Top Gun: Maverick, apesar de ter minimamente renovado, continua se encaixando em todos os aspectos de um blockbuster com o único objetivo de ganhar dinheiro. O segundo filme, lançado em 2022, é a sequência de Top Gun: Ases Indomáveis de 1986, e ao contrário do primeiro, veio totalmente desconexo do contexto atual e com o único objetivo de entreter e encher as salas de cinema. A sequência, apesar de ter melhorado em alguns pontos, continuou pregando o erotismo militar, o padrão de beleza comum, cenas com ação até demais, e claro, o final feliz.  

Não é segredo que Top Gun trata principalmente de competição e vitória: conquistar a mulher mais bonita, o reconhecimento de superiores, ser popular e ter um sucesso social. Em resumo, o filme prega o valor de se estar por cima, ser elite, o melhor, o vencedor. A história tenta fundir as imagens high tech, o heroísmo mítico e a masculinidade para formar uma figura “top gun” que triunfa em todos os setores da vida. Esse discurso até faria sentido levando em consideração o primeiro filme que foi lançado em 1986, quando as forças militares norte-americanas precisavam recrutar soldados, mas em 2022 já se tornou uma história e uma imagem clichê e desgastada.

Um dos poucos pontos fortes do filme foi a inclusão de diversidade de maneira natural e longe de parecer algo forçado. Diferentemente do primeiro, a continuação incluiu mulheres, negros, latinos e asiáticos, o que destoa do elenco do filme de 86 que praticamente só consistia de homens brancos. Porém, apesar da diversidade, as imagens ainda reforçam o padrão de beleza comum, com corpos sarados bem definidos e nenhuma característica que se destoe do padrão. O filme ainda faz do personagem militar uma imagem de herói, de uma pessoa sem defeitos, com aparência sexy em seu uniforme, e com uma mulher bonita ao seu lado, elemento que inclusive prolongou o andamento da história fazendo o filme ter mais tempo do que o necessário.

A narrativa já demorou para entregar ao espectador o que ele mais esperava: a amizade e conexão entre Maverick e Rooster, o filho de Gooser, parceiro de trabalho e melhor amigo que faleceu em um acidente com Maverick no primeiro filme. Apesar de retomar muitos aspectos antigos, foi só depois de quase duas horas de filme que entregaram a amizade e a química dos dois pilotando juntos. E no momento em que a narrativa tinha tudo para acabar bem e ter o final perfeito, eles retomam o romance que nada agregou na história além da já óbvia formação de um casal.

Desconsiderando esse romance jogado na história e apesar da demora, o filme teve um final fechado, com elementos que referenciavam a primeira produção e com premissas que foram prometidas e cumpridas. No final, Maverick retorna da missão pilotando um Mikoyan Gurevich, um caça mais conhecido como MIG-29, avião projetado e o mais avançado em 1970. Em 2022, o avião volta à cena e é considerado velharia pelos novos pilotos da academia, causando uma nostalgia no público. Essa cena volta às raízes do filme não só pelo aparelho em si, mas também pelo fato de Maverick e o filho de seu melhor amigo e copiloto estarem pilotando juntos, dando a impressão de que Maverick finalmente superou a morte do amigo e está preparado para seguir em frente.  

As últimas cenas relembram a mensagem do filme de que o que importa não é a máquina, e sim o piloto, e reforçam pela última vez a imagem que já foi passada durante todo o filme: só uma pessoa Top Gun pode ser tudo isso. E assim o filme acaba com o famoso final feliz, com o casal junto, as pessoas bem resolvidas, a missão cumprida, o prêmio vencido e o mais importante, a reputação de ser um Top Gun. Em resumo, quem espera assistir um filme de ação por puro entretenimento e não pede por uma moral da história e mensagem alguma, Top Gun 2 realmente atingiu seu objetivo. Mas para o público que está cansado da mesmice de carros em alta velocidade, aviões fazendo manobras perigosas e personagens masculinos estereotipados, nem se dê ao trabalho de assistir ao filme, porque ele realmente está na classificação de Ação e Aventura mais tradicional e sem significação do cinema.