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O Pavilhão da Armênia ganhou o leão de ouro da 56ª Bienal de Veneza, como melhor participação nacional no evento. O espaço expositivo, por si só, já é uma obra de arte: o pavilhão ocupa a pequena ilha de San Lazzaro, completamente ocupada por um mosteiro da Ordem Mequitarista fundada no século XVII; a ilha é um dos principais centros mundiais da cultura armênia. Seu Isolamento a transformou em um local ideal para a estação de quarentena e colônia de leprosos fundada no século XII, recebendo o nome de São Lázaro, padroeiro dos leprosos.

San Lazzaro abriga uma biblioteca 150.000 volumes, bem como um museu com mais de 4.000 manuscritos armênios. No início do século XIX, foi ali que Lord Byron estudou armênio, e onde muitas obras importantes da literatura europeia e textos religiosos foram traduzidos para essa língua.

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Na mostra podemos perceber que a curadora Adelina Cüberyan Fürstenberg, suíça de origem armênia, pretende ressaltar conceitos como deslocamento e território, justiça e reconciliação, através de obras que revelam o quanto esses artistas da diáspora — ligados afetivamente aos sobreviventes do primeiro holocausto do século XX — carregam de memória e identidade.

Os 18 artistas convidados para o pavilhão são descendentes de armênios. A instalação da brasileira Rosana Palazyan chama a atenção ao ocupar o jardim interno do monastério, com a delicada e tocante obra “Por que daninhas?”, que apresentam figuras de plantas cujas raízes são bordados feitos a partir de fios de cabelo humanos sobre tecido e formam uma frase poética que dialoga com a imagem. A violência é tema recorrente do trabalho da artista — principalmente a doméstica, contra menores e contra a mulher. Muitas vezes ela usa o bordado, que aprendeu com uma de suas avós, para realizar obras em que a delicadeza da forma contrasta com uma narrativa de estupros e agressões.

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Várias das obras expostas acabam por criar uma relação dialógica com o próprio espaço expositivo: o píer, a biblioteca, a capela, a sala de leitura, os jardins. Nós espectadores somos convidados a uma travessia onde a memória coletiva e individual acabam por se unir em uma única narrativa que, por sua vez, também nos convida à contemplação silenciosa e à reflexão.

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João Carlos Gonçalves (Joca)

Doutor em Linguagem e Educação pela USP; Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. Professor de Fundamentos da Comunicação e Semiótica Aplicada na ESPM.

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