Sinapse por Pedro Hutsch Balboni, 25/09/2009 às 17h30. Semana Verde.
Esta semana foi a Semana Verde aqui no Newronônio. Começou no dia 21 de setembro, dia da árvore, quando falamos sobre o Hora de Acordar Global, um movimento para pressionar os líderes globais a assinarem um tratado que diminua o aquecimento global. O dia seguinte foi Dia Mundial Sem Carro, e o transporte foi o tema abordado. Em sequência tivemos como pauta a reciclagem de lixo eletrônico, e ontem falamos sobre ações simples feitas dentro do ambiente virtual que podem ajudar o planeta. Hoje falarei sobre o Paradóxo do Século XXI.
O termo na verdade é usado por meu pai (não sei se há algum teórico que também use ele), mas exprime com exatidão o drama em que vivemos. Desde quando o homem é homem, o progresso e o desenvolvimento das civilizações significou extrair recursos naturais do planeta para converter no que o homem chama de riqueza. E extrair recursos naturais significa, em primeira instância, derrubar as árvores para conseguir madeira, explorar o solo em busca de minerais, e assim em diante. O progresso e o desenvolvimento, portanto, têm em seu significado histórico o ato de usar recursos do planeta.
Acontece que a nossa capacidade de corte cresceu demais. O Brasil foi colonizado a 500 anos atrás, e de lá para cá uma parcela absurda da mata já foi derrubada. Nesse processo, perdem-se ecossistemas inteiros, perde-se variedade, perdem-se espécies que poderiam nos ajudar a entender melhor o mundo. Não estou falando que é um processo irreversível esse da derrubada das matas, mas que ele acarreta em perdas. Na Europa, por exemplo, a maior parte das florestas que ainda existem lá são frutos de reflorestamento, ou seja, foram reconstituídas – houve perdas. Chegamos a um momento crucial, que nos obriga a parar e olhar para trás, para o que viemos fazendo esses anos todos, e mais, que nos obriga a parar e a encontrar outras alternativas de gerar as tais riquezas.
Não são poucas pessoas pensando no assunto, e mais que isso, cada vez mais pessoas se preocupam com ele. As empresas, sempre ligeiras quando o alvo é lucro, tentam se mostrar como responsáveis perante o meio ambiente e perante a sociedade, usando isso como um diferencial competitivo para ocupar um lugar de destaque no coração do consumidor, não apenas em sua mente. O termo “Capital Social”, ou whoffies, traduz essa tendência de tentar capitalizar a seu favor uma causa comum. Apesar de muitas dessas ações não representarem, no fim das contas, um diferencial para o planeta, é importante que elas comecem a acontecer. (Leia aqui sobre greenwash.)
Da mesma maneira enxergo o comércio de créditos de carbono. Em suma, as empresas podem comprar o direito de poluir através desses créditos, e assim continuar sua produção sem restrições legais. A quantia que a empresa compra é equivalente a área verde que o vendedor vendeu, são os créditos que ele vendeu para a indústria (não sei os critérios desse comércio, estou fazendo uma descrição genérica – se quiser ler mais sobre o assunto, veja aqui). Isso significa que em um primeiro momento, as emissões continuarão como estão, mas a longo prazo a medida pode fazer alguma diferença. Primeiro porque o mercado de créditos de carbono é novo e ainda irá amadurecer – o que vai acontecer quando todos os créditos forem vendidos, se é que isso pode acontecer? O preço vai subir? Pessoas poderão se organizar para vender o crédito de suas plantas de jardim, de modo a conseguir escala para isso? (Olha a oportunidade de negócio aí!) O segundo motivo que consigo enchergar é o “investimento” em quem realmente preserva. Veja, é difícil manter uma área de floresta intacta, simplesmente protegida, em tempos como hoje, onde seria fácil e rentável derrubar tudo e trocar por moedinhas.
Acredito que as áreas destinadas à preservação ambiental irão aumentar, lenta e gradativamente, e à medida do possível. E o turismo ecológico se mostra como uma poderosa opção para quem quiser preservar. Existem várias possibilidades de se abordar o turismo ecológico, oferecendo trilhas com cachoeiras para os visitantes, esportes radicais, o contato com diversas espécies, educação ambiental para as crianças, estudo para biólogos, o leque é grande e tende a crescer.
Hoje é dia 25 de setembro de 2009, e faz 40 anos que meu tio Zizo foi morto durante a ditadura no Brasil. O quê isso tem a ver com este post?? Tudo. Quando o assassinato político de meu tio foi reconhecido pelo governo, a família foi indenizada, e com essa indenização fundamos o Parque do Zizo, uma reserva ambiental localizada no município de São Miguel Arcanjo. Não vou me aprofundar muito sobre o Parque para não perder o foco, mas você pode ler a reportagem que preparamos sobre esses 40 anos aqui, e pode assistir o vídeo abaixo. O caso do Parque do Zizo é um entre muitos que estão surgindo e encontram cada vez mais subsídios para existir, provando que o turismo pode ser uma maneira sustentável de gerar receita.
O Paradóxo do Século XXI foi explicado e maneiras sustentáveis de gerar riquezas dentro do esquema capitalista foram mostradas. Cabe agora a cada um de nós tomar atitudes conscientes que não agridam o planeta, de forma a conseguir uma convivência harmoniosa. Para fechar de verdade esta Semana Verde, trago o vídeo sobre o movimento liderado pela Avaaz, o Hora de Acordar Global. Foram 1632 eventos em 135 países, onde milhares de pessoas se mobilizaram pelas causas ambientais. No brasil, o Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, assinou o abaixo-assinado publicamente. Eu mesmo liguei para o gabinete do presidente Lula para pedir maior comprometimento com o meio ambiente. Anotou meu pedido, Sr. presidente?
(As ilustrações aqui utilizadas são de artistas que foram destaque no Eco Cartoon)
Twitter @phbalboni @newronioespm
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