Recentemente, mudanças importantes ocorreram na indústria da música. Ao mesmo tempo que a Rolling Stone e a Billboard selaram um acordo que pode mudar a democracia das charts, o Spotify inovou a importância dos streams com seu próprio chart de álbuns e músicas, porém levando em conta os streams do próprio aplicativo.

Para começar a explicar a história, vamos contar quais são as personagens importantes desse caso. Em primeiro lugar temos a Rolling Stone, uma das mais famosas revistas que tem como conteúdo música, política e cultura popular. Ela faz parte da Penske Media Corporation (PMC), companhia que abriga, além da revista em questão, a Variety, a Music Business Worldwide, entre outras produtoras de mídia.

Em segundo lugar, temos a Billboard, uma revista semanal estadunidense que publica informações sobre a indústria musical e é reconhecida internacionalmente pelos seus diversos rankings, que classificam os álbuns e músicas em diferentes categorias, as famosas charts. Diferentemente da revista tratada anteriormente, essa faz parte da empresa Media Rights Capital (MRC).

O acontecimento recente que marcou a indústria foi a junção entre a PMC e a MRC, formando a PMRC. Essa união fará com que as operações diárias da PMRC sejam guiadas pela PMC. A Penske, que opera com publicações impressas e online relacionadas e focadas na indústria, vai ocupar os espaços e as operações da Billboard, da Hollywood Reporter e da Vibe.

Está sendo feita uma segunda união que se trata de um acordo de conteúdo que ativa o poder da infraestrutura de produção e experiência da MRC e a propriedade intelectual, ou seja, as invenções resultadas de criatividade da PMRC. A MRC, vai focar em adaptar essas marcas para outros formatos, em busca de novas oportunidades. Essa empresa tem histórico de participação e influência em diversos filmes, séries e programas de TV e poderá trazer essas relações para ambas.

É importante ressaltar que tanto a PMC quanto a MRC irão continuar seus trabalhos independentes fora da junção, mas o conteúdo pode se tornar muito parecido. O debate em questão, é o fato do já pequeno mundo de mídia de música estar ficando cada vez menor- ou maior dependendo do seu ponto de vista.

Como a Pitchfork trouxe, vivemos em um mundo em que muitas das editoras focadas em música desapareceram, como a The Fader, que não publicou esse ano; a Q que fechou esse inverno; a NME que parou de publicar revistas físicas em 2018, assim como a Vibe em 2014 e a Spin em 2012; entre outros exemplos. Duas das últimas restantes juntaram forças.

Há gente que diz que não vê nenhum perigo com essa junção, como o analista de charts e crítico da cultura pop Chris Molanphy. Ele diz que “a Billboard é a bíblia da music business; a Rolling Stone é uma publicação orientada para o público com um lado político e com um lado de cultura pop em adição a toda a música que ela cobre”, portanto a junção seria algo importante para os leitores.

O profissional disse que esse é um mercado muito imprevisível. Ao mesmo tempo que pode machucar os pequenos artistas, não se sabe o que está por vir, já que plataformas como TikTok podem mudar totalmente o rumo das coisas. Além disso, empresas que concorrem com a Billboard e a Rolling Stone poderão focar em pontos pouco abordados pelas empresas em questão para conseguir crescer, como mercados da Ásia ou da África, gerando mais oportunidades.

Obviamente, esse tipo de convergência representará menos escolhas para o consumidor, e uma preocupação é a centralização da indústria que geraria uma homogeneização no efeito de cobertura e menos democracia da informação.

Além dessa grande mudança, outra vista recentemente foi o lançamento da mais nova chart do Spotify. No dia 5 de outubro de 2020, a empresa começou a divulgar os álbuns e músicas mais ouvidos nos Estados Unidos e ao redor do mundo. Os diferentes tipos de paradas que serão lançadas são a Weekly Top 50, que celebrará as maiores músicas e os maiores álbuns no mundo e nos EUA cada semana; e os top 10 músicas e álbuns de lançamentos mundiais e dos Estados Unidos no Spotify, que mostra dados das primeiras 72 horas de lançamento do produto. As paradas estão programadas para serem lançadas toda segunda-feira no Twitter oficial da plataforma: @spotifycharts.

Um dos objetivos da plataforma com essa decisão foi mostrar o poder dos álbuns no app, dando importância a arte de criar um álbum completo, mostrando como os fãs se conectam com esse conteúdo. Portanto, a intenção deles é incentivar que artistas produzam cada vez mais álbuns. A marca quer separar um momento para celebrar o sucesso dos artistas, já que tanto trabalho e esforço não pode passar em branco.

Um possível efeito na indústria da música é o aumento da concorrência. Assim como o cenário foi abalado quando a Rolling Stone lançou sua própria lista de paradas e começou a competir com a Billboard, a nova lista do mestre de streaming, Spotify, poderá afetar a concorrência devido a sua grande influência. Por outro lado, para grandes e pequenos artistas, a nova lista será uma ótima forma de promoção que deve ser abraçada.

Podemos concluir que as novidades desse segundo semestre de 2020 podem impactar de maneiras distintas a indústria da música. Ao mesmo tempo que pode ser bom para concorrentes e para as empresas em si, pode ser ruim para pequenos artistas e para a democracia do mundo da música. A Pitchfork, no meio dessa discussão, lançou uma dúvida importante: Será que a mídia de música se transformou de vez na própria indústria de música? Além disso, o que podemos esperar desse aumento de charts, como vimos pelo Spotify?