As crises nos grandes veículos de mídia e na publicidade em geral estão exigindo uma quebra de paradigmas devido ao surgimento de novos modelos de negócio, tanto na web quanto fora dela. Mas por hora nos focaremos na internet, mais especificamente no modelo de micropagamento.

Micropagamento é uma nova tendência de cobrança de conteúdo via download ou para visualização de informação. Ao invés de uma assinatura mensal com valor elevado ou a obrigatoriedade de comprar um maior conteúdo para ter o que se deseja (o caso de comprar um CD para ter uma música) é possível comprar apenas o que se deseja, pagando um pequeno valor para isso. Um case de sucesso é o iTunes, que, seja vendendo músicas separadamente a partir de 69 centavos de dólar ou alugando filmes por download a um preço módico, tornou-se um sucesso total, tanto de vendas, quanto na opinião pública. Outro possível exemplo seria pagar muito pouco (entre cinco e cinquenta centavos) para ler apenas algum artigo ou seção do jornal, sem ter que comprá-lo inteiro.

Aqui essa tendência é levantada e exaltada como solução para a crise dos jornais impressos americanos e aqui ela é condenada. Não pretendo discutir qual dos blogueiros tem razão ou não. Ambos tem pontos de vista e opinião válidas, que eu concordo. A questão que desejo levantar aqui é aonde fica a publicidade nisso tudo.

Monetização, venda de anúncios via AdWords, posts pagos (no caso de blogs), banners, patrocínios, etc. Existem diversas formas de ganhar dinheiro via a publicidade na internet hoje em dia. Porém, cada vez mais, tanto os anunciantes quanto os veículos tem que se reinventar para atingir formas novas de veicular suas mensagens. Como tanto mostramos por aqui, ocorre a fuga do anúncio tradicional para outras formas em diferentes arenas. O já saturado viral, uso de redes sociais, ações interativas, lojas conceito, entre outras, tem mais apelo para com o consumidor nos tempos atuais.

Então os anunciantes que aindam procuram formas antiquadas (mesmo tratando-se de internet) de comunicação podem muito bem começar cada vez mais a utilizar formas mais criativas, inovadoras e com um maior apelo ao consumidor, fora das plataformas tradicionais. Diminuir o uso das plataformas tradicionais significa menor verba de publicidade para os meios tradicionais e maior necessidade de reinvenção.

Isso parece obvio, mas não é.

Essa reinvenção é algo que a Globo já está fazendo. Por R$ 3,90 é possível assinar todo o conteúdo da Vênus Platinada: novelas, jornalismo, esporte, etc., com a possibilidade de ver (e rever) em qualquer lugar – inclusive mobile – e ter acesso ao enorme acervo de programas antigos da emissora. A estratégia é botar o serviço no ar, se adiantar aos concorrentes e depois descobrir como ganhar dinheiro com isso – já foram tentadas diversas formas, como anúncio antes do vídeo, banners na janela, uma parte pequena do vídeo ocupada pela publicidade, etc. Uma idéia interessante, considerando que vira um complemento à televisão.

Só que isso é um caso específico, não pode ser aplicado na mídia impressa. A internet acaba por não ser um complemento, mas sim a maior concorrente. A facilidade e a velocidade de criar e absorver informacão, com qualidade e em grande quantidade, a cultura dos blogs, o Twitter, acabam por matar a antiga formula de jornalismo aonde existe um maior controle e filtro da informação para dar a chance de ressurgir uma bela fênix das cinzas, aonde a participação dos consumidores de informação torna-se muito importante e começa inexistir a linha entre leitor e escritor.

Em suma, estão acabando as barreiras e as fronteiras entre receptor e interlocutor, tanto na mídia em geral quanto na publicidade. Novos modelos surgem todos os dias e a necessidade de se adaptar à eles se faz mister. Reinvenção deixou de ser diferencial para ser necessidade. Isso pode parecer banal e maçante, principalmente para quem estuda ou estudou publicidade, mas muitas vezes acaba sendo objeto de miopia de gestores e analistas.

Marcelo Druck, 18/02/2009 às 17h42