Todos provavelmente já ouviram falar para não julgarmos um livro pela capa. Isso é, não assumir como será um livro, ou uma pessoa, com a imagem superficial que esses passam no início. No caso do livro Os Sete Maridos de Evelyn Hugo, é o contrário.

Já vou antecipar que esse é um texto crítico, mas, aos amantes de Evelyn Hugo, não se preocupem. Esse é um dos meus livros favoritos, definitivamente é o melhor livro que eu li em 2020; exatamente por isso estou aqui apontando um erro gravíssimo que fizeram com a personagem. Tentarei não soltar muitos spoilers, mas, se você não quer saber nada da história antes de começar a ler, feche esse texto e vá abrir o livro, porque realmente vai mudar a sua vida.

Fanart de Evelyn Hugo pela artista sunshineart29

O livro de Taylor Jenkins Reid retrata a história de Evelyn Hugo, uma das maiores atrizes de Hollywood no mundo do livro, agora aposentada e chegando ao final de sua vida. Por isso, ela decide ter sua história contada e chama a jornalista Monique Grant para escrever um livro com a história da vida da atriz.

Poderia ficar horas contando a história dessa personagem incrível e falando bem desse livro, mas, como eu disse, não é por isso que estamos aqui. Voltando ao foco, Evelyn Hugo se descreve no livro com frases como “tinha pele morena e um busto que quase rebentava os botões dos meus vestidos” e “não fui agraciada pela natureza com um corpo em forma de violão. Minha bunda era reta como uma tábua. Dava para pendurar quadro nela. Era o meu peito que mantinha o interesse dos homens.” Até aí, é possível entender uma coisa: ela tinha muito peito.

O fato dela ter seios grandes segue sendo comentado através do livro todo, como a maneira que ela usou para seduzir diretores, atores, e sendo uma das características mais marcantes dela fisicamente.

A revolta começa quando ao olhar a capa, vemos uma mulher magra, branca, com peitos pequenos e quadris levemente largos, usando o vestido mais importante da história da personagem, ou seja, alguém realmente acreditou que ela era para ser a Evelyn Hugo. Como a busca e a adoração do corpo padrão conseguem ser tão fortes a ponto de distorcer a característica principal da personagem mais importante de um livro?

Capa do livro no Brasil

Que corpos magros são idolatrados, não é novidade alguma, e, apesar de bustos maiores estarem mais “populares” com os jovens, a população adulta ainda segue o ideal de corpo padrão dos anos 2000, quando cirurgias de redução de seios eram altamente procuradas. Mas a imagem na capa do livro não só erra no corpo de Evelyn, mas em sua etnia também. A personagem é latina, foi criada falando espanhol e diz com todas as letras ter a pele morena. Apesar de ao entrar no showbizz ela ter tentado se americanizar o máximo possível, consultando fonoaudiólogos para perder o sotaque do espanhol, pintando seu cabelo de loiro e o alisando, a cor de sua pele ainda faz parte de quem ela é.

Assim, o whitewashing e a mudança do corpo dela mostram até onde vai a sociedade quando o assunto se trata do corpo feminino. Se até uma personagem fictícia é alterada para que a capa do livro seja mais “atraente” ou “venda mais”, o que será  que a sociedade faz com as mulheres de verdade?