A música no período dos anos 70 e 80 no Brasil possuiu diversos estilos musicais, porém dois se destacaram e são reconhecidos como o retrato dessas duas décadas: a Música Popular Brasileira (MPB) e o Rock Nacional.

Estes dois estilos possuíram diversos intérpretes, dominaram festivais e produziram músicas imortais, porém sua maior semelhança é a mensagem que quiseram passar: o confronto contra os disciplinadores.

Todo o período dos anos 70 e 80 pode ser relacionado com o pensamento do filósofo francês Foucault, que aborda em suas obras o conceito de sociedade de controle. Essa sociedade de controle exerce seu poder através de três pilares: o julgamento, o medo e a destruição.

No Brasil entre os anos de 1964 e 1985, esses pilares fizeram com que existisse uma das maiores manchas da história nacional e mundial: a época da Ditadura Militar. Esse regime foi responsável por mais de 500 mortos e desaparecidos no país, segundo dados do Instituto CNV Brasil.

Nesse período, a MPB surge como um estilo que buscava uma nova expressão para representar o Brasil, um projeto de país idealizado no qual sua cultura fosse valorizada. Com resquícios da Bossa Nova (1959) e do Tropicalismo (1968), este estilo recriou toda a noção de cultura nacional.

Mesmo sendo considerada um estilo musical para pessoas mais “refinadas”, ganhou as rádios e as ruas da época, graças à qualidade dos intérpretes da época, como Chico Buarque, Jorge Bem Jor, Milton Nascimento, Tom Jobim e claro, a rainha da MPB, Elis Regina.

Mesmo sendo tão queridos pelo público, esses artistas não conseguiram fugir dos olhares desconfiados dos militares, já que vários deles tiveram de se tornar refugiados políticos, como Caetano e Gil que ficaram quase um ano presos em Salvador-BA, por serem acusados de terem desrespeitado o hino e a bandeira do Brasil. Logo que soltos, tiveram de deixar o país e foram para a Europa, permanecendo por anos no velho continente.

Outro fato que mostra como era ser artista à época foi o momento no qual Elis Regina deu uma entrevista em uma rádio e fez o seguinte comentário: “Esse país está sendo governado por gorilas. Quer dizer, sem querer ofender os gorilas, obviamente, pelo amor de Deus”. Este comentário de protesto fez com que militares levassem a cantora para interrogatório e a obrigaram através da perspectiva do medo que cantasse nas Olímpiadas do Exército.

As canções da época não podiam ter uma crítica explícita ao regime, pois a cada dia pessoas eram mortas e desapareciam sem deixar resquícios; por vezes iam dar depoimentos à polícia e nunca mais eram vistas.

Assim, uma das canções que mais representa essa crítica subliminar foi escrita por Geraldo Vandré: “Pra não dizer que não falei das flores” tem um dos versos mais representativos de todo período:

“Vem, vamos embora, que esperar não é saber
  Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.

A música fez com que Vandré tivesse que abandonar o país, fugindo das garras da Ditadura.

Saindo um pouco do espectro da MPB, vamos aos anos 80, na qual aconteceu uma reformulação no cenário musical, no qual o estilo que dominou o nosso querido país tropical foi o rock.

Os jovens dessa década podem ser definidos como filhos da ditadura, já que a maioria deles nasceu sob as asas do regime. Para muitas pessoas, foi uma década perdida em questões financeiras, mas foi o período no qual a democracia tomou as ruas através do movimento Diretas Já.

Alguns dos responsáveis por serem porta-vozes desse momento foram os artistas e bandas do rock nacional como Legião Urbana, Titãs e claro, Barão Vermelho, que mais tarde faria com que Frejat e Cazuza tivessem suas carreiras solos.

É impossível lembrar de Cazuza e não dar palco a um de seus maiores sucessos, “Ideologia”, que é o retrato da oposição e da indignação de uma sociedade cansada daqueles que os governam.

“Meus heróis
Morreram de overdose
Meus inimigos
Estão no poder
Ideologia

Eu quero uma para viver!”

Existem dois lugares específicos que fizeram com que o rock fosse reconhecido como o gênero musical da época: o espaço cultural Circo Voador e o maior festival da América Latina, localizado na cidade maravilhosa: o Rock in Rio se transformaria no quintal da música nacional e internacional, um marco do período.

Assim, tanto o rock quanto a MPB, surgiram como expressões de protesto, com o desejo de que dias melhores pairassem sobre o Brasil. Depois de anos lutando contra a Ditadura Militar, seu fim chegou; a democracia vigorou, ou pelo menos ainda tenta vigorar. Depois de trinta e seis anos do fim do regime, ainda existem cidadãos que se proclamam patriotas e pedem a instalação de um novo regime militar em nosso país. Eu, como um mero estudante de comunicação, só consigo entender esse desejo pensando que tais indivíduos, não estudaram a fundo a História ou apenas são negacionistas dos fatos. A Ditadura não é um sinônimo de disciplina, mas sim de controle, do fim da liberdade e de morte.

Enfim, a arte é o caminho e o medo é o precipício.

Utilizo das palavras, para retratar meus sentimentos e gostos mais profundos.