O que está acontecendo em Hollywood? Não pergunto apenas em relação à greve que está paralisando produções e afetando diretamente o futuro do cinema e da televisão, mas, também, pergunto ao que estamos assistindo.

É apenas uma questão de tempo para Barbie atingir a marca de 1,5 bilhão de dólares em bilheteria ao redor do mundo;entendo que boa parte do motivo desse sucesso seja pelo meme, entretanto, o filme de Greta Gerwig parece fazer parte de um movimento muito maior de Hollywood em utilizar produtos como o tema central de seu filme.

Recentemente, tivemos a ascensão do “cinema pseudo independente” que nos trouxe histórias como “Parasita”, “Tudo em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo”, “Não! Não Olhe!” e diversos outros títulos que fogem das convenções narrativas e temáticas de Hollywood, inclusive dando voz a pessoas que historicamente foram excluídas do protagonismo.

Mas essa mesma indústria que deu espaço do palco principal a essas obras, parece não estar tão contente com o protagonismo “alternativo”, e ,após o Oscar de 2023, pareciam estar perdidos e não conseguiam recuperar as rédeas para a “essência” hollywoodiana do cinema majoritariamente branco.

No último mês, tivemos a estreia de “Gran Turismo”, um filme a respeito do videogame homônimo sobre corridas profissionais,  que deixou público confuso sobre como seria um filme a respeito de um jogo onde não existe um personagem e tudo que se faz é dirigir pelos mais variados circuitos ao redor do mundo. O enredo do filme não se distancia muito do videogame, mas insere uma história minimamente interessante para justificar 2 horas e 15 minutos de propaganda de videogames, carros e roupas.

Em uma situação onde duas das principais estreias recentes são adaptações de um produto e diversos outros títulos estão confirmados para os próximos anos, como Uno e Hot Wheels, somado ao fato de que a indústria está em atrito com atores e roteiristas, fica claro o motivo desse esforço em trazer adaptações que não têm a menor necessidade de virem à tela.

Os sinais que Hollywood têm dado é de que não estão mais tão interessados assim em investir na parte artística e na originalidade de seus próximos títulos e pretendem utilizar da inteligência artificial para minimizar custos e principalmente a influência das pessoas sobre a obra final. 

A originalidade, somada à parte humana do cinema é o que o faz evoluir constantemente, afinal, não se faz um filme sozinho. Mas, recentemente, estamos entrando em uma era na qual a indústria tenta tirar o controle dos humanos e utilizar sempre o “genérico”, seja na própria parte técnica, com a substituição de partes fundamentais da equipe por IA, ou, até mesmo, em seus títulos, investindo milhões de dólares em filmes com um enredo raso e que irão se destacar apenas pelo nome que carregam, na maioria das vezes pelo meme.

O melhor exemplo disso é o próprio filme da Barbie, que marca o início de uma nova fase na terra dos sonhos, na qual Greta, uma diretora em vias de consagração e com um grande talento em contar histórias diferentes, realiza uma obra genérica e com uma mensagem confusa e rasa.

E já que Hollywood continuará a produzir aquilo que consumimos, vale a reflexão: você prefere assistir a um filme sobre um jogo de cartas destinado a crianças ou uma história original?