Estou no meio do desembarque, pessoas vão e vem, mas a única coisa que eu escuto é o som do meu coração, e a voz do auto falante anunciando que seu voo já pousou. Durante uma espera que parece durar duas horas, escuto tudo: a máquina de café do quiosque; a criança chorando; a mãe recebendo o filho do meu lado; as rodinhas no chão; o segurança anunciando o caminho do taxi; e o auto falante, o maldito auto falante.
Te imagino passando pelas portas de correr como se fizesse aquilo todos os dias, e consigo sentir de longe que você está tão nervoso quanto eu.
Sua camiseta está amassada, como se tivesse se revirado o voo todo tendando dormir e não tivesse conseguido, assim como eu na noite anterior. Seu cabelo desgrenhado, suor escorrendo pelas suas têmporas, e claro, você segurando o carrinho das malas com tanta força que seus dedos estão brancos.
O rasgado da minha calça jeans já virou um buraco de tantos fiapos eu arranquei enquanto espero você aparecer, minhas unhas só não foram completamente arrancadas porque as pintei ontem, fiquei uma hora escolhendo a melhor cor de esmalte para te receber, como se isso fizesse alguma diferença.
Abro meu celular pela vigésima vez nos últimos cinco minutos, mexo no meu cabelo, arranco mais um fiapo da calça, olho para o portão, checo o painel, olho de novo, arranco outro fiapo, ajeito meu cabelo, e abro o celular novamente, esperando algum sinal de que você chegou. De que entre a porta do avião e o portão de desembarque não caiu um meteoro que explodiu o Terminal 3 do aeroporto e te impediu de chegar até mim. E arranco outro fiapo.