Na semana passada, tivemos o evento anual de lançamentos da Apple. Steve Jobs tornou esta data num grande acontecimento: uma grande excitação sob a expectativa do lançamento de um produto revolucionário. Apesar de não termos mais o carisma de Jobs e, em geral, lançamentos que são variações do mesmo (como aconteceu no último dia 9), a aura parece perdurar, residualmente.
As tradicionais filas de consumidores se formaram antes mesmo de se ter clareza sobre o que seria lançado. O que faziam eles lá, então? Alguns, queriam aparecer ao serem entrevistados por estarem ali, prontos para passar dias na fila. Mas eu arriscaria dizer que eles queriam mesmo participar e tocar na aura no novo: o efêmero que, ao menos por algumas semanas, os tornariam distintos, exclusivos, membros de uma elite em meio ao mar amorfo do mundo do consumo de massa. Em pouco tempo, os produtos serão acessíveis a cada vez mais consumidores e sua posse já não produzirá este efeito. E então os produtos, em geral sub-utilizados, serão descartados, independentemente de sua funcionalidade: não é propriamente seu uso que está em jogo no ato de consumo, mas sua participação na experiência do novo.
A massa dos consumidores, por sua vez, torce pela saída dos modelos novos com a esperança de que os modelos anteriores tenham seu preço rebaixado e se tornem mais acessíveis.
Os que aspiram ao mundo do acesso, almejam ser incluídos e serem iguais aos que já lá estão; os que já se consideram incluídos, buscam sua singularidade dentro do grupo. O acesso ao lançamento produz de forma fugaz esta sensação.
Uma semana depois, não se fala mais no assunto e um site de viagem brasileiro oferece como brinde para seus pacotes para New York um I-phone 6. Já.
Pedro de Santi
Psicanalista, doutor em psicologia clínica e mestre em filosofia. Professor e Líder da área de Comunicação e Artes da ESPM.
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