Para comemorar o aniversário de 20 anos do lançamento original de “Oldboy”, a Pandora Filmes decidiu relançar nas telonas a versão restaurada e remasterizada de um dos primeiros sucessos do cinema coreano a nível global. E confesso que assistir a uma obra razoavelmente antiga nas telas de uma sala da Cinemark, me trouxe diversos questionamentos.
O primeiro, e mais abstrato dos pensamentos, é a importância de trazer aos cinemas obras que não tiveram um lançamento oficial, sobretudo, aquelas vindas de outros países, fora do eixo principal da indústria, como era o caso das obras coreanas na virada do milênio. Ainda que existam diversas outras maneiras de se consumir o filme, é importante inserir nas salas populares uma obra com um valor simbólico gigante, não apenas para uma cultura, mas também para a sétima arte. E, de maneira geral, esse repertório é de extrema importância para a manutenção da engrenagem responsável por fazer o cinema funcionar.
Boa parte daqueles que vão ao cinema assistir a uma obra de 20 anos de idade e desembolsar um valor consideravelmente alto, ainda que exista a meia entrada, não estão interessados apenas no conteúdo do filme, mas também na experiência de assistí-lo nas grandes telas que, de certa forma, prestigia e possibilita uma experiência única em sua exibição.
Essa parte dos espectadores, acaba por ficar nichada em espaços desse tipo de conteúdo. Lugares considerados cult que, apesar de conseguirem importar filmes além do mainstream, não necessariamente trazem obras importantes e relevantes de tempos atrás para suas telas.
Outro questionamento importante, é sobre esses espaços, e como, de certa forma, eles também estão restritos a lugares fechados e enclausurados à salas escuras e longe do “mundo real”. Há anos, houve uma exibição de “Apocalypse Now” a céu aberto em São Paulo, e devo dizer que invejo aqueles que tiveram a experiência de assistir ao filme. Isso, não apenas pela oportunidade de assisti-lo nas grandes telas, já que assisti em um monitor de 27 polegadas com um alto falante vagabundo mas, também, por experienciar de maneira coletiva uma obra tão relevante para a cultura ocidental.
E, por fim, o questionamento mais importante: por que aceitamos assistir às mesmas histórias apenas com outra roupagem? Assim como disse no meu último texto, cada vez mais, há menos originalidade na criação e confecção de filmes por Hollywood e, há meses em que nada de interessante chega aos principais cinemas e, por conveniência, acabamos por assistir sequências desnecessárias.
Dessa forma, uma segunda exibição, ou primeira em casos de obras que não atingiram as salas de cinema em seu lançamento, é capaz de nos levar a assistir ou reassistir obras cheias de história, que se mantém importantes e relevantes para outras culturas e para o cinema em si, com grande qualidade e de maneira coletiva.