Se você acha que comédias românticas são “cringes”, a gente precisa conversar! Primeira coisa, qual é o problema de querer ficar com o coração quentinho? Ou de repentinamente querer um amor para chamar de seu? Segundo ponto, esse subgênero de comédia nunca deixou de estar em alta e, mesmo tendo milhares de produções, continuam no apelo do público. Títulos como “10 coisas que eu odeio em você” (1999),  “O Diário de Bridget Jones” (2001) e “De Repente 30” (2004) marcaram gerações. Quem nunca se emocionou na cena em que Kate recita seu amor por Patrick? Riu das trapalhadas de Bridget? E eu sei que você tem vontade de dançar Thriller junto com a Jena, na cena em que ela anima a festa.  


Viu como as comédias românticas conseguem alcançar partes dentro de nós que nem todos os gêneros conseguem? A importância delas é imensa e “Ingresso para o Paraíso” vai mostrar como ainda é possível trazer bons filmes nesse gênero, que possibilitou diversas estrelas hollywoodianas chegarem ao estrelato.
Julia Roberts foi uma delas. Desde “Uma Linda Mulher” (1990), Julia virou um referencial de beleza e estrelou outros filmes no mesmo estilo. “Um lugar chamado Nothing Hill” (1999), “O casamento do meu melhor amigo” (1997), e “Noiva em fuga” (1999) foram alguns deles. O carisma e o sorriso da atriz chamaram a atenção por sua espontaneidade e expressividade e, desde então, ela se tornou uma das queridinhas de Hollywood.  


Pois bem, anos se passaram e Julia Roberts voltou com mais uma comédia romântica ao lado de George Clooney, um dos maiores galãs do cinema. Os dois interpretam os pais de Lily (Kaitlyn Dever), que faz uma viagem de intercâmbio e, subitamente, decide se casar com um local, largando toda a sua vida e sua formação para trás. Os pais, que não poderiam repudiar mais a presença um do outro, decidem unir forças para impedir a filha. É fácil pensar que este filme é só mais um clichê lançado para conseguir bilheteria em cima de dois atores famosos, porém, garanto que ele entrega muito mais do que promete. 

Casamento dos sonhos


Desde o começo nos é apresentado a relação de Georgia Cotton (Julia Roberts) e David Cotton (George Clooney). Desde que se separaram, ambos não se suportam, e quando precisam estar em contato um com o outro, é sempre por meio de farpas. Algo de grande acerto no filme: essas briguinhas que são travadas entre os personagens nos estimulam a querer entender mais sobre o relacionamento dos dois. E não se torna cansativo graças à sutileza do roteiro e das atuações de Julia e George, que caíram como
uma luva.

Farpas


Roberts entrega uma personagem carismática e determinada, focada em sua carreira profissional, enquanto Clooney alterna entre uma postura madura e outra de implicante, mas com uma sutileza engraçada de assistir. O mais interessante é como os dois, ao começarem a conviver novamente, passam a se divertir como não faziam há anos. É como se tivessem voltado a ser aqueles adolescentes apaixonados novamente, e isso é contagiante para o espectador.


Outro ponto para o filme são as novidades que ele traz. Foi uma grande surpresa uma comédia ser protagonizada por atores mais velhos. É gostoso ver a dinâmica entre os personagens e destrói a ideia de que comédia romântica é coisa de adolescente. Faltava uma que pudesse representar os adultos com mais de 40 anos. E não só isso: o filme consegue desenvolver outras temáticas importantes, como separação, relação de pai e filha, escolhas pessoais, família e relacionamentos no geral. 


Tudo isso sem precisar forçar a barra em clichês; inclusive, foi uma surpresa para mim ver que Georgia estava namorando um homem mais novo, afinal, geralmente esse é um artifício usado com o homem namorando uma “novinha”, para que no final a protagonista faça o cara perceber que ela sempre foi superior a outra. Essa rivalidade não acontece aqui. Nem por parte de David, que óbvio, implica com o relacionamento da amada, afinal isso é a dinâmica dos dois, mas no fundo a incentiva a ser feliz.  Não há um exagero para que o relacionamento de Georgia e Paul (Lucas Bravo) termine, tudo vai acontecendo de forma realista e você entende o rumo das coisas. 


Acho importante mencionar como Clooney consegue demonstrar sentimentos apenas com o olhar. Juntamente com a trilha sonora, que inclusive merece  reconhecimento por ser animada e emocionante quando necessário, ele consegue derrubar lágrimas de qualquer um. Durante as cenas em que ele narra o motivo do término, você fica preso em suas palavras, e nem é preciso nenhum jogo de câmera ou
edição. Gosto de como é tudo muito natural, trazendo uma compreensão e empatia pelo personagem, não é simplesmente jogado aquele clichê de traição clássico. 


Por último, o mais bonito é ver como os dois começam a notar novamente o outro, enxergando o motivo deles terem se apaixonado antes. O brilho no olhar dos atores consegue convencer a todos de que o amor e admiração dos personagens permanecem o mesmo após tantos anos.


Sendo assim, as comédias româ​​nticas merecem o mesmo valor dos outros gêneros, desde que tenham uma história bem desenvolvida e proponham algo que possam cumprir. E “Ingresso para o Paraíso” com diálogos sarcásticos, implicâncias entre os protagonistas e decisões inconsequentes, consegue mostrar como elas ainda conseguem ser divertidas, fluídas, emocionantes e, principalmente, humanas. 


Esse filme é muito mais do que um momento de diversão e conforto no coração: é uma boa reflexão de como as comédias românticas podem ser boas na nossa atualidade, sem serem voltadas apenas para o público jovem. Onde o romance se entrelaça perfeitamente com os outros temas, construindo camadas para uma narrativa que o cinema a muito tempo não via.