Estava assistindo ao terceiro episódio da sexta e última temporada de Bojack Horseman, quando me deparei com uma das maiores lições que tive nos últimos anos, expressa da maneira mais simples possível.
No episódio, Diane está na casa de seu namorado em Chicago, sem saber se vai continuar com ele ou voltar para Los Angeles, onde ela mora. Eles passam o episódio inteiro por bons e maus momentos, sempre com o futuro do relacionamento na balança.
No final, seu namorado compra um casaco para ela, uma vez que ela veio de LA e não está acostumada com o tempo frio da cidade. Diane entende isso como uma forma dele perguntar a ela se deseja morar com ele, já que o casaco não será útil para ela na Califórnia, e começa a surtar e questioná-lo sobre suas intenções com o presente. Para isso, seu namorado simplesmente responde “sometimes a coat is just a coat” que traduzido significa: às vezes um casaco é apenas um casaco. Ela está tão preocupada e nervosa com as decisões e pressões que colocou em si mesma que procura mil significados em algo que não tem significado nenhum, é apenas um casaco para aquecê-la durante a viagem, já que ela não levou um.
Essa preocupação excessiva e muitas vezes causada por algo simples é conhecida como overthinking (pensar demais; overdose de pensamentos). Quando pensamos muito sobre um assunto, deixando que esse pensamento, esse medo, nos paralise frente a uma atitude, acabamos enlouquecendo. Isso é evidenciado em diversos livros e filmes como um problema explícito dos protagonistas, como em A Elegância do Ouriço, de Muriel Barbery, Otelo, de Shakespeare, entre outros.
No livro A Elegância Do Ouriço, uma das protagonistas é uma concierge de um prédio de alto padrão na França; por trás de sua bruta aparência e comportamento ignorante, ela esconde um intelecto inimaginável. Ao longo do livro, ela cria diversas paranóias a respeito dos moradores, acreditando que alguns deles estão perto de descobrir sua inteligência. Isso estraga seus dias e faz com que ela acabe afastando pessoas que podem realmente se tornarem amigas dela (apesar da grande maioria dos moradores ser mais burro que uma porta).
Além disso, temos a obra que mais demonstra os resultados de overthinking: Otelo. O mouro de Veneza é extremamente famoso por seus ciúmes sem fundamentos, que deram nome inclusive à Síndrome de Otelo: uma condição em que a pessoa possui pensamentos ciumentos em níveis delirantes e paranóicos. Otelo analisa situações cotidianas como se fossem todas partes de um plano de sua esposa para traí-lo. desculpe-me se você nunca leu esse livro, mas ao fim do clássico, delirando em ciúmes Otelo mata sua esposa e acaba tirando a própria vida ao perceber que tudo não passava de uma criação da sua cabeça. Ambos os livros mostram como quando pensamos demais sobre alguma coisa, perdemos noção da realidade e da verdade, passando a delirar e prejudicar tanto a nossa vida, quanto a daqueles ao nosso redor.
Vivemos em uma sociedade em que tudo funciona na velocidade 2x, como explicado no texto do Felipe RAG, estamos sempre correndo e pensando em um milhão de coisas ao mesmo tempo. Logo, se formos gastar nossa energia e nosso tempo tentando decifrar o que os outros também estão pensando, daqui a pouco sairemos matando como Otelo.
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