Poesia Concreta: produto de uma evolução crítica de formas. Tensão de palavras-coisas no espaço-tempo; estrutura dinâmica, multiplicidade de movimentos concomitantes; visa ao mínimo múltiplo comum da linguagem.
As definições acima estão no plano-piloto para a poesia concreta publicado em 1958 por três jovens poetas: Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos, sendo o primeiro o mais produtivo e criativo dos intelectuais brasileiros em exercício.

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A Poesia Concreta sempre esteve próxima das artes plásticas e visuais, dialogando com os pintores concretos dos anos 50. Seus criadores buscavam explorar as potencialidades gráficas das palavras, incorporadas a fotografia, a colagem, o desenho e grafismos de toda ordem. O Concretismo na literatura foi um movimento tão radical e inovador que seus códigos se encontram hoje espalhados e absorvidos pela linguagem visual do nosso cotidiano.

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Basta ver com olhos livres, como propunha Oswald de Andrade, e veremos o concretismo espelhado iconicamente nas marcas de empresas, na publicidade, nas capas de livros e CDs, no design gráfico e nas ruas por meio dos grafites, pôsteres e placas de sinalização.

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Augusto de Campos, um dos pais da Poesia Concreta, acaba de inaugurar no SESC-Pompéia, a Mostra Rever, uma importante retrospectiva do conjunto de sua obra poética, muitas delas relidas metalinguisticamente em novos suportes, já que as composições verbivocovisuais do poeta lidam de modo multisensorial com as palavras, explorando os cruzamentos entre as linguagens (verbal-vocal-visual).

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Outra grande atração do evento é a possibilidade de (re)ver obras históricas exibidas tanto em seus suportes originais (serigrafia, colagem, desenho, estêncil, holograma, sobreposição etc), como em mídias digitais, conferindo a espacialização e o movimento que as obras sugerem.

A Exposição também comprova como o concretismo foi o grande responsável pela descompartimentação de linguagens, ou seja, a poesia concreta fez com que o verbal e o não-verbal, palavra, imagem e som, se interpenetrassem. Hoje se fala tanto em “intermídia” e “hipermídia”, e a poesia concreta, já na segunda metade do século 20, praticava tais conceitos.

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Não podemos esquecer também, que coube à Poesia Concreta, assim como a Semana de Arte Moderna, restabelecer o contato com a poesia das vanguardas européias, como o Cubismo, o Futurismo e o Dadaísmo: o novo e o antigo amalgamados numa poesia sem pátria, como sugere o próprio Augusto de Campos:

“Assim como há gente que tem medo do novo,
há gente que tem medo do antigo.
Eu defenderei até a morte o novo por causa do antigo
e até a vida o antigo por causa do novo.
O antigo que foi novo é tão novo como o mais novo novo.
A poesia é uma família dispersa de náufragos
bracejando no tempo e no espaço.”

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João Carlos Gonçalves (Joca)

Doutor em Linguagem e Educação pela USP; Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Professor de Fundamentos da Comunicação e Semiótica Aplicada na ESPM.

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