Esse mês, o filme 2001: Uma Odisseia no Espaço completa 50 anos de muito sucesso. O longa dirigido por Stanley Kubrick revolucionou a história da ficção científica no cinema. Entre efeitos visuais e novas tecnologias, uma das coisas que mais surpreendeu foi o personagem HAL 9000, um software que regia a nave Discovery One como um sistema nervoso. Sua presença é fundamental no filme, mas quando a máquina resolve se voltar contra o homem (desculpa galera, depois de 50 anos fica meio difícil não guardar alguns spoilers), a mensagem fica clara: desconfie das inteligências artificiais.

Certamente Kubrick influenciou vários outros cineastas quando o assunto é a interação entre máquina e ser humano, e talvez até tenha acertado algumas apostas sobre o futuro da tecnologia (isso é muito Black Mirror!). Mas durante esses 50 anos, pode ter certeza que nem todo produtor e diretor tinha a mesma visão pessimista da inteligência artificial.

Depois de 2001 veio Westworld, em 1973, que se passa num parque de diversões com tema de velho oeste que você pode usufruir como quiser como num video-game, mas as atrações são todas robotizadas, embora pareçam (e esse é o diferencial) seres humanos. Mesmo com a sensação de velho oeste que parece bem longe de todo o futuro que Kubrick propôs, a mensagem pessimista e sombria que Westworld passa sobre inteligência artificial é a mesma presente em Uma Odisseia no Espaço.

A grande mudança veio com a enorme franquia Star Wars, que faz sucesso desde 1977. Com os dóceis droids C-3PO e R2-D2, o diretor George Lucas mostrou que a relação entre a máquina e a sociedade nem sempre precisa ser de guerra. No caso de Star Wars, os robôs prestam serviços aos humanos em diferentes planetas em uma galáxia muito, muito distante – que, talvez, não esteja nem tão distante assim, até porque é para isso que usamos a inteligência artificial hoje em dia.

Os anos 70 trouxeram vários filmes que foram influenciados por 2001: Uma Odisseia no Espaço, mas em Alien (1979) não é o software da nave Mother que se torna o vilão da história: o seu assistente robô, chamado Ash, que se rebela e… bom, sai matando todo mundo. Por mais que tudo que a gente tenha aprendido sobre robôs amigos com Star Wars tenha sido posto de lado, ficou claro o porquê: o diretor Ridley Scott sempre deixou claro que sua principal inspiração sempre foi Uma Odisseia no Espaço.

Ridley Scott voltou a usar a inteligência artificial em um longa com Blade Runner (1982), em que o trabalho do aclamado Harrison Ford era nada mais do que descobrir “réplicas-andróides”, que se parecem terrivelmente com seres humanos. Existe até um teste para descobrir quem é um robô e quem não é. Anotem bem, porque seguindo essa linha de filmes, parece que vamos precisar muito em breve.

Mas já que é pra falar de robôs que parecem humanos e testes para descobrir quem é quem, então que a gente fale logo de O Exterminador do Futuro, que tá na época! O filme saiu em 1982 e começa falando de um futuro onde uma empresa de inteligência artificial chamada SkyNet tomou o mundo como a gente conhece. O mocinho da história é então enviado de volta ao passado para evitar que isso aconteça, mas as máquinas logo descobrem o plano e enviam um agente-robô para intervir. Um agente que agora não só é inteligente e tecnologicamente desenvolvido, mas também um soldado forte.

Se olharmos para trás nesse exato momento da história e lembrarmos do HAL de 2001, podemos analisar que o que perdura é a mentalidade da inteligência artificial como a vilã da história (desculpa, George Lucas). Porém, ao longo dos anos, o que antes era um software onipresente agora se torna cada vez mais uma máquina com as mesmas capacidades escondida num corpo de ser humano normal. Os robôs são mais difíceis de se identificar, e estão tomando parte das nossas vidas sem que percebamos.

Fast-forward para o próximo milênio. Em 2013, Spike Jonze nos trouxe Her com uma proposta que mexe com os sentimentos de várias maneiras diferentes. Primeiro, o desconforto de ver nas telonas as pessoas grudadas nos seus aparelhos como nós vemos ao vivo mas não gostamos de admitir; depois, a leveza que é causada pelos níveis de interação entre o protagonista e o aparelho de I.A. (que tem a voz da incrível Scarlett Johansson); e, por fim, a incredulidade de perceber que esse relacionamento cibernético não é como a gente esperava. Por um lado, não é mais a tecnologia vilã da forma como vinha sendo até então. No entanto, a Samantha (nome da voz da Inteligência Artificial) se assemelha ao HAL por não assumir uma forma corpórea (embora faça um estrago semelhante), o que contradiz a linha de raciocínio dos diretores de ficção científica até então.

As coisas pareceram mudar nos últimos três anos. Na volta de Star Wars, em 2015, o droid BB-8 entretém com gestos robóticos mas que imitam claramente coisas que ficam muito claras para nós. Em Passageiros (2016) o personagem de Michael Sheen é um bartender eletrônico engraçadinho; e até em Blade Runner 2049, ganhador de dois Oscars em 2018, houve a retomada do romance entre inteligências artificiais.

Cinquenta anos de 2001: Uma Odisseia no Espaço. De HAL 9000, passando pela SkyNet, e chegando hoje, na telinha por onde você está lendo esse texto. Na época em que Kubrick lançou seu filme, o medo da Guerra Fria se alastrava pelo mundo, e isso com certeza influenciou sua visão sobre o que a tecnologia faria com o futuro. George Lucas certamente teve uma influência diferente quando viu seus droids como servos obedientes e companheiros fieis de seus protagonistas. E nós? Devemos ver a inteligência artificial de qual maneira? Ela está sendo desenvolvida a todo momento de qualquer forma, assim como o próximo filme de ficção científica.

eu toco teclado numa banda chamada internet.