Satoshi Kon foi um dos grandes animadores do Japão, sendo considerado por muitos como o “segundo Miyazaki”. Infelizmente, ele faleceu com apenas 46 anos devido a um câncer pancreático. Apesar disso, com apenas 4 filmes e 1 série, o artista apresentou obras fantásticas, de um verdadeiro visionário.
Seus filmes possuem temas semelhantes, sempre sobre pessoas comuns vivendo múltiplas vidas. Além de frequentemente alternar entre a realidade e o imaginário. O impressionante de suas obras, além da qualidade narrativa em si, é a maneira como o diretor retratava essas dualidades.
Suas transições entre cenas são originais e únicas. Ele tirava sua inspiração de filmes sci-fi, como os de Philip K Dick e Terry Gilliam. Além de transicionar por meio de associações, o “match-cut”, ele também alternava pelo movimento, tanto de personagens quanto de câmera.
2 exemplos de um match cut em Breaking Bad.
E agora, como Satoshi Kon partia disso em uma perspectiva totalmente diferente.
Fica até difícil de contar quantos cortes por associação foram feitos, e isso apenas na abertura de Paprika.
Vários diretores de Hollywood foram inspirados por Kon, inclusive Christopher Nolan. Tanto “A Origem” quanto “Paprika” são sobre sonhos, e ambos começam com vários conectados. A diferença é que na animação 5 sonhos são conectados, todos por meio de match-cuts. Enquanto na obra de Nolan, existe apenas um match-cut, em uma sequência de 4 sonhos.
Darren Aronofsky teve de pagar para utilizar imagens de “Perfect Blue” em “Cisne Negro”.
As transições eram essenciais nos filmes de Kon, pois era dessa maneira que os diferentes mundos interagiam entre si. Quando a realidade se tornava fantasia, quando um sonho se tornava um pesadelo ou quando a “vida” se tornava um filme.
A edição de Kon era tão rápida que ele declarou que nunca faria um filme tradicional. Sua edição era apenas possível em uma animação. Um momento de leve distração já era suficiente para o espectador não realizar que havia ocorrido uma mudança de cena. A subjetividade de tempo e espaço é enorme e por isso, muitos de seus filmes acabam sendo abertos para interpretação.
Satoshi Kon foi e ainda é uma grande referência no mundo da animação, ele acreditava que cada um de nós percebíamos tempo, espaço, realidade e fantasia de um modo como indivíduos e de outro como sociedade. Algo que ele tentava retratar por meio de imagens e sons em suas obras. Como imagens falam mais do que palavras, a sua última animação, de apenas 1 minuto, transmite muito bem todas suas ideias e valores. Você pode conferir “Ohayo” abaixo.
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