Stephen King é um autor com uma extensa lista de obras. Desde 1974, ele escreveu e publicou diversos livros e contos mundialmente famosos. No entanto, os primeiros anos de sua carreira foram turbulentos, marcados por seu vício em álcool e drogas. Foi nesse contexto que ele escreveu e lançou “O Iluminado” em 1977. 

A trama acompanha Jack Torrance, um escritor que aceita a posição de zelador do Hotel Overlook durante o inverno e enfrenta forças sobrenaturais que o levam à insanidade, colocando em risco a vida de sua família. É importante notar que a história reflete as preocupações pessoais de King na época, temendo perder o controle devido ao vício e prejudicar sua família. 

Stanley Kubrick, um dos cineastas mais influentes da história do cinema, teve em mãos a oportunidade de adaptar o livro para o cinema e com isso trouxe uma visão diferente da obra. Ele modificou elementos da história para criar uma atmosfera de suspense altamente eficaz, mas essas mudanças desagradaram profundamente o autor. King não gostou, especialmente da representação de Jack Torrance, interpretado por Jack Nicholson, como alguém visivelmente insano desde o início, e da alteração no desfecho da trama. 

No livro, o protagonista consegue resistir à influência sobrenatural do Overlook por um momento, o suficiente para alertar sua esposa e filho a fugirem. No filme, porém, Jack morre congelado após uma intensa perseguição, eliminando qualquer chance de redenção ou humanidade. Outra grande mudança foi a caracterização da esposa de Danny Torrance, a Wendy (Shelley Duvall), aonde King chegou até a se pronunciar dizendo Uma das personagens mais misóginas já colocadas em um filme. Ela basicamente está lá para gritar e ser estúpida. Essa não foi a mulher que eu escrevi.” 

Essa diferença na narrativa entre o livro e o filme levanta uma questão fundamental sobre as adaptações de livros para o cinema. Cada meio tem suas próprias limitações e oportunidades. Enquanto um livro permite uma exploração profunda dos pensamentos e emoções dos personagens, sendo repleta de detalhes e nuances, o cinema é mais visual e depende de recursos visuais e temporais para contar a história, além de um tempo limitado de tela, o que pode levar à necessidade de fazer escolhas difíceis sobre quais elementos manter e quais cortar ou modificar. 

No caso de “O Iluminado”, a divergência na narrativa entre o livro e o filme demonstra como diferentes abordagens criativas podem afetar a interpretação e a recepção da obra. A visão de Kubrick trouxe uma experiência cinematográfica única, mas também desviou significativamente da intenção original de King. 

Em última análise, a adaptação de um livro para o cinema é um equilíbrio delicado entre honrar a visão do autor e criar algo impactante para o público. As mudanças na narrativa são inevitáveis, mas é importante que elas sejam feitas com cuidado e respeito à essência da obra original, a fim de oferecer uma experiência incrível tanto para os espectadores do filme quanto para os fãs do livro.