“Essa é uma história de muito tempo atrás, quando a vida de humanos e Pokémon ainda eram separadas.”

A proposta inicial de Pokémon Legends: Arceus é revolucionária para a franquia e mexe com o imaginário do seu público. Você pode ter começado a jogar nos consoles novos ou ser saudosista da primeira geração, mas, arrisco dizer que a ideia de um jogo de exploração em mundo aberto sem as regras sólidas de ginásios ou insígnias sempre foi um sonho ou, pelo menos, uma curiosidade que você já teve.

Desenvolvimento da lore

Intencionalmente deixada de lado, a lore nunca foi prioridade para a Pokémon Company, seja por acreditar que as gerações passariam e a faixa etária do público alvo se manteria a mesma ou por identificar outros pontos que deveriam ser priorizados. Mas, em Pokémon Legends, o rumo foi outro. O foco dado à região de Hisui e ao seu background, enfatizando que viria a se tornar a Sinnoh que conhecemos, é um movimento que interliga a lore diretamente aos outros jogos.

Diferente do que é feito em Mistery Dungeon, Ranger e nos demais jogos que alternam a mecânica padrão, agora não foi dada uma ideia de mundo paralelo com novos continentes e personagens soltos. O foco parece ser, pela primeira vez, construir uma lore unificada e central, pegando exatamente a geração cujos Pokémon e região possuem o maior background para a cosmologia do universo.

No começo, havia apenas uma agitação turbulenta de caos.
No centro do caos, onde tudo se torna um, apareceu um Ovo.
Tombando do vórtice, o Ovo deu vida ao Ser Original.
De si mesmo, dois seres o Ser Original fez.
O tempo começou a rodar. O espaço começou a se expandir.

De si mesmo, três criaturas vivas o Ser Original fez.
Os dois seres desejaram e, deles, surgiu a matéria.
As três criaturas vivas desejaram e, delas, surgiu o espírito.
O mundo criado, o Ser Original caiu em um sono implacável…”

O Ser Original do poema em sua única aparição no trailer de Pokémon Legends

Arceus sempre nos foi introduzido como o Deus, o criador do universo, reunindo conceitos da física, do cristianismo, do xintoísmo e do taoísmo. É válido lembrar que o trailer lançado ontem (18/08) termina com uma provocação: “O que será que Arceus tem a ver com essa história?”

História do jogo

Enquanto o primeiro ponto é mais direcionado ao que o jogo soma a lore da franquia, esse segundo é especificamente sobre o Legends. Apesar do vertiginoso foco na visão macro da história , também tem alguns pontos de destaque na microvisão.

Somos introduzidos ao objetivo de reunir informações para a criação da primeira Pokedex. Em pequenas tarefas, exploraremos o cenário e as interações para buscar o que os pesquisadores do Vilarejo de Jubilife – que viria a se tornar uma das maiores cidades de Sinnoh – precisam, além de reunir materiais para o desenvolvimento de PokéBolas e demais itens tanto no vilarejo, quanto em pequenos acampamentos.

Mecânicas

Depois do gostinho que Sword & Shield deixaram no fã de Pokémon, explorar uma região em mundo aberto já seria autossuficiente nesse tópico. Mas, talvez, a questão das mecânicas tenha sido a mais grata surpresa até agora. Ao melhor estilo dos cavalos e da asa-delta de Zelda: Breath of the Wild, foram reveladas três tipos de montarias até então; no céu, na água e na terra.

O fato da natureza de cada Pokémon ter sido respeitada na atribuição de uma mecânica também merece destaque até aqui. Se um Bidoof, por exemplo, for amigável – e provavelmente vai ser: é um Bidoof –, conseguiremos chegar perto de primeira, ao mesmo tempo que se um Ursaring se sentir ameaçado, atacará e precisará ser enfraquecido para ser capturado.

Dentre algumas outras novas mecânicas, uma merece menção honrosa: a nova forma de arremessar PokéBolas. Quando a ideia é fugir dos mecanismos tradicionais de point click, propor novas formas sempre foi interessante. O resultado, não. Simular a mecânica de Pokémon GO, como foi feito algumas vezes, não surtiu um efeito muito legal – além de pecar no quesito inovação. Mas Pokémon Legends parece ter encontrado um meio termo interessante, em que você precisa acertar o alvo mas sem perder o dinamismo.

Gráfico

Para quem estava acostumado com os jogos antigos da franquia, a questão gráfica é animadora e, por que não?, emocionante. Para jogadores assíduos de BotW, Genshin e outros jogos em mundo aberto, não. Mas essa comparação, tendo em mente que a proposta nunca foi competir com as outras franquias, faz sentido?

Quem chegou mais perto de ameaçar a franquia de Pokémon, enquanto concorrente, foi Yo-kai Watch. Zelda, Genshin Impact ou qualquer outro jogo ao estilo de RPG não compete pelo mesmo público, cada um já tendo sua fidelidade assegurada. Partindo daí, a questão gráfica anima quando o objetivo é trazer mais realismo e proximidade das criaturas com os jogadores que, de certa forma, sempre desejaram ver isso acontecendo.

A experiência proposta por Pokémon Legends: Arceus é, em uma tacada só, segurar os fãs que começaram a jogar a partir de Diamond & Pearl, que aos 20 anos começam a dispersar o foco na franquia, recuperar os fãs das gerações iniciais e fidelizar a geração Nintendo Switch, trazendo um jogo que utilize parte do que o console tem a oferecer.

Pokémon Legends promete! Só o tempo, criado nos primórdios por Arceus, nos dirá se o hype valeu a pena ou não.

Contando algumas histórias nas minhas próprias contradições.