Todo mundo já conhece o formato clássico das rom-coms: o cara triste e deprimido que percebe que falta alguém na vida dele para completar o vazio, e a mocinha engraçadinha salvadora que aparece e resolve todos os problemas dele depois que se apaixonam. Ao dar o play no filme “Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças”, você vê todos os indícios de que vai ser mais um filme de comédia romântica. Logo, somos introduzidos a Joel, um homem que parece triste e sozinho e em busca de algo que motive ele a ter uma vida melhor.

Conforme o filme passa, chega a tão esperada cena: o “meet-cute”. Nessa cena, Joel, depois de desistir de ir para o seu trabalho para ir pegar outro trem por impulso, encontra Clementine. Tudo nos leva a crer que esse é o momento que Joel finalmente conheceu o amor de sua vida e que todos os seus problemas se resolveram. Entretanto, a partir dos 20 minutos de filme, o longa se mostra mais do que todos estavam esperando, criando uma grande quebra de expectativa com o clássico gênero de comédias românticas.

Com essa quebra, descobrimos que Joel não havia conhecido o amor de sua vida por um impulso e um acaso como acontece em comédias românticas. É revelado que os dois já se conheciam e estavam em uma relação há dois anos. A partir daí, o modo que vemos o filme muda completamente.

O diretor Charlie Kaufman, então, usa as convenções de comédias românticas para criar expectativas que são viradas de cabeça para baixo. Assim como nas rom-coms em que os personagens sentem falta de algo que tenha um grande impacto em suas vidas, Joel também está em busca disso. Entretanto, ele não está em busca de alguém que torne sua vida interessante, mas sim querendo manter suas memórias e viver com uma pessoa que torna a vida diferente. Portanto, não vemos o começo de um romance, já que, nesse caso, ele já está morto.

A cinematografia colabora para o efeito desejado. Do começo, já é possível perceber que a história não teria um rumo linear devido ao storytelling caótico e bem pensado. As imagens também são muito simbólicas. Na cena em que Joel se apoia em Clementine em cima do gelo rachado, pode-se ver uma simbologia de suas memórias relacionadas a moça,  que estão afundando não importa o quanto ele tente mantê-las. Além disso, no início do filme, o enquadramento das cenas é amplo, mostrando lugares que, depois, seriam importantes para o resto do filme e dando a impressão de que ele é um homem triste e solitário, mas não pelo motivo antes acreditado, mas sim pela sua memória defeituosa.

O Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, portanto, tem seus motivos para ser tão bem reconhecido por todos. Assim como Joel, as pessoas ficam confusas e engajadas para descobrir o que será do personagem e qual será o caminho que o longa seguirá depois do plot twist. A genialidade com que é feita a transição de gênero e a quebra de expectativa para os expectadores deve, com certeza, ser apreciada.