Você se tornou uma estrela, sua música é tocada em rádios ao redor de todo o mundo e seu rosto é reconhecido em todos os lugares que vai. Isso é uma boa métrica de sucesso, porém, e se você nunca teve esse sonho, ou pior que isso, se arrependeu de um dia ter tido a vontade de vender sua música?

Esse é um dos temas principais de Wish You Were Here, além da preocupação com o ex-membro da banda, Syd Barret, que é notório em Shine On You Crazy Diamond e, especialmente, na música homônima ao nome do álbum, talvez, a mais conhecida canção do grupo. Mas além da saudade de homenagem ao vocalista, a ambiência criada pela construção do álbum nos leva a um lugar muito mais reflexivo e concreto do que o disco anterior, que fez a banda atingir esse status global.

The Dark Side Of The Moon foi um sucesso imediato e até hoje é considerado como um dos álbuns mais influentes de todos os tempos, com inúmeras teorias a respeito do verdadeiro sentido das músicas e até mesmo se deveria ser ouvido junto com “O Mágico de Oz”, mas trouxe ao grupo o fardo do sucesso e, consequentemente, de experimentar a verdadeira indústria da música. Enquanto questionavam sobre a existência do dinheiro, seus bolsos se enchiam e logo sentaram lado a lado com as figuras responsáveis por manter toda uma estrutura de exploração na indústria musical.

David Gilmour e Roger Waters nunca se deram bem e, após um sucesso tão grande, era normal que houvessem egos inflados e uma disputa pelo controle criativo do próximo projeto, que, apesar de estarem pressionados pela gravadora,  não existia sequer uma ideia de como iriam continuar no mesmo nível de Dark Side Of The Moon. Entretanto, sempre houve uma concordância quando o assunto era Syd, pois ambos viram a decadência daquele que consideram como um dos maiores gênios que já haviam visto. E foi nesse clima de melancolia que nasceu a principal música do álbum e que moldou a criação do conceito de todo o projeto, após Waters ouvir David tocar um riff melancólico que os lembrava a Syd.

A insanidade do ex-vocalista é um tópico sensível para os membros até hoje e, depois de passarem por uma mudança completa em suas vidas devido à fama, todos entenderam um pouco da loucura de Syd, ainda que se assustassem cada vez mais com seu estado mental. Mas de certa forma, em meio ao caos pela liderança da banda, da cobrança excessiva de fãs e, principalmente, de seus “chefes”, todos concordaram em realizar uma obra que não caminhava para frente, e, sim, para trás. Uma obra carregada de saudades e até mesmo arrependimento, refletindo sobre onde chegaram e os custos dessa caminhada, que serve tanto para o álbum, quanto para a música Wish You Were Here.

O disco inicia e termina com Shine on You Crazy Diamond, que supostamente deveria ter sido uma música só de 25 minutos, em uma tentativa de homenagear a estrela de Barrett que estava se apagando. Porém, durante aquele momento, era impossível unir todos em um esforço coletivo para tocar algo pois, apesar de o grupo estar presente, suas mentes não estavam, fantasiando sobre a nova vida que levavam e muito mais preocupados com a vida fora do estúdio, estando presentes apenas pela necessidade contratual, ao invés da vontade de continuar a criar música.

Essa nova vida, e os diálogos entre artistas e produtores, são mostrados em Welcome To The Machine, na qual toda a letra é composta como um monólogo de um executivo que finge compreender um músico, utilizando de frases genéricas e prometendo entregar uma vida de estrela, assim como outros músicos tiveram. Mas apesar do direcionamento justamente para a atual situação da banda, ela também serve como uma metáfora para o amadurecimento e para aqueles que verdadeiramente entram no mundo adulto, assim como a própria música da banda, que nasceu, amadureceu e, após o sucesso, entrava no mesmo campo dos adultos.

E nesse mesma linha, Waters também escreveu Have a Cigar, que também confronta a atual posição da banda, mas dessa vez, de maneira mais explícita e crítica quanto aos executivos da Columbia Records, que supostamente achavam que existia um membro chamado Pink. Dizendo que a atual posição desses funcionários e, principalmente, do cenário musical em si, era apenas de exploração, de utilizar dos talentos dos músicos para conquistar dinheiro de maneira fácil, sem se esforçar, apenas realizando promessas falsas e conquistando sua confiança em troca de uma assinatura para ganharem milhões de dólares e cerrarem qualquer liberdade criativa. 

Durante a gravação do álbum nos estúdios de Abbey Road, Barrett apareceu e se sentou em um canto do estúdio, com a cabeça e as sobrancelhas raspadas e com muitos quilos a mais. Decidiu ficar quieto até que alguém viesse o cumprimentar, mas para sua surpresa e de todos os integrantes da banda, ninguém o reconheceu e, apenas após uma conversa entre todos os membros, houve a conclusão de que aquele homem não poderia ser mais ninguém a não ser o ex-integrante. E depois de uma pequena exibição das músicas que estavam sendo gravadas para o próximo álbum, Syd apenas comentou “um pouco velho”, sem demais explicações, até que, na confusão do estúdio, Barrett desapareceu.

Wish You Were Here tinha tudo para dar errado, ser um álbum desconexo e extremamente polarizado entre Gilmour e Waters, que já se desgostam publicamente, entretanto, a falta de coesão e, principalmente, de vontade, encontrou na figura de Barrett e na situação da banda uma maneira de criar algo digno do Pink Floyd, carregado de melancolia e arrependimento, surgiu uma experiência capaz de homenagear alguém fundamental para o grupo e também de expressar algo além daquilo que é inerente aos atuais membros, mesmo com um discurso em vão, tanto para Syd quanto para a indústria.