha ansiedade pelo ensino médio ia aumentando cada vez mais, porém, eu esperava a experiência high school: armários nos corredores, as meninas populares que faziam bullying, futebol americano e líderes de torcida, ônibus amarelos, etc. De tudo isso, a única coisa que experienciei foi o armário, que, de jeito algum, era grande e decorado como o de Sharpay Evans.
Nunca tinha parado para pensar (até uns dias atrás, pelo menos) como durante meu crescimento eu fui decepcionada múltiplas vezes por expectativas impostas por acidente na minha mente em formação. Foi um choque para mim quando soube que nunca experientaria um baile de final de ano, e nunca teria a chance de concorrer a rainha de tal; ou passar o verão inteiro em um acampamento de férias, o que nunca poderia ser feito por causa de como nosso ano letivo é dividido. Ou até mesmo que nunca passaria um Natal com neve como visto nos filmes, até mesmo porque o calor de 40 graus nunca deixaria um boneco de neve em pé.
Imaginar que você nunca terá uma experiência de ser um adolescente americano é algo marcante na vida de muitos que cresceram com filmes como High School Musical e Garotas Malvadas, porém é logo substituído conforme vamos crescendo.
Eu amei minha adolescência, tirando o primeiro ano dela ter sido na pandemia, óbvio. Eu fui a festas, tive meu coração quebrado, passei por trotes, confusões e criei memórias com pessoas incríveis que nunca vou esquecer… Mas, as vezes, penso como seria se eu tivesse tido as experiências as quais assisti e sonhei, como ir dirigindo para a escola e depois ir para house parties como as de As Vantagens de Ser Invisível. Por outro lado, também penso como seria se eu tivesse tido acesso a mídias sobre a adolescência no Brasil quando era menor, tipo, como será que seria um filme de uma adolescente brasileira estereotipada que faria com que americanos quisessem ter a experiência latina do ensino médio?
Percebo que esse sentimento de americanização me segue até hoje, sendo universitária. De acordo com amigas americanas, festas de fraternidades não são tudo isso que vemos em filmes e livros. Mas como poderíamos saber? Nunca vamos presenciar uma festa em uma casa perto de nosso campus, cheia de barris de cerveja e copos vermelhos espalhados, com pessoas gritando porque ganharam um jogo de futebol americano ou hockey, ou, até mesmo, o ocasional beer pong.
No final, a culpa sempre vai ser da indústria do entretenimento de se fechar a Hollywood, quase sempre mostrada de um jeito esteriotipado e raso na maioria de suas produções. Nosso país não incentiva cineastas a contarem suas histórias; afinal qual é o ponto? Os filmes não recebem apoio nacional por efeito da hipnotização feita pelas produções americanas, acreditando que nada “realmente bom” pode ser criado por um de nós, o que é claramente mentira levando em grande consideração nossos atores, diretores e roteiristas extremamente talentosos que mostram tal em telenovelas.
Espero muito que, um dia, adolescentes brasileiros cresçam com obras feitas por pessoas de seu próprio país, com comidas e eventos de seu próprio país e com as experiências que realmente puderam viver, sem serem extremamente decepcionadas por expectativas impostas por tradições de outra cultura e país, assim trazendo reconhecimento por talentos e vidas nacionais.