A ida

Sorrisos. Trejeitos soltos, brincadeiras. Gente feliz pelo simples prazer de viajar. Para alguns, uma conquista. São sonhos, desejos e encontros. A vida que urge e pulsa na emoção de voar. Lado a lado, senhores engravatados e famílias esportivas. Cada um com um destino, um caminho. Os que parecem neófitos pensam da maravilha que é estar ali. Os executivos sofrem com o atraso regulamentar. Seja o sonho e o prazer da viagem, seja o dever do trabalho, ao taxiar a aeronave, há esperança escancarada e cada um ao seu modo pensa na sua felicidade. Uníssona aos motores, a vida urge naquelas asas do trem que voa.

A estada

Ajeita a gravata e abotoa o paletó. Engole seco e fala, mostra, convence. Idéias, parte suas, objetivos corporativos. Interesses da empresa. Tanto stress e pressão para vender idéias que fazem mais dinheiro para os outros. Bolso vazio, ego cheio, projetos e esperanças vãs. A vida ecoa pelo todo de fora do vidro fechado pelo ar condicionado. Enquanto isso, o prazer fugaz do palco executivo engole o humano. Os dias passam e os olhos se acostumam aos vincos do tempo no espelho. E ele se diz mais uma vez que hoje é o seu dia!

A volta

A pista está solitária, diferente do burburinho da manhã. O ruído das turbinas e o bafo quente do asfalto molhado após um dia de sol. Querosene. A noite calma e o Pão de Açúcar iluminado, tradução perfeita da magia desta cidade. Gente que embarca, gente que salta. Esperança nos olhos. Cada sacola, cada pasta executiva esconde o que são, o que os levaram a viajar e onde estão apostando. Um colo, a última ponte aérea. Lar, retorno, regaço. É possível perceber valores e afetos em contraponto. A aridez cruel dos negócios e a devoção ao prazer. Vida e dever. Ser e fazer. As turbinas se movimentam. Ruído que aplaca a ansiedade. Que cala a expectativa. Que ensurdece o grito: Vida, aqui vou eu. Amor, eu tô chegando!

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Paulo Cunha

Experiência profissional como: publicitário em agências de propaganda (22 anos), docente (15 anos) e psicanalista (dois anos). Doutorando em Comunicação pela ESPM-SP. Formação em Psicanálise pelo CEP (Centro de Estudos Psicanalíticos). Mestre em Comunicação. Especialização em: Formação de Professores para o Ensino Superior em Marketing. Graduação em Comunicação Social. Áreas de pesquisa: pensamento estratégico, comportamento humano e cinema. Autor do livro “O cinema musical norte-americano – história, gênero e estratégias da indústria do entretenimento” e Coordenador do curso de Comunicação Social da ESPM/SP.

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