A mitologia grega sempre esteve presente na nossa vida, seja nas aulas de história do ensino fundamental, nos livros de ficção ou até mesmo nas coisas que nós dizemos sem pensar de onde surgiram (já chamou alguém de Narciso, por exemplo?).

Um dos mitos mais conhecidos da Grécia Antiga talvez seja a história da Medusa, um monstro com serpentes na cabeça que foi dominado por Perseu, um dos semideuses mais famosos da história. E, de fato, assim se estabeleceu a fama de Medusa: mais um monstro a ser vencido.

A verdade é que há mais sobre seu mito. Alguns pontos não tão populares, mas que a transformam em uma das mulheres mais fortes da Mitologia Grega. Pontos que fazem relação com muito do que ainda é ser mulher, mesmo na contemporaneidade.

Antes de receber seus cabelos de serpente e seu olhar capaz de transformar qualquer um em pedra, Medusa era uma das três Górgonas, e a única mortal entre elas. Na verdade, era a única mortal entre 5 irmãos, todos monstros da Mitologia Grega.

Uma noite, o deus grego das águas e dos oceanos Poseidon viu Medusa no templo de Atena, e a achou muito bonita. Achou também que por ser um deus, ele tinha privilégio sobre o corpo dela, então abusou da jovem.

Atena, deusa da sabedoria, flagrou os dois e acabou por punir Medusa pela negligência. A mulher deixou de ser mortal para assumir a forma de um monstro horrível, capaz de transformar qualquer que olhasse em pedra. E o resto da história nós já sabemos.

O conto parece muito familiar: uma jovem é obrigada a fazer algo que não quer. Uma autoridade descobre. A vítima é punida, enquanto o outro sai sem consequências.

Mas existem interpretações sobre o mito que enxergam o poder e a aparência de Medusa não como uma punição, mas como um dom.

Acontece que Atena é tida, em várias passagens da Mitologia Grega, como o estereótipo de “não ser como as outras garotas”. Ela é uma autoridade entre os homens, e nesse episódio precisou se portar como tal, tomando uma decisão que não gerasse discussão entre os outros deuses do Olimpo.

Ao mesmo tempo, Atena é deusa da sabedoria, então descobriu uma forma inteligente de proteger Medusa sem que os outros deuses suspeitassem; afinal, quase nenhum homem teve coragem de se aproximar de Medusa após sua transformação.

O único homem que o fez, Perseu, acabou por levar a cabeça decepada da mulher para Atena no fim de sua jornada, e a deusa fez do rosto de Medusa seu escudo e armadura para batalhas.

Na Grécia Antiga, esse mesmo rosto era usado para estampar a porta de abrigos seguros para mulheres, e o símbolo perdurou na história. Medusa foi o rosto de muitos cartazes das Sufragistas nos anos 1940, quando mulheres pediam por direitos iguais.

O mesmo rosto era o único que diferia no modo de ser representado na arte grega. Enquanto as divindades e belas mortais normalmente eram esculpidas ou pintadas com os olhos e faces virados para baixo ou para o lado, Medusa era a única representada diretamente de frente, como se encarasse e desafiasse qualquer um que ousasse machucar uma mulher.

Não é a toa que o nome Medusa deriva da palavra grega para proteção, e também não é a toa que seu cabelo é feito de cobras, cujo veneno tem um significado peculiar: a substância que mata também é a mesma substância da qual deriva a cura.

Também não é a toa que seu mito nunca é contado por completo: mais de uma vez na história, seu rosto foi estampado em jornais para representar a mulher como um monstro a ser vencido, um ser inferior.

Mas também não é a toa que esse mito existe: se usamos a Mitologia Grega até hoje em tantos momentos do nosso dia a dia, então só faz sentido começar a visualizar Medusa cada vez mais pelo que ela realmente é: um símbolo da força feminina.

eu toco teclado numa banda chamada internet.