Cada vez mais nossa principal motivação para fazer qualquer coisa (e, consequentemente, para avaliar o sucesso de realizações alheias) é a quantidade de “likes” e “shares” recebidos.

A relevância de criações artísticas fora das redes sociais vai perdendo força frente ao seu valor dentro destas. Estamos nos tornando escravos de Tweets e Retweets.

O buraco, aliás, é mais embaixo: consumimos informação cada vez mais mastigada e resumida, ao ponto de sites de “listas” estarem entre os que mais crescem em acessos ultimamente e muita gente está seguindo nessa onda.

Mas voltemos ao problema inicial: nossa vida está cada vez menos atrelada ao “ser” e mais ao “parecer ser”. O que importa hoje em dia é que os outros pensem que somos algo e o que somos realmente tem menor importância.

E que lugar melhor para que esse comportamento seja expandido ao máximo do que nas redes sociais, onde somos “curadores de nós mesmos”?

O problema é que vamos cada vez mais deixando a vida real de lado em prol de ensaiar e montar as cenas que expomos online, retratando a “vida” que queremos ter (ou mostrar para os outros).

O músico belga Stromae, um dos maiores nomes francófonos da música “falada” e que mistura hip hop, música eletrônica e música tradicional francesa e belga, lançou recentemente o clipe “Carmen”, que trata exatamente dessa nossa dependência patológica de redes sociais.

A carreira do cantor, apesar do descompromissado hit “Alors On Danse”, é pautada por canções críticas à sociedade e à violência. E não é para menos: filho de pai ruandês, cresceu na Bélgica sem jamais sentir-se realmente parte do grupo em que estava inserido. E mais: seu pai foi morto durante a Guerra Civil de Ruanda em 1994, deixando sua mãe sozinha para cuidar dele e de mais 3 irmãos.

A direção do clipe fica por conta de um dos melhores animadores da atualidade, o francês Sylvain Chomet, conhecido por Bicicletas de Bellevue (2003) e O Mágico (2010), ambos indicados ao Oscar.

O estilo inconfundível do francês já serviu até para uma abertura dos Simpsons (que já apresentamos em uma lista sobre as aberturas do desenho) e é pautado por desenhos a mão e animação quadro a quadro, com alguns poucos elementos inseridos digitalmente.

Aqui uma ideia do processo de produção de suas animações:

Seja criticando a sociedade ou nos maravilhando com histórias fantásticas, parcerias entre pessoas excepcionais têm a feliz tendência a render frutos bastante interessantes.

Minha barba. Minha vida.