Você provavelmente já sentiu alguma vez um incômodo quando seus amigos se reúnem e você não pode estar junto, porque está doente, tem que trabalhar ou qualquer outra razão. Esse incômodo tem um nome e estou aqui para explicar porque ele é  um dos grandes problemas da geração digital: FOMO ou Fear of Missing Out significa medo de perder alguma coisa, uma experiência, por exemplo, é o que move e enlouquece qualquer um com uma telinha na mão.
Você pode ir para todas as festas universitárias possíveis, mas pode apostar que justo aquela que você não for vai parecer ser a festa mais legal de todas. Todos os dias na faculdade podem parecer normais, mas logo no dia que você não vai, tem o Pedro Sampaio tocando na quadra!

Isso acontece porque com as redes sociais, o acesso à vida alheia fica muito mais fácil e é possível viver através dos olhos dos outros e do que eles querem mostrar. Esses sites e aplicativos são extremamente úteis e conectam pessoas de todo lugar do mundo de uma forma nunca vista no passado, mas seu uso excessivo pode ser mais nocivo do que parece.

No começo do ano, o aplicativo BeReal ficou mais famoso por sua proposta “inovadora”: em algum momento do dia, você recebe uma notificação e tem dois minutos para tirar uma foto através das câmeras traseira e frontal simultaneamente, que mostre o que você está fazendo no momento, sendo real, sem filtros ou edições. E, por mais que eu use o aplicativo todos os dias, confesso que ele está me deixando um pouco doida. 

Pense assim: a maior parte das notificações chegam à noite, quando todos estão reunidos em uma festa ou role e, obviamente, não são todas as vezes que se pode estar presente, então tem sempre alguém que não pode ir ou não foi convidado que vai assistir ao evento através da tela.

Assim, uma rede social feita para não causar ansiedades e comparações, por não permitir edições nas fotos, acaba fazendo exatamente isso. 

A rede segue uma proposta parecida com o Snapchat, em que a pessoa pode postar aquilo que ela está fazendo todos os dias, como era com os streaks, mas sua execução é um pouco diferente.

Mas o problema está no aplicativo ou na mentalidade de que a grama do vizinho é sempre mais verde? Inveja e ciúmes sempre existiram, não são problemas modernos, e é inato dar mais valor àquilo que não temos ou só perceber o verdadeiro valor de algo quando perdemos. 

Fica mais fácil culpar toda tecnologia que refletir sobre a mentalidade falha e comparativa que somos criados para ter desde muito cedo. 

É difícil analisar a proposta e o uso de uma rede social sem parecer um texto clichê de “larguem seus telefones e cheirem as flores”, mas ouso dizer que, mesmo sem telefones e com cheiro de rosas, continuaremos com as mesmas dificuldades. 

Gostaria de poder encerrar esse texto com apenas um bom conselho, mas isso faria de mim uma hipócrita. Apesar dessa rede social ser a fonte de grandes ansiedades, eu a uso todo dia. Apesar de saber que as festas que eu não vou não são tão diferentes daquelas que eu estou presente, eu ainda sofro. Mas o que é necessário é entender que o erro não está apenas na rede social, mas também na forma de usá-la.