O que é Hyperpop? Como dizem, “I know it when I see it”, em português, eu sei quando eu vejo. Não tem como definir a não ser escutando, então aqui tem uma música para te preparar pelo que vem aí:
Para alguns um bate panela, mas para outros e, devo dizer, para mim, é um movimento de música muito divertido, particular e diferentão que mistura vários gêneros criando um que não pode ser definido. Se é uma satira, uma ironia ou se é, de fato, uma nova classificação ninguém consegue definir. Por muitos é um movimento amado, mas, por outros, talvez pessoas mais acostumadas a músicas mais tradicionais, esse tipo de música é motivo de piada, o que gera brigas dentro até do próprio movimento.
Para entender do que se trata o Hyperpop, é preciso analisar um pouco a história dele, se é que, de fato, existe uma história concreta. O termo que deu nome ao tipo de música que estamos falando não surgiu por profissionais de música ou pelos próprios músicos, mas sim por fóruns do Reddit. Entretanto, a nomenclatura só foi definitiva quando a plataforma de streaming Spotify criou uma playlist que agrupava artistas que pareciam se adequar ao gênero.
Mas como seria se adequar ao gênero? Como dito antes, as músicas são definidas como parte do Hyperpop inteiramente por quem escuta. Elas são caracterizadas por terem um som muito brilhante, um baixo distorcido e high-pitched vocals. Além disso, sons artificiais como sintetizadores e percussões metálicas estão muito presentes. As letras? Completamente pessoais, muito universais ou muito irônicas. Ele é um estilo de música conhecido por brincar com estruturas de Lofi, Bubblegum Pop, o industrial e com o Emo Rap do Soundcloud. A representatividade LGBTQ+ é importante também, já que vemos muitos artistas trans fazendo parte do movimento alterando a voz para que ela seja mais aguda a fim de alcançar uma voz mais feminina.
O Hyperpop é feito por jovens e para jovens e foi criado em um contexto de internet, o que pode ser claramente percebido ao escutá-lo. Muitos traçam o início desse estilo de música com a criação da gravadora PC Music, nome pelo qual, muitas vezes, o Hyperpop é chamado. Esse selo foi criado pelo produtor A.G. Cook em 2013 com o objetivo de tratar como artistas de grandes gravadoras pessoas que nunca fariam música e lançar canções de um estilo muito particular, já que elas pareciam levar o Bubblegum Pop e o próprio Pop ao extremo, algo não muito visto até aquele momento.
PC Music é outro nome pelo qual o Hyperpop é chamado. Antes vista somente como a gravadora, ela virou um movimento e uma estética vista por alguns como elitista e, por outros, como o futuro do Pop.
Mas então qual é a diferença entre o Hyperpop e a PC Music? Ela simplesmente não existe. A criação do termo Hyperpop não é nada mais, nada menos, do que uma tentativa de aumentar o movimento e acabar com a ideia de que esse tipo de música é somente feito pela gravadora PC Music. Existem nomes que foram essenciais para o crescimento desse tipo de música, mas que não eram do selo, como a produtora Sophie e a cantora Charli XCX, responsável por levar esse som para o mainstream. Não tem como falar desse gênero sem citar esses nomes, então vou colocar uma música de cada para não passar em branco.
O Pop 2 e Vroom Vroom, álbum e EP de Charli XCX são obras que exemplificam muito o estilo que estamos citando. Quem conhece a cantora por sua participação em “Fancy” de Iggy Azalea ou sua canção “Boom Clap” pode estar confuso com o nome dela estar aparecendo aqui, mas ela é uma das artistas responsáveis pelo crescimento do Hyperpop como algo maior do que essa música underground e seleta a um grupo somente.
Sophie era uma produtora que, infelizmente, faleceu ano passado, mas, felizmente, deixou um legado inesquecível. Ela fez música por anos, mas só começou a lançar seus próprios projetos em 2015 e, com certeza, não desapontou. Ela é reconhecida por grandes nomes como a rainha do Pop Madonna, e produziu a faixa icônica dela “Bitch I’m Madonna”. Sophie também produziu muitas músicas de Charli XCX, além de produzir músicas com Vince Staples, Kim Petras, Cashmere Cat, entre outros nomes impressionantes.
Atualmente, existem novos nomes que surgiram e cresceram com o reconhecimento cada vez maior desse gênero. Entre eles, vemos 100 gecs e glaive, de apenas 16 anos, por exemplo, como os grandes nomes no momento.
Existe uma polêmica em torno do termo Hyperpop. Artistas essenciais ao movimento e já citados, como a Charli XCX e o próprio glaive, duvidam da existência dessa nomenclatura. A geração Z é conhecida por dominar esse gênero e é uma geração que não gosta de se rotular ou de ser colocada em caixinhas, então quando uma empresa criou um nome para algo que é para ser um som mais livre e diferente, muitos se revoltaram, alegando que o que eles tocavam era simplesmente Pop, como uma forma também de serem mais aceitos no mundo da música.
Não tem como negar a especificidade do Hyperpop e existem alguns futuros possíveis para esse estilo de música. O mais improvável de todos e triste para os haters do movimento é o fim dele. Cada vez mais artistas aparecem e o gênero tem se tornado mais conhecido a cada lançamento, tornando esse futuro incerto. Outro possível cenário é a continuação do Hyperpop como algo underground e criada por um grupo pequeno e para poucos ouvintes, o que, ao observar o crescimento dele, também parece pouco provável.
Os outros dois futuros possíveis para esse tipo de música mostram ele como o futuro da música Pop. O primeiro deles seria se algum álbum conseguisse ficar muito famoso por meio de plataformas como TikTok, por exemplo, fazendo com que mais pessoas conheçam e se identifiquem. Por fim, um último futuro possível é que um artista grande já conhecido por fazer músicas que simpatizam com o movimento, como Ariana Grande ou Billie Eilish, faça um álbum de Hyperpop que popularize o movimento.
Eu, pessoalmente, torço para que esse tipo de música se torne mais conhecido. Ao mesmo tempo, espero que as pessoas certas o escutem, já que se não tiverem uma mente aberta para música, vai ser bem difícil gostar dele. Eu adoro o quão fácil é se identificar com as letras. Elas são bem adolescentes e muitas falam sobre sofrer por amor ou o próprio sofrimento dessa idade e, mesmo sendo bem explícito e sem palavras muito poéticas, faz muito sentido. Mal posso esperar para ver qual desses futuros se concretizará e espero não me desapontar. Enquanto isso, nos resta aproveitar as obras existentes e apreciar o bate panela no volume máximo.
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