“My Policeman” é a mais nova (e polêmica) produção da Amazon, que adapta para as telonas o livro de mesmo título de Bethan Roberts. O filme ainda conta com o protagonismo de Harry Styles, que acabou de finalizar as gravações de Don’t Worry Darling, e Emma Corrin, estrela de The Crown. 

Publicada em 2012, a obra de Roberts, narra a história das paixões e decepções de um triângulo amoroso na Brighton da década de 1950: a jovem Marion se apaixona por Tom, que se apaixona por Patrick. Tom ensina Marion a nadar, Patrick ensina Tom tudo que ele poderia saber sobre arte. Com a crescente homofobia da época, é “mais seguro” para Tom, um policial, se casar com Marion. Então, ela e Patrick têm que dividí-lo secretamente, “até que um deles quebre e as três vidas sejam destruídas”.

O livro em si é de uma delicadeza extraordinária; a escrita de Bethan não decepciona em momento algum. De certo, Styles e Corrin foram escolhidos a dedo, por encaixarem tão bem nos papéis. Ainda assim, a adaptação deixou muita gente inquieta nas redes sociais, sendo mais uma representação queer que martiriza a comunidade LGBTQ+. 

A questão é que, apesar de estarmos recebendo cada vez mais conteúdo LGBTQ+, boa parte envolve um conflito ou um final deprimente que só aconteceu porque os personagens são queer

Exemplo disso é o filme vencedor do Oscar, Brokeback Mountain, no qual um personagem morre violentamente por homofobia. Ou então, outros longas aclamados pela crítica, como Retrato de uma jovem em chamas e Me Chame Pelo Seu Nome, que terminam com um personagem se casando com alguém de sexo oposto, encerrando o romance iniciado no filme. Sem contar aqueles baseados na terapia de conversão, como Boy Erased e O Mau Exemplo de Cameron Post

Nada disso apaga ou diminui a notoriedade e relevância dessas obras, que tratam com uma maestria louvável assuntos expressivos e necessários de serem discutidos. Ainda assim, é de extrema importância que personagens LGBTQ+ existam em narrativas que normalizam suas identidades. O cinema, a televisão e outras mídias devem permitir que esses personagens tenham personalidades e conflitos além daqueles que dizem respeito à sexualidade.

Até porque as histórias queer que mais estão em alta atualmente enviam uma mensagem aos espectadores: dizem a eles que as histórias de pessoas LGBTQ+ sempre resultarão em conflitos. As experiências LGBTQ+ não devem ser a todo tempo romantizadas, mas não podem se igualar inteiramente ao sofrimento.

A série Pose, da Netflix, é um ótimo exemplo de mídia que cobre a opressão histórica, bem como alegria, romance e cultura LGBTQ+. Ela segue um grupo formado principalmente por mulheres trans e gays na cultura do baile underground de Nova York dos anos 80.

Temas como AIDS são abordados, mas os personagens também têm vidas ricas e cheias de fantasias elaboradas. Mais importante ainda, a narrativa se concentra em como eles se encontram em comunidade uns com os outros, apesar das adversidades que enfrentam.

O mercado cinematográfico está muito longe de estar saturado de conteúdo LGBTQ+. “My Policeman” contará uma história única e necessária e ainda promete surpreender e acolher muita gente. No entanto, há muito mais da trajetória queer que o drama e a tragédia; é preciso lembrar e exigir diversidade da diversidade que consumimos. 

Construindo minha odisseia com palavras que encontro por aí