Foi nos subúrbios de Chicago que a família Portokalos se instalou como imigrantes estranhos à vizinhança tradicional americana, na qual tudo é bizarro ao olhar do branco, masculino e muito, mas muito, norte-americano; da forma de falar às comidas preparadas em coletividade, da dinâmica sempre ruidosa da família à estranha e diferente religião grega ortodoxa. Neste cenário multicultural que Tula, a filha norte-americana de Gus e Maria, cresceu. Errada, estranha a tudo e todos à sua existência. Como a irmã do meio, sempre teve dificuldade em se enturmar, além de ter a Grécia toda estampada em seu nome – Tula Portokalos – e o fato de não se encaixar em nenhum padrão de beleza, diferente de sua irmã mais velha, sempre uma campeã de audiência e platéias.


Por tudo, Tula Portokalos se sentia uma incógnita, por entre os muitos traços gregos em sua forma de agir e um desencaixe familiar atroz com a família. Se o mundo já impacta fortemente a insegurança feminina, imagine para Tula, que carrega a dualidade dos mundos de sua história. O universo de Gus,o patriarca, que acredita realmente que tudo pode ser consertado e curado ao utilizar o limpador de vidros WINDEX, o produto de limpeza, não torna a vida de Tula mais fácil. Além da mania de desconstruir qualquer palavra dita em inglês para comprovar alguma etmologia grega.


A família se estrutura economicamente em torno do Restaurante Portokalos, onde Tula, que não frequentou uma faculdade, continua trabalhando, assim como seus irmãos, primos, tios e tias. É a partir dessa dinâmica que “Casamento Grego” é construído, relacionando toda a bagagem cultural que faz de Tula uma jovem incompleta nesta dinâmica de vida greco-americana.


Depois da jovem grega conseguir entrar na faculdade, sua auto-confiança abriu outras portas, saindo do restaurante onde trabalhou e começando carreira na agência de viagens de sua Tia, a Portokalos Turismo. Uma agência de viagens com características muito mais fidedignas ao seu caráter, na qual Tula se sente cada dia mais realizada como protagonista de sua história.


Enquanto vive sua transição, Tula se conecta ao amor da sua vida, Ian Miller, um um belo e alto professor de inglês, com longos cabelos, cheio de carisma e, para piorar, católico e vegetariano. A partir, daí a narrativa segue envolvente em um rico tecido multicultural.


O filme Casamento Grego conta toda a história de construção de vida da 2º geração de imigrantes nos EUA, costurando a dinâmica de casamentos inter religiosos e culturais, com questões de poder e auto-confiança feminina. Tula passa por uma série de “makeovers” ao longo do filme, aparentando ficar mais atraente, entretanto, sua beleza é mais uma construção da sua segurança interna e auto-estima, do que qualquer transformação estética. A realização que experimenta ao conseguir sair do seu cargo no restaurante, passar a frequentar a faculdade e poder fazer as coisas que têm sentido apenas para ELA, são seus maiores cosméticos. A inter-relação entre diferentes religiões é bem explorada, pelas cenas cômicas que propicia, mas também pela perspectiva de compreensão, acolhimento e conscientização. Afinal, não é nada simples ter a coragem de apresentar para uma família fortemente estruturada e religiosa, alguém que não se encaixa em nenhum desses requisitos. Choques culturais muito bem explorados pela 1º vez em que cada um dos noivos vai conhecer a outra familia.

Quando Tula traz Ian pela primeira vez para a sua casa, o namorado já começa a ter choques culturais e vice-versa, no encontro da jovem com os pais dele. A riqueza afetiva e o calor da recepção grega e a paixão que todos compartilham por serem gregos, é imbatível e remete a uma união inigualável. Ian logo sente essa conexão e passa a se dar bem com a maior parte da família, exceto por alguns membros que se incomodam com o fato dele ser católico.


A fim de poder casar com Tula, Ian acaba se batizando na igreja grega ortodoxa e prova a todos os Portokalos o respeito e amor que tem por ela. Em toda a narrativa, uma das coisas mais legais e marcantes sobre a cultura grega, representada no filme, é o forte espírito de celebração em vários momentos da narrativa, expressos pela tradicional “fala” grega: “OPA”! Especialmente antes de virar copos e copos de bebida alegremente consumida.


Casamento Grego é uma das maiores comédias românticas dos anos 2000 e continua sendo mesmo incrível, que, depois de tantos anos, é um dos poucos filmes com um roteiro original, envolvente e pouco ofensivo desta época. O que sai bastante dos padrões da moça indefesa, o meet cute em Nova Iorque por um mulherengo que se transforma só para ela, ou o famoso jogo do “eu te pago pra fingir ser meu namorado durante uma viagem em família”. É na autenticidade de Casamento Grego ao reproduzir a dinâmica imigratória de amor pela vida em meio a choques culturais, quebra de tradições e uniões inter-culturais de família, que este romance traz ao mesmo tempo muita comédia, confusão, cultura e amor.