Estava lembrando da minha vida pré-faculdade, mais especificamente quando estava no oitavo ano e ainda nem pensava no que iria fazer da vida. Decidi, então, fazer parte de um grupo de teatro chamado Oficina dos Menestréis. Depois de anos e anos praticando, meu último ato na arte veio em uma peça chamada Leo e Bia.
Uma história cativante de dois jovens que se apaixonam e só pensam em viver livremente em meio à ditadura militar. A história é um retrato da vida de Oswaldo Montenegro, um ator, compositor, escritor, diretor e, talvez pelo que é mais reconhecido, músico. Para contar um pouco de como Leo e Bia se conhecem, essa música, que se tornaria uma peça e, posteriormente, um filme, que encantou tanto este jovem que vos escreve, vamos para o contexto em que a obra foi criada.
Oswaldo começou sua carreira de roteirista com o musical João sem Nome, a história de um homem que decide ir à cidade grande tentar uma nova vida. Depois estreou com A Dança dos Signos, peça que originou seu reconhecido álbum de mesmo nome. Suas criações tendem a ser muito metafóricas e com Leo e Bia não seria diferente: por mais que seja uma autobiografia de sua juventude em Brasília, alguns aspectos tornam a obra uma adaptação da realidade.
Começando pelos personagens: Leo é Oswaldo, Bia, o autor define como um amor do passado, Brookie (personagem que interpretei) é o irmão desleixado, Deto Montenegro, assim como sua namorada Cachorrinha, que também era um antigo amor. Por fim, Marina é quem hoje está ao seu lado e com quem divide um filho, Madalena Salles. Já Cabelo e Encrenca são duas personalidades criadas pelo escritor: uma representando as imagens LGBTQIAP+ de sua vida e a outra,os pensamentos e coisas não-ditas que Oswaldo nunca pôde expressar.
Sua total inspiração pelo teatro também tomou conta das telonas; o filme inteiro é feito dentro de um galpão branco com apenas alguns objetos em volta. As transições feitas com luzes e foco demonstram uma passagem que apenas quem tem essa familiaridade com os palcos entende.
Quando falo das metáforas impostas, me refiro a elas dentro e fora das telas, palcos e caixas de som. A história trata como a arte salva a vida de diversas pessoas e como a forma de se expressarem os liberta. Mas também fala-se sobre escolhas e despedidas, fato que se encaixou muito com o meu contexto da época. Estamos sempre tomando decisões e dizendo adeus a pessoas queridas.
Poderia ficar falando horas sobre como um diretor de teatro realizou um espetáculo nos cinemas brasileiros, mas prefiro deixar o resto para os que assim como eu são apaixonados pelo teatro. E para o Rodrigo de anos atrás: não nos despedimos da arte, apenas descobrimos diferentes formas de expressá-la.
O filme está disponível no Youtube, assim como o álbum e a peça completa:
Filme: https://www.youtube.com/watch?v=1eK3HRlz-dY