A queda do Homem sem Medo

Finalmente a Marvel concretizou seu plano em parceria com a Netflix e junto ao lançamento da série dos heróis urbanos Os Defensores, diversas notícias indicaram o gancho para a próxima temporada de Demolidor, estas que a direcionam para o melhor caminho possível: a adaptação do clássico absoluto do advogado cego, A Queda de Murdock.

Voltemos para os anos 80. A revista do Demolidor estava prestes à ser cancelada e a esperança e popularidade do herói se esvaía até a chegada do verdadeiro salvador de Matt Murdock, Frank Miller (Batman Year One; Sin City). O escritor norte-americano já havia ganhado os holofotes pelo trabalho nas histórias do Homem-Aranha e sua mini-série de seis partes Ronin. Inicialmente como desenhista, Miller não demorou muito para assumir os roteiros e junto à isso, diversos personagens e conceitos importantes do Homem Sem Medo foram inclusos na sua mitologia, como o Rei do Crime, Elektra, Stick, A Mão e seu uniforme negro, utilizado nas histórias de origem.

Algum tempo depois, Miller contaria o que viria a ser a mais bem elaborada história do herói, colaborando também para os novos caminhos que as revistas de herói estavam tomando (temas complexos e adultos, como os presentes em The Dark Knight Returns do próprio autor e Watchmen, de Alan Moore). A Queda de Murdock se propõe a apresentar a decadência completa de um homem, como sua vida pode ser facilmente arruinada, assim como a sua reerguida e vingança.

Um homem sem esperança… é um homem sem medo.

A história já começa nada agradável: Karen Page, ex namorada de Matt Murdock, foi tentar lançar sua carreira como atriz e terminou viciada em heroína, tendo que se submeter à indústria pornográfica para alimentar seu vício. Em troca de alguns baques, Karen (agora portadora do vírus HIV) vende a identidade secreta do Demolidor para seu maior inimigo, Wilson Fisk (ou Rei do Crime). Assim começa a queda. Fisk não planejava apenas matar Murdock, mas extrair o máximo de sofrimento possível por meio de sua vida pessoal, seu emprego e sua casa.

Ao longo do quadrinho, diversos simbolismos indicarão a decadência e renascimento do herói, apoiadas pelo desenho magistral de David Mazzucchelli. Na primeira página das primeiras edições, Murdock vai gradualmente se encolhendo até se encontrar em posição fetal, quando na próxima ele começa na posição de Cristo crucificado e posteriormente, se reerguendo. Na bíblia, João diz que “é necessário que uma velha vida acabe para que outra possa nascer” e é mais um dos símbolos cristãos que vão ao complemento lírico da trama. Também muito importante na sua mitologia, a áurea cristã da vida de Matt Murdock também será explorada, como a ligação entre freira Maggie e o Demolidor, o que explica a mística religiosa em torno do personagem.

A Queda de Murdock tem tudo para ser brilhantemente adaptado, mas com os cuidados que façam jus à importância do cânone.