Há mais de um ano o mundo recebeu a dolorosa notícia do óbito de um dos maiores artistas que já pisaram na Terra. É difícil encontrar alguém que não tenha sido impactado por Bowie, sua influência é imensurável. O Camaleão do Rock rapidamente se tornou um ícone pop mundial, com suas performances únicas, participações em Labyrinth (1986) e Merry Christmas Mr. Lawrence (1983), os diferentes figurinos, maquiagens, visuais e claro, pela diversidade musical. Dentro da sua extensa discografia, destaca-se (além da maravilhosa fase como Ziggy Stardust) a Trilogia de Berlin.

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Composta respectivamente pelos discos Low (1977), Heroes (1977) e Lodger (1979) e produzidos por Tony Visconti (T. Rex, The Moody Blues) e Brian Eno (U2, Talking Heads), os álbuns são influenciados principalmente pela música eletrônica que engatinhava no cenário underground da cidade dividida. Fugindo da fama e do vício em cocaína que o sufocavam, Bowie se deparou com os sons minimalistas de Eno e com grupos de eletrônica como Neu! e Kraftwerk, sendo estes as maiores inspirações para o músico e “o futuro da música”, segundo o próprio.

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Afunilando um pouco mais, é difícil não destacar o álbum do meio e sua faixa-título. Um dos maiores e mais sinceros desabafos da música veio nos seis minutos e dez de ‘Heroes’: a canção narra a triste história do casal que nunca ficará junto pelos padrões (e muros!) autoritários impostos, mas que podem se entregar um ao outro por um dia. Assim como é natural que golfinhos possam nadar, os amantes deveriam se amar. Cada verso mostra como a vontade de concretizar o amor proibido é maior do que a repressão vinda do “outro lado” e mesmo que nada os ajude, os poucos dias e momentos juntos são suficientes para transformá-los em heróis.

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Além da história Orwelliana de amor, outro presente que o disco carrega é a guitarra de Robert Fripp. O músico, já conhecido pelo trabalho excepcional na banda de rock progressivo King Crimson, casou perfeitamente com a proposta do álbum no que tange a diversificação e experimentalismo musical. Andrew Belew, também conhecido pela participação no King Crimson e enorme abrangência instrumental, participou da fase de Bowie em Berlin, fazendo papel semelhante à Fripp no Lodger.

Tocados pelo aniversário de 40 anos de ‘Heroes’, os veteranos do rock progressivo prestaram uma homenagem encantadora ao liberar um vídeo da banda apresentando a faixa-título em Berlin (olha só!) e ao anunciar um EP para a comemoração com o mesmo título.

 

Crítico mirim, desenhista amador, escritor júnior e futuro diretor (se tudo der certo).