Muitas vezes, a forma como expressamos nossos desejos não traduz o que fundo queremos. Quem nunca se deparou com alguém que queria muito algo e, quando conseguiu, ficou frustrado ou mudou de opinião. Uma criança mimada que quebra o brinquedo pouco tempo depois de o ganhar. A linguagem traduz o que a consciência permite, mas o desejo que não pode ser manifesto, este permanece calado, quieto, gerando a insatisfação. Pode-se até forçar a barra, mas não existe de fato o controle desejado pelo homem contemporâneo.

Tome o exemplo de Jonas, executivo de carreira que decidiu mudar sua forma de atuação profissional para obter mais tempo e qualidade de vida. Para capitalizar sua experiência e evitar movimentos bruscos, ele oferecerá cursos de treinamento para empresas e instituições de ensino. Seu objetivo é rapidamente atuar como palestrante em nível internacional, o que permitirá brevemente que ele abandone seu emprego atual. O que Jonas não percebe é que para ser um palestrante internacional, ele não começará sendo convidado para palestrar no circuito Elizabeth Arden e nem terá ainda uma imagem reconhecida a ponto de cobrar alto. Vai, sim, ter que ficar à disposição de convites de qualquer lugar, quando o contratante decidir (e não quando a agenda dele permitir) e não poderá usufruir o tempo qualitativo como esperava, além de se prejudicar na empresa que trabalha agora. Em resumo: ou o objetivo deve ser revisado por Jonas ou a sua estratégia está errada.

Interessante é que nem sempre se consegue perceber este tipo de viés – mais fácil culpar a vida, a Deus, as pessoas. Por mais difícil que seja encarar os limites e as impossibilidades inerentes à vida, no mínimo por amor a nós mesmo, vale pensar no que realmente queremos, investigando o que desejamos. Ajustar esta questão é sinal de amadurecimento, de respeito próprio e uma forma de minimizar a angústia e a frustração. Para ter forças, estabelecer um novo objetivo e correr atrás. Sonhar é fundamental, mas realidade é realidade, o que podemos é o que podemos, sem nenhum desmérito. Sábio aquele que domina esta equação.

 

foto-paulo-cunhaPaulo Cunha
Experiência profissional como: publicitário em agências de propaganda (22 anos), docente (15 anos) e psicanalista (dois anos). Doutorando em Comunicação pela ESPM-SP. Formação em Psicanálise pelo CEP (Centro de Estudos Psicanalíticos). Mestre em Comunicação. Especialização em: Formação de Professores para o Ensino Superior em Marketing. Graduação em Comunicação Social. Áreas de pesquisa: pensamento estratégico, comportamento humano e cinema. Autor do livro “O cinema musical norte-americano – história, gênero e estratégias da indústria do entretenimento” e Coordenador do curso de Comunicação Social da ESPM/SP.

Os colunistas do Newronio são professores, alunos, profissionais do mercado ou qualquer um que tenha algo interessante para contar.