When Calls the Heart é o primeiro livro da série de época sobre o Velho Oeste canadense de Janette Oke (Canadian West). Apesar da publicação ter ocorrido em 1983, a história se passa no final do século 19 e explora todo o passado do Velho Oeste e os heróis que formaram a cultura da região (spoiler: os incríveis mounties).

O livro se inicia com Elizabeth – narradora e personagem principal -, uma jovem integrante da classe alta de Toronto; ela é a terceira filha de Elizabeth e Ephraim e, no início do livro, contextualiza o leitor sobre seu papel na família.

Elizabeth Thatcher se diferencia bastante do restante de sua família: ao contrário de suas irmãs mais velhas, ela não é casada e, diferentemente de sua irmã caçula, ela não tem interesse em buscar um interesse romântico​​. Além da diferença na parte romântica, a sua personalidade também não era parecida com a de suas irmãs: uma era muito zelosa e, naturalmente, uma excelente dona de lar, a outra era uma talentosa musicista e a mais nova uma grande “vida louca”. Sua personalidade era definida como prática e segura; era ela  quem sempre ajudava nas crises familiares e tinha um senso bastante diplomático. Por isso, escolheu se tornar uma professora; ela acreditava ser uma decisão prudente e sábia, já que gostava de crianças e de livros. Durante esse período de contextualização de sua realidade, a jovem se encontra  nas férias de verão no  aguardo do  início de mais um ano letivo.

Em um café da manhã aleatório de Julho, a mãe de Elizabeth recebe uma carta de seu filho Jonathan, fruto de seu casamento prévio do qual se tornou viúva. A mãe expressa grande surpresa e desejo em compartilhar com Elizabeth todo o conteúdo da carta, o que era bastante comum para aquele evento bastante frequente; entretanto, a protagonista já percebe que a mãe tem algo mais intrigante para dizer, não tão rotineiro ou comum assim.

A carta é repleta de  atualizações regulares sobre a família de Jonathan e sua vida na terra de Calgary (uma viagem de aproximadamente 5 dias de Toronto) que, à época, estava começando a se estabelecer como uma “cidade”. No decorrer da carta, Jon começa a expressar a grande necessidade de educadores nas moradias da região, e a escassez de formação entre os povos que vinham da Europa sem conhecimento da língua inglesa. Além disso, o irmão informa a escassez de moças na população para a quantidade de homens que foram para lá trabalhar.

Uma das coisas mais incríveis da leitura é que, junto com todo o conteúdo novelístico e romântico, também é apresentada uma grande contextualização histórica do Canadá e da colonização das terras nativas; isso porque a história acontece na região próxima a Calgary, então, o leitor sente um gosto de toda experiência de Beth no Velho Oeste canadense.

Pensando na solidão do filho mais velho e todos os demais fatores apresentados na carta, Mrs Elizabeth enxerga a sua filha “prática”como a melhor solução para suprir todas essas necessidades. Ao sugerir a Elizabeth que se mudasse para Calgary, a moça entra em grande choque e dúvida e fica bastante indecisa. Apesar de a mãe ter grande desejo de que Jonathan tenha familiares próximos a ele em Calgary, ela deixa claro que não quer pressionar a jovem e a decisão está em suas mãos.

Como já contei anteriormente, Elizabeth aceita o desafio e embarca na jornada ao Oeste Canadense para se aventurar e conhecer um mundo completamente novo; assim, começa a grande série de livros sobre o Oeste canadense de Janette Oke.

O que a jovem não sabe, é que ela vai ser colocada para ensinar numa escola ainda mais afastada de qualquer tipo de urbanização que Calgary começa a construir; a professora fica encarregada de se mudar para Lacombe.

No primeiro livro, participamos da adaptação de Beth a sua nova realidade e, com isso, a escrita de Janette traz um tom bastante cômico e leve –  imagino que seja pelas palavras em primeira pessoa -; o leitor se sente próximo a Elizabeth, como um amigo que passa pelos desafios ao seu lado.

Não vou dar muitos spoilers sobre o que acontece com a nossa jovem professora, afinal, espero que, após minha sugestão, muitos venham a ler o livro; entretanto, acho legal apontar que, além da escrita que aproxima o leitor da Personagem através do formato de ‘diário’ que o livro tem, é também incrível como o conteúdo das falas é possível de se relacionar com o público jovem.

A dúvida, o anseio e os medos de um jovem adulto tentando compreender seu lugar no mundo, a adaptação de alguém que viveu sempre no conforto da casa dos pais agora morando em um pequeno chalé no meio da floresta (analogia para quem morava no interior com os pais e agora está entre quatro paredes no meio de São Paulo talvez?), e principalmente, a preocupação de Beth com sua vida amorosa. Até o momento em que a história começa, a protagonista nunca teve desejo de casar ou se atraiu por algum de seus possíveis pretendentes.

Ela se sente estranha e diferente das demais jovens ao seu redor, como suas irmãs, que já eram até mesmo casadas, ou Julie que sempre estava com um novo parceiro. A insegurança de não se encaixar no cotidiano do restante é cativante, independentemente de qual assunto se relacione com a sua vida; a maioria de nós tem o medo de não ser “normal’’ como os outros.

Como um bom romance de época, Elizabeth acaba conhecendo um moço pelo qual ela pela primeira vez demonstra um sentimento de atração, entretanto, ela acaba descobrindo que ele é o pai de um de seus alunos.

Ao longo da história, a protagonista se sente confusa em relação a atitude de Wynn (o tal pai do seu aluno), pois tem certeza de que ele havia sido atencioso com ela de forma inadequada caso fosse realmente casado; no final, após vários desentendimentos ela descobre que ele é apenas tio do menino e, de fato, é solteiro.

Além do caso de desentendimento entre o estado civil do seu alvo, Elizabeth enfrenta a grande certeza que o homem tem de que não deseja se casar. Por motivos cavaleiros, Wynn entende que sua profissão não provê uma estabilidade da qual sua futura esposa mereceria e, por isso, não busca interesses românticos em sua vida.

Caso esteja se perguntando o que esse homem faz de tão importante, ele nada mais, nada menos, é um Mountie: aqueles policiais canadenses que vestem vermelho e protegem a todos e todas, realmente os heróis da nação.

Não vou contar mais sobre Beth e Wynn para não estragar o livro, mas não seria surpresa a ninguém o spoiler de que no final eles ficam juntos. O mais legal é o caminho para isso acontecer e essa parte você precisa ler para conhecer!

Os livros de Janette Oke inspiraram a série ‘When Calls the Heart do Hallmark Channel; eu conheci a série antes mesmo dos livros e era bastante fã, mas posso afirmar com certeza que os livros ultrapassam infinitamente a qualidade da produção cinematográfica.

A qualidade da história, o realismo e a humanidade da personagem são totalmente profundas na escrita de Janette e realmente transformam a leitura em uma experiência fluida e viciante.

Recomendo então que leiam primeiro o livro e, logo mais, eu venho com a resenha da segunda parte da Jornada pelo Nordeste Canadense!