A produtora e distribuidora independente A24 dominou a premiação mais importante do mundo do cinema em 2023: suas produções “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” , “A Baleia” e “After Sun” figuram como os principais nomes da produtora que concorreram ao Oscar 2022 e prestigiaram ainda mais o trabalho da empresa por trás destas obras, principalmente pelos diversos discursos que agradeceram diretamente ao esforço da produtora para realizar estes filmes. A verdade é que a A24 ocupou um lugar carente na indústria cinematográfica: o espaço entre os blockbusters e o cinema independente.
A história da produtora é intrigante por si só: ao invés de se estabelecerem na tão sonhada Hollywood, decidiram se firmar justamente do outro lado dos EUA., em Nova Iorque. Há décadas, as principais empresas de produção e distribuição estabeleceram a maior parte de seus esforços voltados a Los Angeles e, por mais que o sucesso comercial estrondoso de seus filmes fosse o suficiente para garantir um oligopólio das produções e distribuições, havia uma sensação de que faltava algo para o cinema mais “artístico”. Este algo a mais sempre foi o foco da A24, que começou distribuindo filmes que eram esnobados pelas empresas mais tradicionais, mas com um grande potencial de sucesso entre públicos alternativos, e principalmente, com a crítica.
Voltando para a história da A24, a empresa fundada por profissionais já experientes na distribuição de filmes com um viés mais artístico, teve seu primeiro sucesso com “Spring Breakers” (2013), que se destacou tanto pelo seu visual quanto por sua temática que conversa com gerações mais novas, algo que se repete ao longo da história dos filmes da produtora. Em um espaço de 1 ano, a A24 já havia ganhado respeito de boa parte da indústria e passou também a produzir filmes de baixo orçamento mas com um grande potencial artístico. Filmes como “Tusk” (2014), “Ex Machina” (2015), “A Bruxa” (2015) e “A Lagosta” (2016) mostraram o viés da empresa e a habilidade de juntar histórias diferentes com sucesso financeiro.
Apesar do grande destaque entre a comunidade cinematográfica, a produtora ainda era um pequeno peixe no mar de tubarões que é Hollywood, entretanto, isso mudou com “Moonlight” (2016), filme produzido e distribuído pela empresa, que recebeu o Oscar de melhor filme de 2016, colocando de vez a A24 entre os principais nomes da indústria. Após se provar na principal premiação do mundo do cinema, a questão deixou de ser se a A24 era capaz de produzir e distribuir conteúdos que agradassem tanto a crítica quanto o público, mas sim se eram capazes de manter esse alto padrão.
De onde a empresa surgiu, em um mercado dominado por 6 ou 7 empresas, era um sonho ter atingido um patamar tão alto em tão pouco tempo, principalmente por produzir um conteúdo diferente daquilo que já estava estabelecido; a dúvida de se a A24 era capaz de se manter neste patamar logo foi respondida: em um espaço pequeno de tempo foram lançados filmes como “A Ghost Story” (2017), “Good Time” (2017), “Florida Project” (2017), “Lady Bird” (2017) e “Hereditary” (2018), filme que ajudou a trazer o terror de volta ao mainstream. todas essas produções deram a A24 uma legião de fãs e fez com que a vinheta da empresa se tornasse um selo de qualidade.
Com muito mais dinheiro em caixa e cada vez mais prestígio entre os profissionais, a pequena distribuidora de Nova Iorque passou a trabalhar em dezenas de filmes por ano, atraiu nomes já consagrados dentro da indústria, revelou outros e criou novos padrões de produção. Roteiros “alternativos” que até pouco tempo tinham dificuldade de captar recursos para a produção acharam na A24 alguém capaz de realizar suas idéias, assim como o público encontrou alguém que trouxesse conteúdos diferentes e com qualidade. Os prêmios vieram naturalmente, o que ajudou ainda mais a empresa a se tornar o “selo de qualidade” do cinema alternativo.
Em 2022, a A24 teve um ano sensacional e teve mais de uma dezena de indicações na principal premiação do mundo do cinema. “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” conseguiu quebrar a barreira do cinema de nicho para um filme popular, Brendan Fraser conseguiu dar a volta por cima em sua carreira, “After Sun” e Paul Mascal foram considerados os injustiçados da noite e, tão interessante quanto essas histórias, está a da própria A24, que saiu de uma pequena distribuidora fundada no lado oposto do cinema hollywoodiano para dominar a noite do Oscar.
Em pouco tempo de existência, a A24 já provou que é capaz de produzir conteúdos de extrema qualidade, agradando ao público e à crítica, mostrando que há histórias interessantes fora do círculo tradicional de Hollywood e que há uma forma de conciliar o cinema artístico com o mainstream, trazendo diversos filmes que seriam rejeitados pelas empresas tradicionais para a principal noite do cinema. A24 não precisa mais provar para ninguém e a partir desse momento a questão que fica é “Como Hollywood vai reagir a tudo isso?”.