Ted Mosby não é exatamente como os outros caras, ele é “um cara bacana”. Um cara sensível, amoroso, do bem… Um nice guy.
Exceto pelo fato de que absolutamente todos os “Nice guys” representados nas mídias não são exatamente caras legais. A característica principal do cara legal que vemos filmes, séries e livros é seu amor interminável e mal compreendido no século do desamor. E como não se apaixonar por alguém tão raro?
O ponto principal para análise deste fenômeno é ; será que este arquétipo de pobres coitados, sensíveis e sempre renegados, realmente é o reflexo de bons homens?
Os nice guys geralmente vivem em seu mundo imaginário e são facilmente colocados no papel de amigo, uma famosa e já conhecida friendzone, a realidade dos pobres românticos.
A ironia central deste estereótipo é que absolutamente nenhum cara bacana é bacana. É comum vermos os caras bacanas reclamando da triste realidade que é mulheres sempre escolherem os babacas… Se essa é sua linha de pensamento, lamento ser a pessoa a te informar, mas você é o babaca em questão e nenhuma mulher te aguenta.
A análise sócio-comportamental por trás disso é que, por mais que este conceito seja o oposto do tóxico masulino que construímos no cenário cultural-midiático , ele representa uma ilusão.
O suposto amor incondicional que “os últimos romanticos” possuem dentro de si, na maior parte das vezes, é a apenas uma projeção de uma fantasia idealística de romance. Um desejo interno masculino de viver uma espécie de predestinação, quase que uma internalização de querer ser o bondoso cavaleiro que salvará a princesa em perigo.
Por definição no Wikipedia a “síndrome do nice guy”, no caso o termo em questão, descreve um homem que é agradável, gentil, compassivo, sensível e vulnerável. O interessante é que o próprio Wikipedia aponta que o termo é usado tanto positivamente quanto negativamente.
Há também uma terceira alternativa que vemos em dicionários urbanos online. O termo é muito usado de maneira sarcástica. Então esse seria o momento que eu deixo claro que este é um texto de análise muito cheio de ironias, meias verdades e sarcasmo, mas acima de tudo tapas na cara que eu espero que doam em alguém.
Então qual o problema de caras legais? Bom, eles não são sempre um problema, mas muitas vezes homens precisam entender que ser um cara bom, um cara legal, um cara bacana e tudo mais, não deveria te dar um senso de direito de atenção romântica (ou sexual) de mulheres. Você não merece atenção só porque é minimamente legal fazendo apenas o que qualquer ser humano decente deveria fazer.
Uma análise muito válida é que o cara bacana é um símbolo de insegurança masculina. Sua falta de autoconfiança faz com que construam uma barreira emocional que busca tocar as mulheres por sua moldada sensibilidade. Por este motivo, muitas vezes vemos os caras legais dizendo que as mulheres escolhem os caras errados…
Podemos perceber que na verdade isso é um reflexo frustrado de como estes homens sem confiança gostariam de expressar masculinidade com a confiança daqueles que as mulheres geralmente escolhem.
Confuso? Com certeza, mas essa é uma característica que faz deste fenômeno midiático tão interessante. Masculinidade toxica, uma estrutura patriarcal e a maneira como homens exploram sua expressão ou não expressão de feminilidade também são conectados a este fenômeno.
Os caras bacanas, por mais legais e inofensivos que sejam, são muitas vezes perigosos. O amor que estes têm medo de buscar verdadeiramente constrói uma questão delicada com a maneira como estes homens encaram relacionamentos, sendo levados para um local tóxico onde dificilmente o bom rapaz será culpado por sua amargura.
O interessante em nossa cultura de mídia é que a figura representativa do “bom rapaz” não necessariamente mudou e sim a maneira como a audiência consome e interpreta este tipo de estereótipo.
Por fim, finalizo este texto com sarcasmo falando sobre um cara bacana e exemplificando esta nova maneira de interpretação ;
Joe Goldberg. Um homem sensível, que lê livros e te compra flores, leva café na cama e protege quem ama. Joe Goldberg, protagonista de “You” é um serial killer, um stalker e cara legal que quando colocado em situação complexa trazida por sua busca pelo amor geralmente acaba matando alguém.
Joe não é um bom exemplo quando comparado ao cara fofo que não sai do seu pé só porque levou um não, mas ironicamente, Joe Goldberg pode ser visto como mais um cara bacana.