Nos seus anos de infância e adolescência, você já deve ter se perguntado quem estava por trás do nome de um dos maiores brinquedo do mundo. Rumores ao longo dos anos espalharam que Barbie era uma mulher de verdade, com seus cabelos loiros e corpo perfeito. Outros acreditam que era o nome da esposa do criador. Mas qual será a versão verdadeira?

O ano era 1950, nos Estados Unidos, no cenário em que o país vivia a era de ouro hollywoodiana, com seus exuberantes filmes saturados pelo Techinocolor, o surgimento de novos subúrbios e carros desnecessariamente grandes e glamurosos andando pelas ruas. Foi em um dia comum desse ano que uma mãe observava o fascínio de sua filha brincando com bonecas de papel – um dos primeiros brinquedos a retratar mulheres jovens e atraentes, fugindo dos clássicos bebês carecas e crianças gordinhas. A menina posava e transformava as bonecas em pessoas, com histórias, diálogos e objetivos. Foi nesse cenário que a mãe percebeu o potencial dessas bonecas para um jogo dinâmico e dramático cheio de possibilidades… E se houvesse uma versão mais substancial dessas bonecas frágeis? Será que minha filha não as amaria muito mais?

A questão é que a mãe nesse pequeno contexto não era ninguém menos que Ruth Handler, uma das fundadoras da empresa de brinquedos Mattel, e a criança era sua filha Bárbara. A partir disso, Handler ficou com a ideia de criar uma boneca adulta na qual as meninas poderiam projetar seus desejos de como agir e, de fato, se tornarem mulheres adultas. Assim, ela estava determinada a transformar sua visão em uma pequena realidade plástica. De início, ninguém mais na empresa parecia compartilhar de seu entusiasmo: os designers foram os primeiros a hesitarem, dizendo que o nível de detalhe que ela pedia tornaria a boneca extremamente cara. Sendo essa a primeira rejeição do projeto, Handler percebeu que o real fator para o brinquedo ter sido barrado pelos designers – todos homens – era o formato de seu corpo.

Mas a empresária acreditava no potencial da sua criação e, aos poucos, persuadiu a Mattel a produzir um protótipo, o qual foi apresentado na American International Toy Fair em fevereiro de 1959. E em homenagem à sua filha Bárbara, a boneca ganhou o seu apelido Barbie. Na época, o brinquedo custava três dólares, passou a ser vendido junto com diversas trocas de roupas e causou a maior polêmica.

Isso porque Barbie surgiu em um momento culturalmente dividido: de um lado, havia as esposas e mães, retratadas na televisão como assexuadas por trás de seus aventais floridos e delicados, e, do lado oposto, coexistiam com influentes sexpots como Marilyn Monroe e Jayne Mansfield. Nesse contexto, os consumidores ficaram confusos por não saber em qual campo a boneca pertencia, visto que, por um lado, ela era sensual, mas, afinal, era um brinquedo para crianças.

Mas apesar da rejeição no primeiro contato do público com o brinquedo, ele era bem requisitado, mesmo a maioria dos compradores sendo homens que se incomodavam com sua estética. “Ruth, as meninas querem bonecas, elas querem fingir que são mães”, Handler ouviu de um comprador, ao qual debateu “as meninas querem fingir ser meninas maiores”. E foi nessa resposta que ela entendeu o que as jovens realmente desejavam e a essência da sua criação.

Apesar da frieza inicial na sua recepção, no verão de 1959, a Barbie evaporava das prateleiras e dos estoques das lojas. Apenas oito meses após a estreia da boneca, Handler estava, de acordo com um artigo do Los Angeles Times, dirigindo um Thunderbird rosa e administrando um negócio de meio milhão de dólares. E Barbie seguia firme e forte no início dos anos 1960, com a ajuda de suas roupas personalizadas, seus acessórios coloridos e a casa dos sonhos.

Porém, foi no final desse mesmo ano, que o movimento feminista de libertação das mulheres fez com que Barbie contrastasse com a realidade social e iniciasse sua fama de brinquedo problemático. A Organização Nacional para Mulheres atacava diretamente a boneca, condenando a Mattel por sua publicidade sexista.

Mas já era tarde demais para tentarem acabar com a criação. Apesar do mundo de Barbie ter sido abalado pelos desenvolvimentos sociais e culturais das décadas de 60 e 70, em 1980 um novo integrante da Mattel mudou de novo as regras do jogo. Quando Jill Barad ingressou na empresa, Barbie voltou aos holofotes. E com o seu novo slogan “Nós, meninas, podemos fazer qualquer coisa” estava maior e melhor do que nunca.

Com a nova possibilidade de ilimitadas criações, Barbie podia ter qualquer função: babá, modelo, astronauta, paleontóloga, médica do exército, patinadora artística, piloto da força aérea, cirurgiã, dentista e pediatra. Sem contar que já concorreu à presidência três vezes.  Barbie podia escolher ser o que quisesse. Esse era o diferencial do brinquedo. A ideia de Handler de criar um rosto neutro para que a criança pudesse projetar seus próprios sonhos de futuro na boneca tinha funcionado. Segundo a empresária, seu objetivo nunca foi brincar com a vida glamorosa de Barbie, mas que a criança criasse uma personalidade para a boneca, dando vida a algo que antes era só um objeto.

Além de poder ser quem a criança quisesse que ela fosse, Barbie ainda quebrava padrões de gêneros com suas inúmeras profissões e com seu namorado Ken que, apesar de tudo, era só um acessório. Isso a transformou em um produto inovador para seu tempo, fazendo com que se encaixasse nas estruturas existentes sem questioná-las ou desmontá-las. Mesmo naquela época, Barbie estava saindo de seus limites de gênero e entrando no mundo mais amplo. 

Atualmente, mais 50 anos depois da criação da boneca, é possível dizer que Barbie é muito mais do que um brinquedo. Ela se transformou em um ícone, sendo representada de diversas maneiras na cultura popular. Nos últimos anos a boneca se tornou alta costura com roupas e acessórios desenhados por grandes estilistas, ganhou visibilidade nas telas sendo a estrela de vários filmes e animações e até ganhou jogos de computador. A cada ano que se passa, ela continua ganhando mais derivações, novos produtos e conquistando novos territórios. Sua permanência é constante pelo seu tipo de projeção, onde foi feita para ser movida, pensada e manipulada. Barbie apesar de não fazer nada, faz tudo. E enquanto houver uma criança para trazer esse brinquedo à vida com sua fantasia magicamente libertadora, Barbie será eterna. Em diferentes formatos, formas, gêneros, vozes, rostos, se renovando a cada ideia nova originada de uma simples boneca de plástico.