Aviso de gatilho : este texto deve ser lido apenas por adultos +18 e possui diversas menções ao uso e manuseio de drogas ilícitas
O livro “Drogas para adultos” conta sobre o polêmico e detalhado ponto de vista do PhD Carl Hart, um usuário de heroína recreativa que lutou para espalhar sob o “véu do preconceito” uma visão mais empática a respeito da luta contra as drogas e suas políticas desumanas e nada saudáveis.
Nesta narrativa criativa o autor busca narrar sem hipocrisia a realidade sobre o consumo de drogas recreativas. Com um pouco de humor e muito extremismo, o livro é uma viagem intensa por ideologias moralistas e punitivas sem deixar de inserir diversos dados científicos que te ajudam a moldar sua própria opinião como pessoa.
Resenhar um livro de não ficção que tem como ponto principal uma mensagem de “legalização da heroína” não é nada fácil, especialmente porque você como leitor se vê numa posição indesejada de : como poderia eu discordar de um cientista?
Ele ao longo de todo livro afirma como não há boas evidências de psicoses e danos cerebrais causados por drogas, seja maconha, metanfetamina, heroína ou cocaína. Introduzindo dados surpreendentes, o leitor se vê questionando tudo que foi levado a acreditar sobre o uso de drogas.
A combinação intrigante de histórias pessoais, curiosidades, fatos, dados e história oferece uma experiência muito documental em meio a um livro tão polêmico. Poucos livros escritos por médicos ou cientistas têm a capacidade de te oferecer um filme em sua cabeça. Está aí uma surpresa perigosa do livro “Drogas para adultos”.
Ouso dizer que é um livro sensível visto que o autor coloca na mesa suas inseguranças e dificuldades constantemente. Não seja enganado, estamos falando de um autor responsável mas nada moralista. A vulnerabilidade é a melhor máscara de uma autoconfiança questionável.
É inerente à história diversos capítulos geniais, verdadeiros pontos que merecem atenção para um debate mais empático em nossa sociedade, como por exemplo a verdade por trás da grande “Luta contra as drogas”.
Existe entre nós uma herança racista e egoísta a respeito do uso de drogas no geral. Começando pelo fato de que a luta contra as drogas por muito tempo foi apenas um escape para a liberação de verba e a criminalização de classes marginalizadas. Existe uma herança racista que enche prisões e mais prisões com minorias sociais em nome das drogas.
Ainda assim, é quase que um choque ler o óbvio ; O jovem brasileiro consumidor de drogas ilícitas é branco e pertence às classes mais altas da sociedade. Isso citando não só os fatos mundiais mas também a Fundação Getúlio Vargas (FGV) que traçou um perfil do jovem brasileiro no que trata de consumo de drogas, prisões e mortes por fatores externos, pesquisa que permanece mostrando as mesmas reflexões mesmo depois de 15 anos.
Essa leitura não é um guia. Esta é uma leitura essencial, um livro que grita por verdades que no final, assim como uso de drogas, está aberta a sua interpretação como jovem adulto responsável por si mesmo. Drogas existem e nesse livro passamos por um ensinamento de como enxergá-las e assim decidir nossas verdadeiras opiniões sobre segurança, liberdade e liberacionismo.
Carl Hart é um neurocientista, um homem negro e abertamente um adulto que assume a responsabilidade de se autodenominar um usuário de drogas no século do proibicionismo. Você é só um leitor, mas talvez agora um leitor um pouco mais curioso e questionador que antes.