Você já reparou como na maioria dos filmes com personagens mulheres suas conversas se resumem a fofocas ou homens? Ou entãoOu, então, quando temos uma protagonista feminina suas ações são sempre motivadas por um interesse amoroso? 

Se você pensar nos diálogos e na narrativa dos seus filmes favoritos, será que eles passariam por esse teste simples?

O teste de Bechdel

Nomeado a partir da quadrinista Alice Bechdel, o teste consiste em analisar se um filme, livro ou qualquer outro tipo de obra, tem personagens femininas conversando sobre algum assunto que não seja sobre homens. Assim, para passar no teste, a trama precisa cumprir três regras:

  1. Ter, pelo menos, duas personagens mulheres (com a observação de que, para ser considerado um personagem a pessoa precisa ter um nome e aparecer por mais de 40s na tela);
  2. Elas devem conversar entre si;
  3. Essa conversa não pode ser sobre um homem.

O termo, mencionado pela primeira vez em 1985 no quadrinho “Dykes to Watch For” da autora, foi logo adotado pelas pessoas ao repararem como muitos filmes famosos realmente não desenvolviam suas personagens femininas e não passavam no teste, como podemos exemplificar:  “ O Senhor dos Anéis, “O Show de Truman”, “Vingadores”, ou até mesmo “Toy Story”. 

Quadrinho Dykes to Watch For, de Alice Bechdel onde o Teste de Bechdel foi mencionado pela primeira vez.

A construção de personagens femininas

Toda a criação do Teste de Bechdel, que começou com uma conversa de Alice com sua amiga Liz Wallace, inspiradas nas obras de Virgínia Wolf, traz em cena a importância de discutir como personagens femininas são construídas na ficção e seu propósito nas histórias contadas.

É muito fácil se perder na narrativa da mulher que precisa de um homem, e, por muito tempo, era nisso que os filmes se baseavam: a objetificação das mulheres, com as personagens femininas sendo usadas apenas como apoio aos personagens masculinos. Isso se dava, principalmente, pelo chamado male gaze, ou seja, filmes feitos por homens e para homens.

Na atualidade, uma obra que representa bem a profundidade e complexidade possível em histórias femininas e sua gama de interesses é a adaptação de “Adoráveis Mulheres” (2020), da diretora Greta Gerwig que conta como protagonistas as quatro irmãs: Meg,Jo, Amy e Beth. 

Adoráveis Mulheres (2020), Greta Gerwig

Apesar das personagens terem interesses amorosos na trama, o filme busca mostrar como as mulheres são protagonistas de sua própria vida. Enquanto Jo, personagem interpretada por Saoirse Ronan, busca uma vida de sucesso como escritora e enfrenta os desafios de uma vida adulta e independente, Amy, interpretada por Florence Pugh, se encontra em uma sociedade machista, que não a valoriza se ela não estiver casada com um homem. As visões diferentes das duas trazem reflexões para nós espectadores, assim como uma crítica ao papel da mulher e como ele é representado nas obras, visto que, quando temos um protagonista masculino a trama geralmente tem histórias ao redor de sua carreira, enquanto com protagonistas mulheres, os dramas se resumem a interesses amorosos.

A indústria 

É importante ressaltar que o teste não avalia necessariamente a qualidade dos filmes, já que temos muitos filmes bons e até com personagens femininas bem construídas que não passam nele. O propósito aqui é refletir sobre como a relação das mulheres é usualmente representada na mídia, ou seja, é mais uma crítica à indústria do que a filmes específicos.

Nos anos 90, apenas 50% dos filmes lançados passaram no teste, enquanto em 2021, apesar da ideia que esse percentual aumentaria consideravelmente, ele subiu apenas para 60% dos filmes. Além disso, é possível analisar uma diferença de bilheteria entre filmes que passam ou não no teste, além de indicações ao Oscar.

Além dos filmes já mencionados, ‘LaLaLand”, “Moonlight” e “Manchester at Sea” ( filmes indicados ao Oscar em 2017) não passaram no Teste de Bechdel.

As consequências do teste

Porém, vale dizer que se as mulheres são mal representadas a culpa não é somente da indústria,roteiristas ou diretores, mas também do público que continua consumindo e não percebendo o constante padrão de uma visão e até direção masculina nas produções.

Somos aquilo que consumimos, assim todas as obras que escolhemos,; assistir, ler ou comentar sobre refletem a realidade que estamos vivendo. Por isso, o Teste de Bechdel é tão importante, pois além de fazer com que os espectadores tenham um olhar mais crítico do que consomem no seu dia a dia, traz representatividade das relações femininas como elas realmente são: muito mais do que apenas sobre homens.

Fontes:

https://buzzfeed.com.br/quiz/os-filmes-do-oscar-2017-passam-no-teste-do-sexismo