Intro

No dia 15 de novembro de 2012, a Ilha Club Penguin acordou no escuro.

O que era para ser só mais um dia se tornou a data que todos se recordariam o que estavam fazendo quando o sol não raiou. 

Quando ninguém sabia, ninguém compreendia o que estava acontecendo. 

Quando a força defensora da ilha, a EPF, ardeu em chamas e sirenes ecoaram pela ilha.

Quando toda a esperança foi perdida. 

Como a bola de neve se criou

Em agosto de 2011, Herbert P. Bear, o urso polar que por algum motivo despreza os pinguins, foi capturado durante o sono num evento-operação que mais tarde foi conhecido como Operação Hibernação. Uma câmera no QG da EPF (Elite Penguin Force) o monitorava dia e noite, com um sensor de movimento e sensores de sono para garantir que ele continuaria adormecido.  

No entanto, seu cativeiro não foi longo. Durante o evento da Expedição Submarina, no primeiro mês do ano seguinte, Herbert desapareceu misteriosamente, boiando pelo mar porque Rookie, um dos agentes da EPF, acidentalmente inclinou a ilha numa tentativa de afundar a praia que só depois foi perceber que “estava grudada ao resto da ilha”. 

O paradeiro do urso foi desconhecido por muito tempo, mas logo foi esquecido com a vinda de novos eventos mensais.

Mas foi durante a Festa de Halloween que tornou-se mais evidente que a maré estava mudando e trazendo um urso consigo.

Na 365ª edição do jornal Club Penguin News, um indivíduo que se identificou como Hubert P. Enguin (nada suspeito) perguntou ao Gary, o cientista da ilha, como se, teoricamente, construiria um laser reversor infravermelho de alta frequência. Só teoricamente. Gary, incrivelmente ingênuo para alguém conhecido pela sua descomunal inteligência, respondeu que bloquear o sol precisaria de uma gigantesca quantidade de energia e a parte mais difícil seria fazer o dispositivo que cria anti-luz.

Uma pequena pista sobre o que viria que passou despercebida. 

Durante o mesmo evento, houve o lançamento do clipe “Ghosts Just Wanna Dance” (um HINO atemporal), é possível ver Herbert de relance, segurando uma placa com um sol riscado com um “X”.

Os jogadores descobriram, também, um site chamado clubherbert.com. A página mostrava uma mesa com um computador e alguns post-its grudados na tela com uma mensagem de “Aproveite antes que eu destrua” e uma lista de possíveis alvos com nomes dos agentes da EPF, incluindo a própria Diretora. E, semanalmente, o site era atualizado com mais e mais informações, como se o dono daquele computador (oh, meu deus! quem seria?) aos poucos descobrisse as identidades dos agentes (Na ordem: Gary, Dot, Rookie).

Uma semana antes do Apagão, no dia 8 de novembro, o Club Penguin News anunciou que Gary estava desaparecido. Caso você entrasse no clubherbert.com, era possível ver mais uma identidade revelada (Cara do Foguete), ambas fotos e nome na lista de Gary riscados e uma foto polaroid de Gary congelado.

Uma semana depois, a tela do monitor revelava a base da EPF, destruída e em chamas, e um novo recado: 

Quem é A Diretora?

Nessa época, ninguém, absolutamente ninguém, tinha noção da proporção e impacto que esse evento teria para a história do jogo e vida dos jogadores.

O(peração) Apagão

Com um trailer instigante cheio de ação e adrenalina, a missão foi dada aos agentes: Salvem a ilha.

Foi anunciada como uma festa de maior proporção do que as outras, mas para uma criança de 8-10 anos na época, aquilo foi um divisor de águas, uma experiência que só quem experienciou sabe. 

Herbert construiu um forte (da noite pro dia) no topo de uma montanha, criou um laser que bloqueou toda a luz solar de entrar na ilha, exceto por uma pequena brecha sobre o forte, condenando a ilha num frio e breu sem fim. A cada dia que se passava, sem o sol para derretê-la, mais neve se acumulava pela ilha, soterrando-a cada vez mais no escuro.

Lembro de tentar explicar para a minha mãe o que estava acontecendo e ela me olhar daquele jeito que não estava entendendo nada mas não podia expressar para não magoar a criança. 

A ditadura Herbertorial

Em um dia, toda a identidade visual alegre que caracterizava a ilha foi manipulada pelo urso. A tela principal, antes com pinguins se divertindo, foi substituída por um Herbert extremamente perto com um sorriso de vitória estampado no rosto enquanto diz “É o fim!”. 

O jornal inteiro foi censurado com notícias de, e apenas de, Herbert. O nome foi trocado de Club Penguin News para Club Herbert News. As piadas pré-prontas clássicas, como as de pontinhos verdes e peixes que caem de prédios, foram substituídas por outras que giravam em torno de Herbert. A peça era sobre a vida dele. O catálogo de roupas tinha a cara dele presa com fita adesiva em todas as páginas. Novas leis foram impostas, onde era proibido dançar, cantar, fazer festas, rir (exceto Herbert), etc. Divertir-se no geral era proibido. 

Tudo havia se tornado sobre Herbert. Para Herbert. Até fizeram uma paródia de “Gangnam Style” com ele!

A ilha sofria sob as consequências do urso, que aproveitava o calor do sol inteiro para si.

A sede da EPF poderia estar em ruínas, mas seus agentes estavam mais preparados do que nunca.

   A EPF resiste

No dia 1º de novembro, com o fim da festa de Halloween, a imagem de capa foi substituída pela imagem oficial do evento anunciando a duração do evento (15 de novembro até 1º de dezembro). Isso foi uma forma de falar que a EPF ainda estava ali pela ilha, com os olhos bem abertos.

Um pequeno adendo: as identidades dos agentes (exceto A Diretoria) foram reveladas ao público durante a ditadura do urso.

Sua comunicação e atualizações sobre a operação vinham através de um celular, onde a voz da Diretoria (inclusive, esse foi um dos primeiros eventos a ter dublagem no jogo) te dava um acessório e contava a próxima etapa a ser seguida (onde você usaria o equipamento). Era o assunto do momento. Um marco na história do Club Penguin. 

A cada dia que se passava, a cada rachadura no sistema de segurança, um agente era congelado. Primeiro Gary (desaparecido desde o começo do evento), Dot, Rookie e Cara do Foguete. Na edição seguinte do Club Herbert News, na capa há Herbert anunciando que todos os agentes haviam sido capturados, exceto A Diretoria. 

Lembra daquele site que mostrava o monitor do Herbert com as fotos dos agentes cujas identidades foram reveladas? Se você acessasse depois da prisão do Cara do Foguete, era possível ver a foto da Diretoria na parede, significando que Herbert sabia sua identidade verdadeira.

As missões eram extremamente bem projetadas e divertidas de fazer. Você invadia o forte de Herbert e se movia pelos dutos de ar. Numa cena, em específico, você conseguia ver o quartel general de Herbert, com o painel do laser e os agentes congelados ao lado, em poses de desespero. Sen-sa-cio-nal.

Com uma nova base no subsolo de alguma caverna, os agentes traçavam seu plano de destruição do laser sem que Herbert os encontrasse antes. Com um túnel secreto cavado na pedra que levava até bunker do forte, os jogadores conseguiam entrar e sair com facilidade.

Quando o sistema de segurança finalmente quebrou, a porta de segurança máxima do quartel general se abriu. Entrando com o equipamento dado pela Diretoria em sua última transmissão, você finalmente estava frente-a-frente com o laser.

No entanto, um pequeno detalhe fez com que a operação se tornasse ainda mais urgente: A Diretoria estava ali, capturada e congelada. 

Os jogadores precisavam salvar a ilha agora ou nunca.

Por mais que a estrada pela frente seja longa, a EPF se erguerá novamente

No dia 24 de novembro, você finalmente entra no quartel general. Você finalmente está cara-a-cara com o laser e seus colegas da EPF, que precisavam de você, jogador, como nunca. 

Essa parte não era mais sobre a EPF ou seus agentes, era sobre o jogador e sua única chance de salvar a ilha do eterno congelamento e apagão.

Num último desafio, o jogador desativa o laser e uma cutscene se inicia.

O painel de controle do laser pisca em vermelho e um alarme ressoa de fundo. O laser, antes funcionando dia e noite, começa a soltar faíscas e desliga. Um clarão inunda a tela, transicionando para uma visão distante da ilha. A luz solar estava de volta. Pinguins agasalhados e deprimidos, de olhos abatidos e espíritos desesperançosos, eram surpreendidos com o retorno do calor. A alegria se espalhava com os raios. Os dias sombrios haviam acabado, finalmente podiam respirar. Celebrações, aplausos e agradecimentos são ouvidos por toda a ilha. Herbert vê sua derrota no topo de uma montanha e expressa seu descontentamento num berro ecoante. Os agentes são descongelados e se reunem ao redor do jogador, o salvador da ilha. Eles sorriem e A Diretoria conversa diretamente contigo. Ela elogia seu trabalho, suas habilidades e constata que, graças a você, a ilha Club Penguin está a salvo. A névoa que encobria a misteriosa figura se dissipa enquanto ela fala, revelando sua verdadeira identidade. Tia Arctic, a editora-chefe do Club Penguin News. Você era digno de saber seu segredo. A cutscene termina com os agentes caminhando e uma frase: Por mais que a estrada pela frente seja longa, a EPF se erguerá novamente.

Aos poucos, o sol derretia a neve excessiva e a esperança retornava aos corações dos pinguins. Por demanda popular, o jogo foi estendido por mais alguns dias, até 6 de dezembro, quando tudo voltou ao normal e a operação agora pertencia à memória daqueles que participaram.

Minha (humilde) opinião

Senhores, esse evento foi a Monalisa do Museu Club Penguin. Não é a toa que o dia em que a identidade da Diretoria foi revelada foi o dia com mais acessos na história do jogo, com 1,8 milhões de acessos simultâneos. Desde a trilha sonora icônica que, ao contrário dos sons animados e “gentis” típicos da ilha, fazia você ao mesmo tempo sentir a tensão da situação que estava acontecendo (nas regiões assoladas da ilha, mas se sentir numa situação de vida ou morte quando dentro do forte. Até a música tema da EPF foi regravada com uma bateria (usando principalmente os pratos) e guitarras.

A mudança de tom na comunicação não era esperada. Claro, já houveram outras operações antes, algumas envolvendo Herbert ou não, mas nenhuma teve um impacto e alterações como essa. O sol ainda brilhava no céu. Os pinguins ainda sorriam, ainda dançavam, ainda se divertiam.

Ver a Estranha Parafernália Falante (disfarce da Elite Penguin Force) em chamas enquanto um caminhão interativo tentava apagá-lo foi uma das imagens mais marcantes do evento, junto com a visão interna da base secreta: com fios soltos e um rombo gigantesco com faíscas de equipamentos e destroços por todo lado, perdendo apenas para uma cutscene no final do mesmo (falaremos dela mais tarde).

E o que foi aquela cutscene? Quando revi para escrever esse texto, me arrepiei inteira, igual à Koli de 9 aninhos. Ser recompensado com a identidade da Diretoria depois de tantos anos se questionando e uma operação de cair o queixo foi uma das melhores coisas na minha experiência com o Club Penguin. Um desfecho com 0

chave de ouro. E a qualidade das cenas ainda impressionam depois de mais de 10 anos. 

Operação: Apagão foi o evento mais popular do Club Penguin e não tem como negar isso. Nisso, a Disney (dona do jogo) viu uma chance de fazer eventos crossovers como estratégia de marketing, como os eventos dos Vingadores, Universidade Monstro, Frozen, Star Wars, Teen Beach Movie e assim vai. Na época eu até gostava desses eventos, de fazer parte e conseguir itens de filmes que eu gostava, mas hoje em dia vejo um número notável de problemas nisso. Quaisquer eventos depois desse ficaram insossos e, misturados com outros fatores, levaram à decadência do jogo.

Mas isso é assunto para outro texto.