Refletindo sobre meu último texto do mês passado, em que citava a volta dos textos longos na Internet, muitos deles produzidos em pequenos blogs e sites, passei a pensar mais amplamente em um assunto que me interessa muito, a cada vez mais popular produção independente, onde algo realmente novo vem acontecendo e projetos que teriam muita dificuldade em sair do papel, conseguem ser lançados com a ajuda da internet.

Acredito que a música independente seja a mais conhecida e mais popularmente associada ao termos, mas em outras áreas, novos projetos estão surgindo e possibilitando mudanças enormes na dinâmica criativa e fico aflito em saber que poucos se dão conta disso. São apenas pessoas com ideias e outras que querem financiá-las. Parece pouco, mas as consequências são enormes.

O cinema por exemplo, é uma área em que filmes independentes também se tornam cada dia mais populares e um exemplo recente que deu muito o que falar, foi o projeto do novo filme de Zach Braff, roteirista e diretor do já clássico “Garden State (2004)”, com Natalie Portman. Após muitos fãs se identificarem com a proposta do filme, todos aguardavam por uma nova produção de Zach, portanto ele decidiu colocar o projeto no Kickstarter, a mais conhecida plataforma de financiamento coletivo. Em um mês, o projeto recebeu apoio de mais de 46 mil fãs e arrecadou mais de 3.1 milhões de dólares, batendo tranquilamente a meta de 2 milhões.

Outro bom exemplo, é a revista Libre, projeto criado por um coletivo de talentosos quadrinistas brasileiros independentes acostumados a publicar seus trabalhos na Internet, muitos deles no Facebook, e que decidiram criar uma revista que reunisse trabalhos de todos. O projeto foi publicado no Catarse, maior plataforma de financiamento coletivo brasileira e arrecadou mais do que o dobro da quantia de 7 mil reais inicialmente desejada.

Além destes e de outros projetos culturais incríveis, é na produção de hardware que estas plataformas estão realmente mudando o curso da criação e da produção de novidades tecnológicas. Cito aqui três ótimos produtos recentes, o primeiro é o OUYA, o Pebble e o Tile.

O primeiro é um console de videogame baseado no sistema operacional Android e que promete ser a plataforma principal para publicação de jogos independentes, que tinham um grande trabalho para publicar suas criações em outros consoles como Playstation e Xbox. O projeto arrecadou 8,5 milhões de dólares dos 950 mil planejados inicialmente.

O segundo é um relógio com tela de e-ink (como um leitor de ebook) que conecta com seu celular e mostra suas notificações, sem que tenha que tirar o celular do bolso para saber se a mensagem que chegou é importante ou algo que pode esperar. O projeto arrecadou 10,2 milhões de dólares de 100 mil planejados inicialmente.

Por último, o Tile, que promete ajudar os mais esquecidos. O aparelho é um cartãozinho quadrado para colocar na carteira, na mochila, nas chaves, no computador e em tudo que costuma sumir com frequencia, para que você consiga localizar facilmente pelo seu smartphone. O projeto ainda está em andamento e já arrecadou mais de um milhão de dólares de 20 mil planejados.

Todos estes projetos, e muito outros, partiram de pessoas com boas ideias e que não querem que o futuro de seus projetos dependam única e exclusivamente de boas análises de investimento. Os intermediários ruins, que influenciam negativamente nos projetos, vão sendo eliminados aos poucos. Boa parte dessas iniciativas não teriam saído do papel caso surgissem como empresas ou projetos tradicionais.

É normal que surjam muitas críticas e problemas como atrasos na entrega dos produtos, mas em larga escala e a curto prazo, tudo que consigo enxergar são aquelas ideias criativas que temos todas as madrugadas e que somem nos dia seguinte pela manhã, saindo do papel e chacoalhando diferentes setores.

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