Esse definitivamente não é o tipo de filme para quem tem estômago fraco, e é exatamente pelos motivos que você está pensando: muito sangue, tripas e violência. Pois então, apresento a vocês o gênero de terror gore, que literalmente exagera em um grau acima do normal todo tipo de violência e transforma o sangue tão natural quanto água. Porém, filmes do gênero como O Albergue (2005), Centopeia Humana (2009) ou a franquia Jogos Mortais (2004 – presente) tem um grande problema com construção de personagens, que os demonizam e ajudam a não se importar quando são feridos ou até mesmo morrem.

Só que A Morte do Demônio: A Ascensão (2023) foge desse modus operanti do gênero e felizmente dá um algo a mais para cada personagem ali presente, fazendo a gente torcer para ficarem vivos até o final do filme. A construção dos personagens do longa é o que mais o diferencia também dos outros filmes da franquia Evil Dead (1981-2013) criada por Sam Raimi, que está presente como produtor executivo ao lado do ator protagonista da maioria dos outros filmes Bruce Campbell. 

O diretor e roteirista Lee Cronin utiliza da técnica primordial do autor George R. R. Martin na construção da trama que é não ter dó de nenhum dos personagens, principalmente para escolher matar qualquer um deles, ou seja, te aconselho não se apegar a ninguém quando for assistir ao filme. O roteiro em si é um ponto alto do longa já que ele subverte outro aspecto clássico da franquia: o cenário. Uma cabana isolada na floresta é o ambiente mais utilizado, mas nesse projeto Lee Cronin coloca os personagens para lidar com uma chacina em um prédio velho de Los Angeles, que guarda em seu subterrâneo o Necronomicon Ex-Mortis, o livro dos mortos.   

Outra ferramenta utilizada pelo diretor é a sequência do título inicial, algo que faz o espectador ficar vidrado na tela e paralisado na cadeira. Por ser também um artifício para prender quem está assistindo nos primeiros minutos, Lee Cronin aproveita para deixar alguns easter eggs dos primeiros filmes de Evil Dead. A direção de câmera do primeiro personagem possuído também está presente não só no início, mas em muitas partes do filme. 

Agora entrando em algo mais pessoal, tenho um conselho essencial: não assista sozinho esse filme, principalmente se for no cinema (foi a primeira e última vez que eu tive essa experiência). Todos os acontecimentos gore não servem apenas para chocar, mas são usados de forma para construir a narrativa e deixá-la mais rica dentro da mitologia da franquia. E como havia dito nos outros parágrafos, a “falta de empatia” na construção dos personagens é uma característica que mais se destaca. Por fim, estava esperando um filme medonho sobre algumas pessoas possuídas, só não achei que literalmente ia sair com as pernas bambas do cinema e pensando em uma história de maternidade.