Gostando ou não, Christopher Nolan é um dos maiores diretores do mundo, especialmente quando se trata de filmes originais. Poucos diretores conseguem os recursos necessários para aplicarem suas ideias, mas Nolan é um deles. Seus filmes sempre atraem grandes números na bilheteria, sempre compensando os estúdios que apostam milhões no orçamento deles. Em uma época onde temos diversas franquias medíocres arrecadando centenas de milhões de bilheteria (Transformers, Piratas do Caribe, Velozes e Furiosos) é bom ver diretores que conseguem competir com os blockbusters, mesmo com roteiros originais: Quentin Tarantino, Christopher Nolan e Edgar Wright.
Mas, apesar de toda sua credibilidade, nem tudo é de Nolan é perfeito. Afinal, existem lados bons e ruins em fazer filmes acessíveis e populares ao mesmo tempo em que são artísticos e originais. Ao longo de toda sua carreira, com excessão de Dunkirk, Nolan segue uma estrutura semelhante em todos seus filmes – uma que pode não ser tão beneficente para certas obras.
O canal Fandor analisou essa estrutura, a comparando com a técnica para um truque de mágica. No caso, a mesma usada pelos mágicos de O Grande Truque: A Promessa, A Reviravolta e O Prestígio.
O vídeo possui spoilers para alguns de seus filmes (mas se você ainda não viu Dunkirk não há problema, ele não é um deles).
Mas ao sempre se prender dentro dessa estrutura, os resultados podem acabar não sendo tão bons em certos filmes, enquanto são excelentes para outros. Como Nolan gosta de desconstruir gêneros do cinema, modificá-los em torno de uma premissa diferenciada, além de querer surpreender o espectador com um Plot Twist em algum momento – nem sempre é fácil de tudo fazer sentido na resolução. Em Interestelar por exemplo, foi necessário um fechamento extremamente expositivo, enquanto em Memento tudo faz sentido de forma natural e ainda fechamos com um monólogo que está totalmente de acordo com o personagem.
Eis que surge outra dificuldade: manter a perspectiva subjetiva que temos pelos olhos de seus protagonistas, combinando isso ainda com uma não-linearidade. A intenção de colocar o público nos pés dos protagonistas pode complicar o enredo, já que temos de receber apenas informações que o personagem recebe, algo que também pode trazer muita exposição no fim. Portanto, seus melhores filmes são com finais ambíguos, que nos transformam em detetives – descobrindo a verdade junto com o protagonista.
No fim das contas, o trabalho de mesclar tantos elementos conflitantes não é nada fácil. Criar personagens com conflitos de identidade, não deixar claro quem é o vilão ou torná-lo simpatizante enquanto as motivações deles são reveladas pode ser difícil. Ainda mais quando se usa pouca exposição, o mal necessário do cinema. Por um lado, eis que surge um diferencial de Nolan em minha opinião: suas cenas expositivas tem um propósito além de situar o espectador dentro do universo. Dentro delas existem a metalinguagem sobre sua própria obra, uma referência quanto ao próprio processo de criar um filme.
A aula de Ariadne sobre o processo de criar um sonho é também uma aula de cinema.
Antes de qualquer coisa, Nolan é um fã do cinema, assim como todos nós. E eu, já que não posso falar por todos, certamente sou grato por um diretor que produz conteúdo original ter tantos recursos disponíveis para si e fazer o sucesso que faz.
E são filmes como este que ficam em nossas memórias no fim.