Hoje a entrevista é com meu grande amigo e grande profissional Cao Quintas, que acaba de abocanhar 4 prêmios no Festival de Gramado.

O menino joga bem tanto na área de produções publicitárias quanto em feature films como você vai ler abaixo.

Ex-ESPM, sua trajetória é bem interessante, principalmente pelo estreitamento de relações que sua produtora Latina tem com o mercado latino-americano.

 

Conte-nos um pouco da sua formação e trajetória profissional

Sou formado na ESPM, na época optei por marketing. Mas mesmo durante a graduação já trabalhava em produtoras de comerciais. Então foi natural que eu buscasse especialização nessa área. Assim, acabei fazendo extensões em Produção Executiva e Produção de Cinema pela Media Business School (Espanha) e EAVE (European Audio Visual Entrepreneur, em Luxemburgo).

Passei por várias produtoras de comerciais no Brasil (M21, Prodigo) até que comecei a representar uma produtora de NY aqui, a Vagabond Films, com quem trabalhei por 2 anos. Em 2004 abri minha primeira produtora, também focada em comerciais, e em 2008 comecei a me dedicar também a entretenimento, quando co-produzi com o Chile meu primeiro longa-metragem, Tony Manero, que viajou por quase 120 festivais internacionais, ganhou vários prêmios – melhor filme em Havana, Turin, Varsóvia – e foi pré-selecionado para representar o Chile no Oscar. Pronto. Não consegui mais me livrar desse vício. Hoje a publicidade e a produção de entretenimento dividem o mesmo espaço na minha produtora, a Latina Estudio.

 

Você é um dos pioneiros em estreitar relação com países e mercados latino-americanos, uma espécie de ´avis rara´ no meio de produções publicitárias e cinematográficas com estes países. Como você desenvolveu esta relação?

Notei, pelas idas de 2005, que pouquíssimas produtoras brasileiras se envolviam com produções de comerciais estrangeiros- por incrível que pareça haviam só DUAS das 450 produtoras de São Paulo que tinham production services (receber equipes estrangeiras para filmar no Brasil) em seu core business. Assim que quando fui procurado pela Vagabond de NY para orçar um trabalho no Rio de Janeiro, propus a eles que abríssemos uma filial da produtora aqui no Brasil, fato que se concretizou em 2006, quando tínhamos escritório em SP e RJ. Por dois anos trabalhei praticamente só com comerciais estrangeiros. Em 2008, fui procurado pela Oglivy para colaborar com uma de suas agências, a Soho Square, que chegava ao Brasil e iria atender a conta de Avon em toda América Latina. Acabei montando uma rede de produtoras para trabalhar com esse cliente em oito países, administrando essa rede desde São Paulo. Fazíamos ou adaptávamos 90% dos comerciais da Avon desde o México até o Chile, cobrindo todo o continente latino. Vieram outros clientes que se interessaram por esse formato, que até então era inédito na região: Unilever, Mobil, Kodak. Através dessa rede, recebi convites destas produtoras para atuar como coprodutor em longas-metragens. Foram 2 com o Chile (Tony Manero e Post Mortem), 1 com a Colômbia (Garcia) e 1 com o México (Filhos da Pista), que estreia em 2016. Agora em setembro rodo uma coprodução na Argentina (Esteros) e em 2016 já tenho outro programado em Cuba (Filhos de Fidel), também em coprodução com México.

 

Por que você acha que o Brasil é tão tímido neste aspecto de estreitamento?

Pelo tamanho continental do Brasil, o que garante um mercado interno confortável e com uma cultura muito particular, e principalmente pela questão da língua. Além disso, a política cinematográfica de coproduções estrangeiras no Brasil só se fortaleceu recentemente. Pra se ter uma ideia, quando fizemos o Tony Manero com o Chile, na Ancine (Agência Nacional de Cinema) não sabiam que havia um acordo de coprodução específico entre os dois países. Era o começo da Ancine, enviamos a cópia da lei que tínhamos obtido em Santiago e só então ela foi publicada no site. Ou seja, é bastante recente. E os mecanismos de incentivo específicos para coproduções estrangeiras no Brasil são mais recentes ainda. O interessante é que hoje existem, e aumentam a cada ano.

Com relação a publicidade, há um certo protecionismo à indústria nacional: um comercial estrangeiro deve pagar uma taxa da ordem de R$ 250 mil para ser exibido no Brasil. É bastante caro, mas é um recurso que é investido no desenvolvimento da indústria audiovisual brasileira. Lembrando que essa mesma indústria foi destruída durante a gestão de Fernando Collor como presidente. Ou seja, momentaneamente acho bem justificável esse aspecto da legislação do país.

 

Agora é hora de falar de premiação. Você pode relatar como foi a produção destes curtas, seu enredo e quais as categorias que eles foram ganhadores?

Em Gramado estávamos competindo com 2 curtas metragens:

– “Quando Parei de Me Preocupar Com Canalhas”, de Tiago Vieira, ganhou os prêmios de Melhor Roteiro e Melhor Ator (Matheus Nachtergaele).

O filme foi financiado através de crowd funding, e toda equipe técnica e artística (Matheus, Paulo Miklos, Otto, Nilton Bicudo, etc) entraram porque gostaram do roteiro, que foi baseado num quadrinho do Caco Galhardo. O “Canalhas” participou recentemente do Festival de Curtas Kinoforum em SP e está selecionado nos festivais de Pamplona (Espanha), St Gallen (Suíca) e na Bienal de Curitiba. Mais Info: https://www.facebook.com/curtacanalhas

– “Dá Licença de Contar”, de Pedro Serrano, ganhou o prêmio de Melhor Filme da Crítica e Melhor Filme do Canal Brasil.

Fizemos com parte dos fundos através da Lei Rouanet e o restante com recursos próprios. O filme começa agora seu circuito de Festivais, e em 2016 iremos fazer o longa metragem a partir desse curta: contando as histórias dos personagens do universo do Adoniran Barbosa. Paulo Miklos, Gero Camilo, Ney Matogrosso já estão confirmados no elenco.

 

O que você teria a dizer aos alunos da ESPM, já que você foi um deles, no que diz respeito a desafios profissionais?

Não esquecer NUNCA de buscar uma maneira de mesclar trabalho com algo que te dê prazer. É o melhor remédio anti-estresse e uma das melhores fórmulas para manter a criatividade ativa. Sem tesão, só nos resta deitar e dormir… e a vida fica meio sem graça.

 

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Darlan Moraes Jr

Formado em Comunicação Social pela ESPM e Administração de Empresas pela PUC de São Paulo.
Foi Diretor de Criação em agências como JWT na República Tcheca, D´Arcy na Romênia, BBDO na Letônia e Rússia dentre outras. No Brasil trabalhou em agências como a McCann. Depois de 15 anos fora da pátria mãe, retornou em 2012 e hoje trabalha – através da sua empresa Nova Opção - com aproximação do Brasil, Rússia & Leste Europeu em diversos segmentos de business.
www.darlanmoraesjr.com
www.novaopcao.biz

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