Já se tornou um consenso que a realidade atual vem trazendo danos à saúde da sociedade como um todo; os índices de infelicidade só aumentam, a solidão é cada vez mais presente e o sentido da vida é algo apenas imaginável. A ironia é que estamos em um momento onde temos cada vez menos felicidade, entretanto o prazer está mais próximo do que nunca. 

Muitos culpam a internet como responsável pelo grande declínio na qualidade de vida dos terráqueos e, apesar de enxergar as possibilidades criadas pelas redes, não posso deixar de concordar com tal opinião.

Com a criação de tecnologias que buscam facilitar a vida humana, houve um grande efeito rebote, onde tudo é fácil e alcançável demais, dificultando o alcance de retorno e sentido.

As atividades que caracterizavam a rotina das pessoas 50 anos atrás eram muito diferentes: os dias eram construídos em torno de tarefas necessárias para a sobrevivência. Hoje não: roupas são lavadas por máquinas, comidas são entregues na porta, compras são feitas online e empregos são exercidos pelo conforto de nossas casas. Se um trabalhador dos anos 70 soubesse da realidade do futuro, provavelmente em primeira instância se sentiria atraído e invejoso de tantas possibilidades, mas em poucos meses tenho certeza de que mudaria de ideia. Por que?

Apesar de cumprirem a finalidade inicial de facilitar rotinas e desafios diários, essas máquinas trazem uma dopamina muito imediata e rasa, removendo os desafios que tornam a nossa experiência na terra recompensadora. Quando vivemos uma vida onde não há necessidades a serem feitas ou tarefas a serem cumpridas, as coisas perdem o sentido; talvez por isso, os índices de problemas com a saúde mental estejam cada vez mais altos.

Assim como grande parte das pessoas, eu amo culpar fatores externos para os problemas de minha vida e por isso há um bom tempo pesquiso sobre a dopamina rápida que a internet nos possibilita. Apesar de já entender e ter esse conceito contextualizado em minha cabeça, acabei encontrando soluções para esse problema coletivo apenas recentemente. 

Escutando o podcast “Anything Goes” de Emma Chamberlain me deparei com 2 episódios extremamente informativos sobre essa  realidade; a influenciadora já havia exposto diversas vezes a sua opinião em relação aos danos que as redes sociais trazem para a sociedade, entretanto foi somente nesses episódios em que ela trouxe justificativas e embasamentos mais concretos a sua opinião.

Em uma conversa com a Dra . Lembke, autora do livro “Dopamine Nation”, Emma revelou suas hipóteses sobre o assunto. Dentro do diálogo, as duas encontraram a forma de trazer mais tranquilidade e paz de espírito: complicando a vida. Ao invés de continuamente pedir delivery, passar horas no Instagram ou assistir a 4 horas corridas de Netflix, as pessoas precisam começar a fazer atividades que remetam a uma realidade mais significativa; por exemplo, realizando tarefas de cuidado ao lar. O simples ato de ter a responsabilidade de lavar as louças ou caminhar até o trabalho/pegar transporte público ao invés de pagar uma viagem com o Uber pode dificultar a rotina no momento, mas traz um senso de controle sobre a própria realidade. 

Por isso acredito que seja importante principalmente nos dias de hoje escolhermos quais dopaminas rápidas vamos tirar proveito e permitir com que nossas mentes trabalhem em certas questões para que elas não tenham liberdade excessiva para problematizar tudo.

Com atividades mais desafiadoras, o cérebro é recompensado com uma dopamina muito mais efetiva e poderosa, por isso quando dificultamos nossa vida fazendo exercício físico ou dormindo cedo, ao invés de madrugar com a tela  do celular acabamos facilitando a vida.

Outro exemplo muito relacionável é o famoso estudo de véspera de prova: quando deixamos tudo para o último momento possível acabamos nos prejudicando e estressando muito mais do que se houvéssemos sacrificado certos momentos de lazer com antecedência. Encorajo você leitor a dificultar sua rotina para que possivelmente facilite o encontro de alegria