Nas últimas semanas, a Cerveja Feminista dominou as pautas de blogs e sites, tanto feministas quanto de propaganda. Falamos dela aqui também.
O projeto, inicialmente um “puxador de conversa” fez sucesso. Aliás, mais sucesso do que as criadoras do projeto esperavam: estão em contato com uma cervejaria grande para dar conta da demanda.
Fizemos algumas perguntas para as grandes mulheres por trás do projeto (Maria, Thaís e Lari) sobre esse sucesso gigantesco, sobre o que rola na publicidade brasileira, tanto no que vemos na tv quanto nos bastidores e sobre os possíveis caminhos da Feminista e também do 65 / 10.
– Por quê a escolha do produto cerveja? E por quê uma Red Ale?
Cerveja foi o primeiro produto que veio à cabeça porque pensamos na época da polêmica sobre a campanha de Skol. E depois, porque sabemos que é o produto que mais explora o corpo das mulheres para vender e, ao mesmo tempo, se nega a nos reconhecer enquanto consumidoras. Red Ale foi escolhida por ser forte e encorpada, como nós mulheres somos. E também por ter a cor vermelha, que é uma cor muito marcante na luta pela igualdade de direitos.
– Vocês já consumiam cervejas artesanais? Como a “Feminista” é produzida?
Sim. Nós todas adoramos cerveja, não somos pessoas que conhecem o assunto com profundidade, mas sabemos reconhecer os tipos principais. A Feminista está sendo produzida em parceria com uma cervejaria artesanal de São Paulo.
– Há mais categorias em que estereótipos sexistas perduram. Há alguma que também é especialmente complicada?
Sim, existem várias categorias. Mas duas que são especialmente complicadas são as de beleza e a de produtos de limpeza.
– Há mais projetos do 65/10 na linha do da Cerveja Feminista para lidar com isso?
Queremos muito. Mas no momento estamos focadas em continuar a campanha em torno da Feminista. Queremos promover debates com outras mulheres, debates com agências, dabates com marcas, além de campanha de conscientização com lambe-lambes e muito mais.
– A disparidade de gênero nos departamentos de criação é um indicador histórico? Isso mudou nos últimos anos para melhor ou pior?
A disparidade de gênero é algo histórico. No começo, não podíamos nem trabalhar. Aos poucos, algumas profissões foram se abrindo. Na publicidade aconteceu da mesma forma, as mulheres foram chegando aos poucos em diversas áreas, mas a criação nunca se abriu de vez. É espantoso ver que algumas agências possuem departamento de criação completamente formado por homens ainda hoje. Então não acho que piorou, porque hoje temos presença nas agências, mas dizer que melhorou também é demais.
– Acima dos departamentos de criação, nos cargos executivos e entre sócios de agências, essa disparidade se mantém?
Existe uma campanha mundial que mostra que entre diretores de criação, mulheres são apenas 3%. Então, posso dizer que a disparidade aumenta de acordo com a subida na hierarquia das agências.
– A recepção do projeto, inicialmente um puxador de conversa, e agora como um produto era esperada? Veremos a Feminista em pratelerias por aí?
Nas nossas cabeças, a cerveja sempre viraria produto mesmo. Só não esperávamos que a procura seria tão grande. Muito maior do que a melhor das nossas expectativas! Não sabemos ainda se ela chegará até lojas físicas, mas muita gente ainda vai beber a Feminista por aí.
– Caso a Feminista se torne efetivamente uma marca de cerveja artesanal, há o risco de ser vista somente com o um produto e toda a ideologia do 65/10 ser menos atrelada à ela?
Acho que o risco existe e por isso a gente tem que tomar bastante cuidado. Estamos pensando bastante em tudo isso e não queremos que a marca perca a atitude e o propósito que tem hoje. Se ela for de fato para bares e lojas, teremos que fazer uma pesquisa minuciosa para que nossa cerveja só frequente locais que sejam livres do machismo.
A Equipe do Newronio deseja sucesso para todas as empreitadas, atuais e vindouras.